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sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Historiografia de António José da Rocha e Hollywood

 


            Hollywood  West and António José Rocha

- Período colonial espanhol 

No ano de 1815, com 25 anos de idade, António José Rocha rumou aos USA. O grupo deste jovem era constituído por dez pessoas, de cujo rasto não resta memória, exceto deste homem de Santiago de Sopo, concelho de Vila Nova de Cerveira.

Somente, mais tarde, após treze anos da sua chegada, em 1828, o seu nome aparece associado ao “Rancho La Brea”, em Porciúncula - terra partilhada por índios, mexicanos e espanhóis, na costa do Pacífico. Após uma década de esforços e trabalhos consegue, conjuntamente, com Nemisio Domingue, a concessão desta extensa propriedade, com a área de 4439 acres, ou seja, 1796 hectares.

 “Belo Rio”, foi o nome inicial deste povoado, que desponta para a história, em 1769, pelo batismo do padre franciscano Crespi. Aliás, a fundação da Alta Califórnia deve-se à expedição de Gaspar Portelà (1760-1770), que garantiu a legitimidade territorial para a coroa espanhola, pelo menos, até ao ano de 1821 (Independência do México). Portanto, António José da Rocha, esteve meia dúzia de anos debaixo do domínio espanhol, usufruindo de certas regalias destes colonos (por ex. isenção de impostos).

 Em 1781, viviam nesta localidade 44 pessoas, distribuídas por 14 famílias, quando adquire este nome pomposo, de origem e referência franciscana, atribuído por Felipe Neve: “EL Pueblo de Nuestra Señora la Reina los Ângeles del Rio Porciúncula”.

Em 1784, este povoado, com uma área de 1600Km2, foi totalmente destruído por qualquer invasão de índios, ou, terramoto, do qual não há registo. O número de indígenas, nesta região, era bastante numeroso.  Mas, novamente, no ano do nascimento de António José da Rocha, em 1790, já residiam 141 pessoas.

 

   - Período mexicano 

Volvidos trinta anos, em 1820, esta localidade torna-se numa grande comunidade civil da Califórnia. com os seus 650 residentes. No ano seguinte, o México declara a sua independência, em 1821. E, no ano de 1822 foi construída a primeira e única igreja católica da localidade. Ora, sete anos antes desta data, tinha chegado o jovem português a este povoado, que facilmente se integra nesta comunidade, e, na sua religião.

Em 1828, surge o primeiro pedido da concessão do “Rancho La Brea”, em Porciúncula, após 13 anos da sua entrada em terras da Califórnia. “Porciúncula” significa uma pequena parcela de terra, muito pequena, que faz alusão a uma dádiva de terreno, obtida por S. Francisco de Assis, para a construção de uma capela com o seu oratório. Contrariamente a este exíguo “palmo de terra”, ressurge a concessão do extenso terreno por António José da Rocha, que se torna num grande latifundiário e fazendeiro, através do seu “Rancho La Brea”. Presume-se que a área desta extensa propriedade abrangia 4439 acres, ou seja, 1796 hectares, rondando os 18 km2. Consta que, em 8 de abril de 1828, o “Rancho la Brea” foi concedido a António José Rocha, e, a Nemisio Dominguez pelo representante do governo mexicano, através de um documento dirigido ao alcaide desta cidade, José António Carillo. Todavia, em janeiro de 1828, já tinha sido enviada uma petição ao governador da Alta Califórnia, Jose Maria Echeandria. Presume-se que o pedido de concessão desta extensa propriedade visava salvaguardar os seus bens da expropriação, já que uma lei de 20 de dezembro de 1827 do governo mexicano, determinava a expulsão de todos os espanhóis, com menos de sessenta anos.

A “presumível licença” de concessão sobre a propriedade estava condicionada ao livre acesso dos seus habitantes aos poços de petróleo, que brotavam em pez ou alcatrão, de onde surge o nome “La Brea”. Desconhece-se o valor e forma de pagamento do dízimo ou impostos menores, sobre a colheita de cereais, ou, criação de gado, que rondariam os 5%, e, se revertiam para o governador ou município. Desconhece-se as suas sanções e as formas como estas obrigações eram cumpridas.

