Na província
Entre Douro e Minho, quando a devoção batia forte no coração da fidalguia
portuguesa era costume escutar a voz dos conventos, auxiliar os seus frades, ouvir os seus
conselhos e rezar por qualquer intenção pendente para que se protegesse os seus
lares , com os seus “brasão de armas”. Os senhores leigos destas casas da nobreza subiam até ao Convento São Paio para conciliar
os seus negócios e intenções com os desígnios da divina Providência. Também aqueles que nas
suas peregrinações se penitenciavam pelos Caminhos de Santiago se acoitavam em
sereno descanso, quando as forças ajudavam a escalar as fragas da pequena
montanha, onde estava o Convento de São Paio. A bênção e oração dos frades nutria de espiritual alimento, não só aqueles,
que da nobreza faziam parte, como também, os novos governadores da classe de
armas que através da sua graduação militar e da defesa das suas praças se
erigiam como protetores dos desamparados e venturosos frades.
Os viscondes
de Vila Nova de Cerveira delegaram nos “governadores de praça” as benesses e prerrogativas
que detinham, tais como, os duques de Caminha, os condes de Viana e os
marqueses de Ponte de Lima, o fizeram de igual forma, sobretudo, a partir do
século XVII.
Se, a "feira
franca" de São Paio se realizava, anualmente, lá no alto do seu Monte, seja, por
dádiva ou ordem de D. Dinis, reza, certa tradição, que em idêntico outeiro ou
colina de Gondarém, também, se celebrava a dita festa. Festa rija, que atraía
imensos galegos que pernoitavam por estas cercanias, porventura para manter a antiga tradição da "feira franca" de São Paio. Era um encanto ter tanta
gente espalhada pelos seus cantos, com os seus farnéis debaixo da sombra dos
carvalhos e pinheiros, onde a folia crescia noite e dia, em honra deste santo, São
Paio.
Se não havia
dúvidas acerca da sua beatitude, já que o santo gozava de abrigo na dita ermida,
a hagiografia mais consagrada não presumia tal santidade na dita figura, ou, personagem. E,
contra a crença popular e sua devoção, alguém decidiu dar abrigo ao pequeno
santo num nicho de uma parede lateral e exterior da dita capela.
Ao frio e ao
vento, ficou o santo, neste tormento.
Atormentado
andava um paroquiano com a autoritária decisão de expulsar o santo do seu lugar,
já que o santo gemia ao frio e ao vento, em estoico tormento. Pela calada da
noite, vestiu-se o santo de uma rica armadura. Nada mais que uma “caroça de colmo”
de hábeis pastores e honrados lavradores, para não dizer, como, outrora, ricos
senhores, já que qualquer outro agasalho não merecia São Paio. Ninguém foi
excomungado por tal ação, nem lhe foi concedido qualquer perdão. Somente
perdura a sua história. O santo, com ou sem armadura, é digno de estar à sua altura.
Já que tirar
o santo de tal tormento
de estar ao
frio e ao vento
é digno de
qualquer atrevimento.