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terça-feira, 2 de março de 2021

EUROPOLITIQUE: Pequenos lugares com história, nos seus "moinhos de água" e nas suas encostas


O “Beco do Regueiro”, junto ao lugar da Sobrosa, encaminha-se para o mais caudaloso ribeiro existente nesta localidade, ou seja, na freguesia de Gondarém.   As suas águas brotam no lugar altaneiro de Mangoeiro, e estendem-se até à suave planície do rio Minho, em cujo acidentado "curso de água", foram construídos, mais de uma dezena de moinhos, de variados feitios e formas de aproveitamento. Ao lugar do "Regueiro" associa-se uma família, com tradição.

Um dos últimos sobreviventes desta família, mais conhecido como “João do Regueiro”, tinha o nome do seu avô, João Pereira do Regueiro, falecido em 12 de setembro de 1879. A sua esposa, Ana Rosa da Silva, “moradora em Sobrosa” enviou e pediu um “inventário de menores por óbito” de seu marido. Cf. (Arq. Distrital de Viana do Castelo, 1879-01-01).

A história da criação dos “moinhos de água” circunscreve-se ao século X  que, conjuntamente, com a introdução de outros cereais, rejuvenesceram a população ativa, aumentando a sua população. A influência dos árabes, na introdução do arroz e outros cereais e frutos, teve a sua influência. Na Idade Média, os “moinhos de água” são uma peça chave na alimentação das suas gentes, já que o pão era, muitas vezes, a base essencial da sobrevivência.

Em 1858, surge um "Auto de Querela" contra José Pinto Taxeiro, morador na freguesia de Gondarém, Vila Nova de Cerveira, «por causa de ter em seu poder a chave que tinha furtado ao moinho da Pequena, uma gazua e um ferro com asa e respetivo cabo». Processo, vindo do Tribunal Judicial de Caminha, em 2 de Abril de 2009. Cf. (Arq. Distrital de Viana do Castelo).

Aliados aos “moinhos de água” estão os casais, ou, pequenos núcleos de pessoas, que são responsáveis pelo antigo povoamento, oriundo da Idade Média. Nos “casais” medievais estavam os “foreiros”, ou “caseiros”, com várias famílias, que se tornavam “cabeças de casal”, sendo responsáveis pelos impostos ou rendas, quer dos senhores feudais, quer dos senhores eclesiásticos.

A antiga edificação da “Casa do Regueiro” remete-nos para velhas e antigas construções, que remontam aos períodos da Idade Média; quer pela sua proximidade aos moinhos de água,  quer pelo seu lugar altaneiro. A casa, edificada a meio de uma encosta, dominava todo o acesso aos vários moinhos da redondeza, cujo uso, posse e propriedade era de origem comunitária, ou, de alguns senhores da Quinta da Loureira.

O apelido, cognome ou alcunha de “Regueiro” deve-se, em nossa opinião, ao grande e extenso ribeiro de água, que jorra desde o alto de Mangoeiro até esta última encosta, tendo no meio do seu curso, um “baldio”. Por isso, o antigo “Casal do Regueiro”, cujas origens se fundem na Idade Média, tinha um “Cabeça de Casal”, cujo nome se transporta como identificação do local. Assim, as leiras e os “moinhos de água”  que rodeavam este “Casal”, cujo ribeiro corre sem nome, misturou-se, irmãmente, com “Regueiro”.

A simplicidade deste lugar e o seu natural bucolismo, com as suas encostas verdejantes e os seus moinhos, por onde serpenteia, caprichosamente, este extenso ribeiro, remete-nos para uma obra meritória de conforto e apoio aos órfãos de Gondarém. Por lei de 15 de outubro de 1827 são criados os inventários obrigatórios, cuja norma diz o seguinte: - «creando os Juizes de Paz em cada Freguezia ou Capella Curada». Assim, em 1839, surge a criação deste livro, com o seguinte registo: «Juízo de Paz e Órfãos da Freguesia de Gondarém», que é maioritariamente constituído por processos de inventário de menores”.  Cf. (Arq. Distrital de Viana do Castelo o1.01.1839)

A sua criação advém desde D. Manuel I, revogados por Carta Constitucional de 1826 “que introduziu os tribunais ou julgados de paz”. Estes “tribunais ou julgados de paz”, visavam defender os menores, evitar conflitos e assegurar a paz social. Posteriormente, a sua função conciliatória ficou regulada pela Lei 78/2001, de 13 de julho.  Estes inventários orfanológicos podem ser consultados, sob licença, no Tribunal Judicial de Caminha, ou, de Vila Nova de Cerveira. Em 1828, Brás António Gonçalves Outeiro foi eleito “Provedor da Santa Casa de Misericórdia” de Vila Nova de Cerveira, cargo que exerceu durante dois anos. E, segundo reza o seguinte documento: «Foi juiz de paz e órfãos da freguesia de Gondarém, em 1839 Brás António Gonçalves Outeiro.  Cf. (Arq. Distrital de Viana do Castelo, 1839).

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