Nestes tempos, a lei de terras era um tanto obscura, embora, na sua generalidade, fosse pertença do estado mexicano; e, o sentido de propriedade estava dependente da sua concessão ou exploração. Nesta altura, o único detentor do “Rancho La Brea” era António José Rocha, após a compra ao seu anterior sócio. Por isso, para renovação da concessão deste rancho pede-se um novo título de propriedade, que foi confirmado pelo governador mexicano Juan B. Alvarado, no ano de 1840. Ao fim de 35 anos da sua chegada à Califórnia, António José Rocha torna-se no único senhor do “Rancho La Brea”. Presume-se que, na ausência de conflito de interesses, durante mais de vinte anos, os compromissos e as obrigações desta propriedade foram cumpridos. Entretanto, surge a guerra entre USA e o México (1846-1848), em que este país perde 40% do seu território, com a promessa de perdão de dívidas e 13 milhões dólares de indemnização da parte americana.


    

       - Período americano - USA

A passagem de terras da jurisdição mexicana para o domínio americano não foi pacífica. Por isso, alvitra-se que nos acordos posteriores, em 1853, o governo mexicano intercede a favor da extensa propriedade de António José da Rocha, tendo em conta o “Tratado de Gudalupe-Hidalgo de 1848”. Todavia os meandros, bastante sinuosos, na luta pela sua posse do “Rancho La Brea” são bastante atribulados, dispendiosos, e, muito pouco, claros. Em 4 de abril de 1850, Porciúncula torna-se cidade americana, e, a Califórnia o 31.º estado dos USA.

A “lei de terras de 1851”, segundo este tratado. entre ambos os países, previa que os compromissos fossem honrados e que as concessões fossem mantidas.  A concessão do “Rancho La Brea”, até ao ano de 1951, perfazia 33 anos de exploração, período em que não se registou qualquer anomalia na sua relação com o ajuntamento, ou, governador mexicano. Por isso, em 1852, conjuntamente, pai e filho, José Jorge da Rocha, casado com Josefa Merced de Jordan apelaram para uma confirmação da concessão de propriedade junto da “Comissão de Terras Públicas”. Inicialmente foi aceite, mas passados oito anos foi rejeitada, ou seja, no ano de1860. Nestes anos, a Califórnia começa a ser invadida por trabalhadores chineses e garimpeiros.

A partir de 1860, surgem os conflitos com as autoridades judiciais americanas, ainda que a concessão de propriedade estivesse concedida a António José Rocha durante 42 anos, quer sob dmínio mexicano ou americano. Face à sua litigância judicial parece que a propriedade começa a estar penhorada, em dois terços da sua área, por volta de 1860. Presume-se que, à volta de 1000 hectares, sejam penhorados a favor do seu advogado Henry Hancock. Em 1865, graças ao empenho deste advogado começa a ser reconhecida, provisoriamente, como propriedade privada.

Em 24 de janeiro de 1867, morre António José Rocha, na casa de sua filha, Concepción Higuerra. (publicação - necrologia do jornal "Los Angeles Times"). Deixou viúva Josefa Alvarado, de origem hispânica, de quem teve três filhos: José António, José Jorge e Conceição. Natural da freguesia de Sampaio de Sopo, concelho de Vila Nova de Cerveira, nasceu a 18 de Janeiro de 1790, sendo  filho de Félix Carlos Rocha e Maria José Lima. Homem dos sete ofícios, muito elogiado na sua comunidade, bom carácter, o seu maior negócio foi a ferraria, (A sua casa, primeira estrutura local de habitação, foi considerada património da cidade em 1958, e, de interesse cultural e histórico em 1963). Outro português, famoso na Califórnia, foi João Rodrigues Cabrilho, que ao serviço da coroa espanhola desembarcou na baía de San Diego, em 1542.

Em 1870, com dez anos de contencioso, as despesas judiciais foram de tal ordem, que o advogado Henry Hancock desembolsou 20.000 dólares, como forma de pagamento, de certas contribuições, ditas mexicanas. Hancock montou escritório nesta região, em 1847, e, ao fim de três anos tinha comprado um rancho.

Em 11 de novembro de 1872, uma parcela do “Rancho La Brea” transita definitivamente para José António Rocha, assessor do major da cidade de Porciúncula. Convém recordar que havia constantes batalhas sobre quem era o dono da terra, que no caso da família Rocha, se tornavam anormais.

