- Século XIII
Uma pequena e singela ermida, em plena
encosta do monte da Pena, favoreceu a construção de um convento dedicado ao
santo “milagreiro” San Payo. Os alvores deste convento apontam para a construção
de uma pequena ermida, dentro do espírito franciscano. Ora, os “frades menores”,
apesar da sua primeira e “má impressão dos seus andrajos”, chegaram a Portugal
entre os anos de 1214 a 1217. A recente Ordem dos Frades Menores foi criada por
São Francisco de Assis, em 1209, sob bênção do Papa Inocêncio III. Após cinco
anos da fundação desta ordem religiosa, já, os seus seguidores rumavam em
direção a Santiago de Compostela, de cuja romagem de penitência e oração, se
presume, que nasceu este simples “ermitério ou oratório”, erguido nas serranias
do monte da Pena. Nas fraldas da serra, numa área mais fresca e húmida do monte
da Pena, protegida dos ventos do Norte, onde uma fonte nascia, ergueram-se as
simples “casas de pedra e colmo” que deram origem ao futuro convento de San
Payo. Aos Frades Menores associavam-se, por vezes, comunidades femininas, e
neles se agrupavam leigos que pretendiam seguir o espírito de São Francisco.
- Século XIV
Segundo certos relatos históricos, consta-se que foi Frei
Gonçalo Marinho quem fundou o Convento San Paio, por volta de 1392, num local
de difícil acesso, cuja balaustrada paisagista se encena com a sua bela
panorâmica sobre o rio Minho. Mas, é graças ao Papa Bonifácio IX, que, em 6 de
abril de 1392, se autoriza que as humildes “casas religiosas” possam ter refeitório,
oratório, torre sineira e outras divisões necessárias à digna condição humana,
em lugares honestos e decentes, para elevação espiritual. Além disso, o “Grande Cisma do Ocidente”,
ocorrido pelos anos de 1378, contribui para a obra destes frades oriundos da
Galiza, já que a Espanha se liga ao Papa
D’Avignon, e, Portugal permanece ligado a Roma, (embora este convento de San
Payo se insira na renovação do espírito franciscano, e, se mantenha na dependência da organização religiosa da Província de Santiago, por obra dos frades renovadores).
«O movimento observante em Portugal, fundado em 1392, por frei Gonçalo Marinho, Frei Diogo Árias e Frei Pedro Dias contava com cinco eremitérios: Santa Maria de Mosteiró (Valença), São Francisco do Monte (Viana do Castelo), São Paio de Cerveira (Vila Nova de Cerveira) e São Clemente das Penhas (Leça da Palmeira). (Cf. Junta de freguesia de Leça da Palmeira)».
O isolamento e a
solidão colidem neste local, e, isto acontece, não só, no convento de San Payo;
como também, no convento da Ínsua, em Caminha, (onde um simples poço de água
doce é condição suficiente para se erguer um ermitério). Lugar de meditação e
oração, o isolamento e o silêncio rodeiam estes conventos, onde se respira e
aspira o ar divino, por todos os lados e por todos os poros. Sem dúvida, que o
século XIV é um marco histórico deste convento. Ainda que, o seu começo se deva
aos religiosos provenientes da Galiza, cujo entusiasmo deriva da romagem e dos
Caminhos de Santiago, dos quais resulta a sua filiação, não quer dizer que outros
penitentes não tenham criado o seu oratório, anteriormente. Por isso, este é
quarto convento construído, em Portugal, num conjunto dos cinco iniciais, com
quintais e cerca à volta do seu território, que, neste caso, pode resultar de algum antigo
ermitério. Na coordenação das respetivas ordens religiosas, inicialmente, este
convento está associado à Província de Santiago e à diocese de Tui.
«O movimento observante em Portugal, fundado em 1392, por frei Gonçalo Marinho, Frei Diogo Árias e Frei Pedro Dias contava com cinco eremitérios: Santa Maria de Mosteiró (Valença), São Francisco do Monte (Viana do Castelo), São Paio de Cerveira (Vila Nova de Cerveira) e São Clemente das Penhas (Leça da Palmeira). (Cf. Junta de freguesia de Leça da Palmeira)».
- Século XV
Neste século, o alastramento dos conventos é
enorme, apesar de uma certa decadência do espírito religioso, não só, na
Igreja; como também, nas ordens religiosas, cuja origem advém dos finais do século XIV. Por isso,
acontece a divisão entre “frades claustrais” e “frades observantes” (aqueles que
defendem o retorno aos ideais de origem: pobreza e penitência), originando que estes obtivessem uma
total autonomia, por ordem do Papa Eugénio IV, em 1446. Esta crise teve
consequências no Convento de San Payo, já que os “Frades Observantes” deixaram
este convento, em 1460, integrando-se, pouco a pouco, nas estruturas religiosas portuguesas da ordem franciscana.
