E pelas “Alminhas do Pedroso”,
E, sem qualquer “Harpa da Tumba”
Que, no teu caminho, nunca esqueças
Esta” terra de lobos” e abadessas.
Remonta aos anos de 1258, a sinalização desta povoação, tendo
como origem um “pequeno couto” dependente de seus patronos ou padroeiros,
senhores leigos ou eclesiásticos, cuja notoriedade se forja com a fundação de
um convento de origem feminina. O “couto per padroes” significa um território privilegiado,
muitas vezes, ligado a um mosteiro, cuja entrada estava sob licença do seu
mordomo, neste caso, da sua abadessa. Implicava, também, uma separação entre o
religioso e o temporal, entre o convento e os casais; por isso, tinha o sentido
de marco ou padrão. A referência
documental das Inquirições de 1258 assinala este povoado como um “couto feudal”,
que dá origem a um convento de freiras noviças ou seculares, no lugar do Pedroso. Portanto, é desde
o século XIII que, através do consagrado Caminho de Santiago, se abriam as
portas aos seus peregrinos, cujos cuidados estavam dependentes destas freiras,
além do trabalho agrícola que se desenvolvia neste local. Também, desde o ano
de 1320 que o Catálogo das Igrejas do Bispado de Tui faz referência ao Mosteiro
de “Sancte Marine de Lovho” (Santa Marinha de Loivo), cujas taxas ascendiam às
200 libras.
Como, nestes tempos a riqueza vinha da natureza, certamente
que o dito convento tinha rendimentos para pagar essas taxas. Sob a tutela da abadessa do convento de Santa Marinha foi lavrada uma generosa doação de Álvaro Dias, abade de Mangoeiro, a favor de um hospital em Cerveira, no ano de 1444. Todavia, o
convento de Santa Marinha, ou, simplesmente, a “casa de religiosas”
beneditinas, foi anexado ao mosteiro de Santa Ana de Viana do Castelo, em 2 de
outubro de 1529, após a renúncia da sua abadessa D. Francisca da Nóvoa, com o
beneplácito do Papa Clemente VII, e, confirmação do rei D. João III, em 1530. A
partir do século XVI, “a vigararia” de Loivo foi ocupada por António Enes, e, retificada
posteriormente, segundo cópia do Censual de D. Frei Baltasar Limpo, com data de
1580. Portanto, a jurisdição de vigário implicava uma dependência ou a
subordinação a alguém, tal como, anteriormente estava o exercício de poder da
abadessa.
O século XVIII marca definitivamente a transição da paróquia de Santa Marinha de Loivo. O lento desaparecimento do seu mosteiro dá origem à construção da igreja atual da paróquia, cuja torre sineira já foi acabada no século XIX. A construção da igreja paroquial é um marco histórico, não só para a freguesia e seus habitantes (pela sua arquitetura), como também para o contributo dado pela família Costa Pereira na continuidade da fé religiosa. Dela rebentam os lídimos defensores ou arautos da sua fé, através da geração de padres que a ela se associam. Sem os brasões de armas da Quinta da Torre ou da Quinta do Vale, esta família burguesa que nada deve à fidalguia, tornou-se o baluarte da fé católica. É de 1802, a Carta de Recomendação, indicando que o Padre Manuel da Costa prestará serviços religiosos à freguesia de São Pedro de Gondarém, pelo tempo de quatro meses. Esta Carta tem a sua origem na comarca de Valença, para recomendação na Igreja e Abadia de Gondarém. O último rebento desta família foi Evaristo José da Costa Pereira, que em 1945, foi presidente da Santa Casa de Misericórdia de Vila Nova de Cerveira, e dedicou-se ao Hospital de Cerveira. Já, em 1915, seu pai, Luís Maria da Costa Pereira (1875/1951) tinha exercido idênticas funções, residente na “Casa da Aldeia”. Família abastada, religiosa convicta, nada devia à nobreza, e, grande parte da sua fortuna e bens tiveram a sua origem em terras do Brasil.
Canta-se pelo poema de Rosa Varela
E pelas “Alminhas do Pedroso”,
E, sem qualquer “Harpa da Tumba”
Que, no teu caminho, nunca esqueças
Esta” terra de lobos” e abadessas.
Fontes:
Arquivo Distrital de Braga
Arquivo da Freguesia de Santa Marinha de Loivo
Arquivo da Santa Casa de Misericórdia de Cerveira
Jornal Cerveira Nova