Nos séculos V e VI, Bracara Augusta foi um lugar central da cristandade do Noroeste Peninsular. A “Sedis
Bracarensis” era a capital provincial civil e sede metropolitana, impondo-se no
Noroeste Peninsular, sem qualquer concorrência da diocese de Toledo. Dela
emergiram dois grandes bispos que criaram as suas casas religiosas: o convento de
Dume, no século VI, por obra de São Martinho, e o de São Salvador de Montélios,
no século VII, por iniciativa de São Frutuoso. Estes conventos foram o início
da difusão e propagação dos monges medievais e agrícolas, que se dedicavam ao “trabalho
e oração” (ore et labora), através dos condados de Límia e Toronho.
Remonta aos anos de 1258, a sinalização desta povoação de São João de Campos, tendo como origem um “pequeno couto” dependente de seus patronos ou padroeiros, senhores leigos ou eclesiásticos, cuja notoriedade se forja com a fundação de um convento de origem feminina. O “couto per padroes” significa um território privilegiado, muitas vezes, ligado a um mosteiro, cuja entrada estava sob licença do seu mordomo, neste caso, da sua abadessa. Implicava, também, uma separação entre o religioso e o temporal, entre o convento e os casais; por isso, tinha o sentido de marco ou padrão. A referência documental das Inquirições de 1258 assinala este povoado como um “couto feudal”, que dá origem a um convento de freiras noviças ou seculares.
Em plena Idade Média, a “Granja da Silva” é um vasto património que alberga conventos, propriedades e torres, nos quais se menciona o "Convento de Valboa". Se, a sua origem advém de D. Paio Guterres da Silva (1070-1130), é, através desta rica família, e, de Paio Guterres de Froião, que se faz referência aos rendimentos dos bens e propriedades, que transitam para o Mosteiro de Oía, quando este senhor decide ser monge.
Desde então, o património da “Granja da Silva” é disputado tanto pela diocese de Tui, como pelo Mosteiro de Oía; tanto pelos senhores eclesiásticos, como pelos senhores leigos; tanto pelos Viscondes de Cerveira como pelos Marqueses de Límia; mas, apesar de todos os conflitos, o Convento de Valboa é senhorio de abadessas. São mulheres, as monjas, que dirigem as suas rendas, os seus foros, os seus direitos, os seus tributos; que elevam as suas preces e orações; e, que sustentam os seus abades, (que chegam a ser dois na paróquia).
É, em pleno verde vale de campos à beira rio, que se encontra implantado um antigo convento feminino, cujo nome se perpetua como Valboa, em terra de São João de Campos, e, dos Viscondes de Vila Nova de Cerveira. Dos seus vestígios arqueológicos resta somente uma capela, associada a Santa Luzia, que pretende assinalar a existência deste convento. A sua edificação presume-se que remonte ao século X, ou, ao ano de 1136, cujos laivos das suas origens podem ancorar-se na difusão dos “mosteiros bracarenses”, tanto masculinos como femininos. Simples casa de religiosas, refúgio de "pecadoras penitentes", ou, de "damas reclusas", a sua emergência dá lugar ao convento de Valboa.
Ainda que
a Coreografia Portuguesa apresente como seu patrono, D. Paio Guterres da Silva
(1170-1129); já, em 1248, surge como sua abadessa D. Urraca Soeiro; e, somente, em 1258, a igreja de São
João de Campos aparece referenciada na diocese de Tui.
Igreja e
convento dividem os seus abades e a sua influência, embora os bens e
rendimentos da comunidade religiosa fossem determinantes neste impasse, que
se mantém até 1757. O século XII constitui um marco na afirmação deste convento
de origem feminina, com abadessas perpétuas, das quais se destaca Inês Barbosa, já no ano de 1444. No século XV, dá-se a decadência deste convento, por
falta de recursos próprios, mais precisamente em 1455, com a renúncia da sua
abadessa. Apesar da falta de recursos, as suas abadessas trienais continuam na
sua gerência, e, somente, no século XVI, as suas propriedades são integradas no
Mosteiro de Santa Ana de Viana do Castelo. «Em 1582, por provisão do arcebispo
D. Diogo de Sousa, e acordo do Papa Clemente VII foi anexado à comunidade
beneditina de Santa Ana de Viana do Castelo»