- Século XVI
As casas religiosas, apesar da sua autonomia
e relativa independência, tinham uma entidade superior que as orientavam, cuja
figura era o seu provincial nas ordens católicas. Por isso, no ano de 1517, os
monges da Ordem dos Frades Menores Conventuais, por ordem do Papa Leão X,
estavam inseridos na “Província de Portugal dos Claustrais ou Conventuais”, com
as suas vinte e sete casas religiosas, nas quais se incluía o Convento de San Payo,
cuja sede era o “Convento de S. Francisco" no Porto, que congregava, somente, as casas religiosas do Norte do País. É, também, em 1517, que
surge a categoria da Ordem dos Frades Menores Conventuais.
-
Século XVII
A igreja que faz parte do conjunto edificado, nas paredes laterais deste convento, presume-se que foi construída no século XVII, para acolher os muitos
devotos que San Payo atraía. Embora, se augure que o seu início comece a partir
de 1568, ou seja, em pelo século XVI. Mas, já desde o século XIV, que uma
“feira franca” anual animava este local de devoção, cuja autorização se deve ao rei D. Dinis.
Com a criação da igreja, sobretudo, a partir dos anos de 1568, o convento e
sua igreja foi governado por vários vigários, tornando-se numa vigariaria.
Posteriormente voltou para comando dos seus 12 frades desta comunidade
religiosa, que tomam conta da sua autonomia, em 1623. Tanto no Convento de San Payo, como no Convento da Ínsua, em Caminha, o número de frades era sempre reduzido, ou seja, da ordem de uma dezena.
-
Século XVIII
No início do século XVIII, o convento de São
Paio do Monte foi alvo do interesse de uma família abastada da freguesia de
Covas, Vila Nova de Cerveira, em cujo concelho granjeiam grande importância.
Embora os direitos de propriedade não sejam muito explícitos nesta ordem
religiosa, a sua aquisição é realizada por Manuel Carlos de Bacelar, ou, Manoel
Carlos de Bacelar Malheiro (1705/1758), considerado terceiro administrador da abastada
Casa Carboal, na freguesia de Covas, e, com o título de fidalgo escudeiro da Casa
Real, em 1737. Aliás, surge como superintendente do concelho de Vila Nova de
Cerveira. Seu pai, já tinha sido governador da Praça de Vila Nova de Cerveira,
e constituído em morgado, em 1691, a sua propriedade de Covas.
-
Século XIX
O convento de San Payo começa a entrar em ruínas, em 1834,
com alegada apropriação particular, cuja venda acontece no século seguinte. (Cf. N.B.) Em
30 de maio de 1834, surge o decreto que extingue as Ordens Religiosas em
Portugal. Todavia, o seu território é alvo de exploração agrícola, quer na
criação de gado, quer na colheita de cereais, apesar de qualquer incêndio ocorrido. Desconhecem-se os documentos do
seu cartório, os registos da sua vida monástica, já que o desleixo e abandono
começam a ganhar garras para o seu lento desmoramento.
- Século XX
Em 1974, o escultor José Rodrigues descobre
este Convento, cercado de silvas e mato, encobrindo os seus muros e recheio. Antes dos anos setenta, o belo fontanário que embelezava o claustro do convento tinha sido vendido para a
Quinta da Loureira, em Gondarém, que jaz em frente da sua capela. Graças à
atividade de algum caseiro, até aos anos de sessenta e cinco deste século, ainda se exploravam os
seus terrenos, e, o convento era visitável. Rezam, certos relatos populares, que o convento foi vendido por duzentos contos de réis. Durante os anos oitenta, sob
direção do arquiteto Viana de Lima foi efetuada a renovação do convento, graças
ao impulso e investimento pessoal do escultor José Rodrigues.
- Século XXI
Museu de Arte.
Aberto ao público, funciona como museu de exposição das obras de arte do insigne escultor José Rodrigues (1936/2016), fundador da Bienal de Arte de Vila Nova de Cerveira e da Corporativa Árvore no Porto. Além disso, com as suas "oito suites" funciona como pousada de hospedagem.
- Século XXI
Museu de Arte.
Aberto ao público, funciona como museu de exposição das obras de arte do insigne escultor José Rodrigues (1936/2016), fundador da Bienal de Arte de Vila Nova de Cerveira e da Corporativa Árvore no Porto. Além disso, com as suas "oito suites" funciona como pousada de hospedagem.
Fontes:
Arquivo Distrital de Braga
Revista Visão de 14/09/2017
Arquivo da Freguesia de Loivo
Arquivo Municipal de Cerveira.
N.B.
«Durante o período de abandono muito se mutilou e
desviou do antigo espaço conventual. Os merlões e as estátuas de pedra que
representam S. João Evangelista e S. Paulo (?) foram levados para a igreja
paroquial de Candemil. A imagem de S. Francisco estigmatizado, recolheu à
igreja matriz da vila, para a igreja de Loivo foram as imagens de S. Francisco
e Santo António em tamanho natural e para o Santuário do Bom Jesus de Gondarém,
um S. Paio de boa qualidade estética». O emblemático fontanário, de pedra de granito, foi trasladado, em carro de bois pelo senhor Barbosa Guerreiro do lugar do Viso, para o exterior da Quinta da Loureira, onde se encontra de forma visível e gradeado, na freguesia de Gondarém.