Finalmente, em 1873, após grandes somas de dinheiro em despesas judiciais, reaparece um novo veredito judicial em que é dada a concessão de propriedade, a título definitivo. Da extensa propriedade ficou uma pequena parcela para a família Rocha, passados 55 anos, desde o seu primeiro pedido de concessão. A problemática de legalização de terras envolveu outros fazendeiros que reclamando as suas terras, ficaram sem dinheiro por causa dos exorbitantes custos judiciais. Convém recordar que havia constantes batalhas sobrem quem era o dono da terra. Desde então, são famosos os “escritórios de advogados” nos USA. 

          -  La Brea Ranch  and  "La Brea Tar Pits"

O “Rancho la Brea”, com o seu famoso “La Brea Tar Pits” foi sempre objeto de inveja e disputa dada a riqueza que escondia. Além da extensão da propriedade e dos seus recursos agrícolas, escondia petróleo e ouro no seu subsolo. A sua extensão correspondia a18 km2, que abrangia 1.798 hectares de área, os tais apregoados 4444,4 acres. Num desenho, mais aproximado da sua quadratura, teria um comprimento de 5 km por 4,5 km de largura. Nesta propriedade surgiu a primeira estrutura familiar desta região, ou, a casa de António José Rocha. Os seus barracões de alfaias agrícolas tornaram-se” famosos” pelos primeiros estúdios do “cinema mudo”, em 1909. Mas, a inveja e avidez dos seus recursos naturais desalojou os seus legítimos proprietários, negando-lhes a sua posse. Se, a terra aos “índios” pertencia, quem a desbravou merecia um maior reconforto na sua fruição. Um dos seus filhos, José António Rocha II, assessor de comarca, conseguiu assegurar 100 acres da antiga propriedade familiar, ou, seja 88,75 hectares do “Rancho La Brea”, segundo certas referências

Deste modo, as artimanhas da burocracia e do direito fizeram com que os seus proprietários se remetessem às limitadas regras da sua humilhante reclamação, com gastos exorbitantes. Na nossa análise, três fatores contribuíram para este desfecho. O primeiro, era a ausência do direito de propriedade privada, conjuntamente com as taxas ou impostos a pagar. O segundo, era a falta de legislação definida sobre o conceito de propriedade e os respetivos mecanismos jurídicos para fazer valer qualquer lei sobre a sua posse. O terceiro, era a instabilidade política que pairava sobre o território na Califórnia. Sob controlo militar, nos poderes (legislativo, judicial e executivo) reinava uma certa confusão na sua aplicação por causa das regras mexicanas e americanas. Neste litígio sobre o sucesso do título de concessão de terras perante a Suprema Corte, o ex-senador dos Estados Unidos, Cornelius Cole recebeu uma décima parte da propriedade, ou seja, perto de 500 acres, ou seja, 180 hectares.

Em 1887, através do registo de uma propriedade, H. J. Whitley dá-lhe o nome de Hollywood. Henry Hancock, advogado e agrimensor, rapidamente, solucionou o problema das dividas pagas sobre o” Rancho La Brea”, quando encontrou uma rica mina de ouro. Graças aos seus negócios e ganhos  fez várias ofertas à cidade, onde estão incluídos os “poços de alcatrão de La Brea”, que são um “marco natural nacional”  Mas, a empresa de petróleo “La Brea Oil Company” tornou Madame Id Hancock Ross a mulher mais rica da Califórnia, segundo o jornal "Los Angeles Times" 

. J. Warner, no seu "Livro de Memórias", trata-o como amigo "el portuguese": «Da Rocha era um empresário que sabia como cultivar amizades, um indivíduo gentil, disponível para ajudar". Os nitratos de prata revelavam-se em esplêndidas imagens, graças à luminosidade da Califórnia, nos seus contrastes de sombra e luz, aos quais se juntam as terras de Antônio José da Rocha, na epopeia do "cinema mudo". «Esta cidade tem o nome que merece. Vive-se uma vida azul, uma vida suspensa, uma vida clara e pura. O céu fica próximo da terra. Hollywood é o entroncamento das mil e uma noites». (cf. António Ferro, "Hollywood, Capital das Imagens, Ed. Portugal/Brasil, 1931). Mas, a história de Hollywood West ficará sempre ligada a António José Rocha, da freguesia de Sampaio de Sopo, concelho de Vila Nova de Cerveira.

       

      

 


sábado, 3/10, 22:28

Boa noite Sr,

Obrigado pelo trabalho apresentado sobre o Sopoense Antóno José Rocha.

Cumprimentos,
Luís Araújo



freguesia de sopo






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