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quarta-feira, 9 de outubro de 2019

EUROFRONTEIRAS - "El Gondarinito" e suas faenas ou touradas em terras do Alto Minho


Exibia-se orgulhosamente o bilhete para a grande “faena ou tourada” a realizar, por ocasião das grandiosas festividades de São Bento em Seixas de Minho, terra fértil e agrícola do concelho de Caminha. Única tourada a realizar por bandas da Galiza, em solo luso, engrandecia-se, ainda mais, com a chegada do grande toureiro anunciado, cujo nome adotado surgia, em letras maiúsculas, como “El Gondarinito".          

Se este cognome se refugiava na sua forma "espanizante", refulgia esplendorosamente na sua origem de um antigo homem do Norte, cujo território tinha precisamente como epónomo da sua territorialidade - Gunderedo. Por isso, o entusiasmo antecipado e a sua ânsia, corroíam os corações daqueles a quem o devido preito devia ser prestado, não só pela coragem e ousadia do toureiro, como pela sua fama espalhada de tal arte apregoada.   

Incógnito, nas suas artes tauromáticas pelos seus patrícios ou conterrâneos, porventura, já conhecido nas praças lisboetas que, porventura, já o tinham consagrado, emergia na arte do toureio como – “El Gondarinito” – que não sendo qualquer imagem ou personificação do antigo viking Gunderedo, retomava seu nome nas suas origens a sua terra natal como recôndito, consagrado, e predilecto cognome. 

Se, dúvidas houvesse, a atestar as qualidades e perícia na arte do seu toureio e suas lides, bastavam os esforços e a confiança do seu empreiteiro e conterrâneo Guerreiro, que se prontificou para erguer as barricadas da futura praça de toiros em verde e cheiroso pinho, cujos ramos de madeira embelezavam a a margem do rio Minho. 

A venda de bilhetes atestava e acabava, portanto, de certificar, quer pelo anúncio de tão ilustre toureiro, quer pela construção da dita praça de touros, que a tourada anunciada realizar-se-ia com pompa e circunstância, no sítio e local assinalado. Assim, os conterrâneos sentiam-se orgulhosos pelo seu “filho da terra” que engrandecia o seu solo e as suas gentes com esta "faena", proeza que deixaria estupefactos os seus vizinhos, para mais realizada nas suas barbas. 

Deste modo, quem assistia a esta exibição de compra de bilhetes vibrava antecipadamente com a ovação que estas faenas despertam nas sedentas multidões, amantes do toureio.

 A engalanada praça de touros estava repleta, redondamente cheia de ávidos e atentos espectadores -  novos e recentes amantes da arte taurina - que entretanto se deliciavam com o intróito de uma fraca exibição de um "rodeio" que era feito por umas “vaquinhas galegas” que entretinham o público. Somente faltava o bravo touro, ou, o touro bravo e o seu comandante, para desencadear os primeiros "olés", os primeiros “vivas", a primeira e grande ovação de palmas, no movimento de “capa e espada” que “El Gondarinito” devia desembainhar para gáudio da multidão. Os corações estavam ávidos pela explosão das bandarilhas no ar, e, pelo grito sonoro do “olé, olé, e, mais olé a -El Gondaranito”. 

A tarde quente estendia-se sob a brisa do mar e o estuário do rio, que conjuntamente com os anselos da multidão  ansiavam, freneticamente, pela aparição de “El Gondarinito” . Se não era dilúvio era uma torrente tropical que invadia muitos ardentes corações por essa apoplexia final. 

O anúncio do toureiro tardava ao som do estridente cornetim, e um silencioso murmúrio percorria a praça engalanada de verdes ramos estendidos nas suas escadas de madeira improvisadas. 

Languidamente, a brisa do mar acalentava uma nefasta noticia, que o questionamento erguia em lamento:.............                     

 Onde está o toureiro?...  

Onde está “El Gondarinito? ....................... 

Os corações dos seus conterrâneos batiam com mais força, tremiam de pavor e ansiavam até ao infinito:                              “El Gondarinito”, ...onde estás nosso “El Gondarinito!..." ..../...

P.S. Os ecos desta tourada ficaram nos anais da história popular, aos quais o “Jornal Cerveira Nova” não resistiu, após quarenta anos da sua proeza. Por isso, em 20-08-2001, este semanário  relatou o seu desaparecimento, num acidente em         Olhão. Com dois lustres e meio de vida – El Gondarinito – protagonizou a mais famosa “festa brava” pelos territórios à beira Minho.












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