A praia fluvial da Mota encontra-se no fim da encosta mais saliente do monte de Goios, cuja colina se ergue desde a beira-rio até ao seu cume. O cais da Mota é um lugar das “pesqueiras do rio Minho”, outrora fiscalizado, e, ancoradouro dos seus barcos de pesca e recreio. Esburacado por dentro (túnel de via férrea) e por fora (fosso de duas estradas nacionais), somente nos resta ir ao encontro da origem desta palavra aplicada a este lugar, que permanece na memória dos seus habitantes. «Os nomes das localidades são sem dúvida o que reflete melhor a evolução histórica e social de uma população. Eles são, portanto, particularmente preciosos, e o seu estudo é de um interesse considerável. Nos países célticos, os topónimos de origem nórdica, ilustram perfeitamente a chegada dos Escandinavos...» (1)
Os rumores de um acampamento normando em terras do Baixo Minho ecoaram pelas terras do Condado. Rapidamente, em Guimarães, Mumadona Dias manda acelerar a construção do primeiro “castelo condal” para defesa de possíveis ataques normandos, dada a provável chegada destes, na Primavera do ano de 966. «Estes eram os “pagãos do Norte”, cujas incursões, desencadearam bruscamente cerca do ano 800, durante perto de um século e meio, faziam gemer o Ocidente». (2)
- As preces entoadas aos céus
rogavam:
- “Livrai-nos, Senhor, da fúria dos Homens do Norte”;
- “A furore mormannorum libera nos
Domine”;
- Oh Lord, save us from rage of Nordic people”.
- As preces entoadas aos céus rogavam:
Alvitra-se que uma fortificação ou “castelo” deu guarida às forças que compunham a terceira expedição viking, comandada por Jarl Gunderedo, considerado “rei dos normandos”, segundo fontes árabes, (“navegaron haja el mando de su rey Gunderedo...”). Qualquer local elevado que fosse propício a uma construção de madeira ou pedra, com uma torre de vigia, e, cercada por uma paliçada ou estacaria, com ou sem vala, tendo como objetivo a defesa de algum ataque, tinha o cunho e cancela normanda, no século X. A chegada de Gunderedo ocorre na Primavera de 966, na época de D. Sancho, o Gordo, e o seu sucessor foi Ramiro III. A sua permanência situa-se entre os quatro a cinco anos. António Carvalho da Costa, no seu livro de 1706, “Corografias Portuguesa”, relata somente a ocupação das terras galegas por três anos «...quando veyo conquistar a Galiza, & a ocupou três anos en tempo de Dom Ramiro, o terceiro...».
A palavra “mota” era um monte de terra (montículo) em forma cónica, que permitia a construção de qualquer “estrutura fortificada” que, mais tarde, vai dar origem aos futuros castelos. Ela é o embrião das “torres fortificadas e das muralhas”, ou seja, dos castelos em pedra, que surgem a partir do século XI. Ora, o relevo do local, de natureza granítica, ergue-se como um outeiro, apto a qualquer torre de vigilância, cuja panorâmica atinge o estuário do rio. Estes locais tornavam-se propícios, tanto à defesa, como ataque de normandos. Em novembro de 966, D. Sancho I, o Gordo, estava na região de Coimbra, mas uma “seta envenenada” não permitiu a sua passagem nas águas do rio Minho. Esta façanha é tipicamente viking.
É, sobretudo, no século X, que surgem estas fortificações. Ainda não são um “castelo roqueiro”, nem são um “castelo condal”, simplesmente, apresentam-se como uma fortificação de tipo “castelo mota”. De fácil construção, acantonavam quaisquer forças bélicas, cuja permanência era incerta. Os vikings, considerados “o terror dos mares”, eram comerciantes e guerreiros, que desferiam facilmente os seus ataques, quando as condições lhes eram adversas, graças à inovação e destreza dos seus barcos. “Na Primavera do ano de 968, quando Sisnando estava de retiro no Mosteiro do Sobrado surgiu o grande ataque a Compostela, que durou dois anos. António Carvalho da Costa, no seu livro a “Corografias Portuguesa” de 1706 «...quando veyo conquistar a Galiza, & a ocupou três anos en tempo de Dom Ramiro, o terceiro...».
Estas “estruturas castelares” do tipo “mota” são
apanágio dos processos defensivos da Normandia e depois da Grã-Bretanha. A sua
construção inicial era feita de madeira e terra; e, a torre tinha a função de
ponto de observação, sendo, ao mesmo tempo, casa do senhor. É, através da toponímia, talvez, a única
via de acesso à pesquisa do personagem e do seu contingente que podemos traçar
a teia de vestígios que outros documentos não referenciam com o “Cronicón
Iricense”, ou, “Historia Compostelana”, por razões óbvias. Todavia, em 1896, no
“Arquivo Distrital de Viana do Castelo, acerca de arrematação de “ervagens
produzidas em terreno do Estado” faz referência ao “lugar denominado
Roqueiro ou Mota, na freguesia de Gondarém, concelho de Vila Nova de Cerveira”.
Cf. (Arq. Distrital de V.C. em 01.01.1896). A utilização simultânea de “mota e “roqueiro”
faz relembrar os antigos castelos de defesa.
Tanto o monte como a paliçada formavam uma espécie de “ ilha”, ou seja, uma
fortificação isolada pelas águas do rio, quase como um fosso, o que conduz ao
famigerado “castelo” com o nome de Boega, segundo o cronista Al Idrisi. O
famoso geógrafo árabe Al Idrisi relata que existia um “castelo de difícil
acesso”, chamado de Boega. (Al Idrisi – Descripción de España). Melhor abrigo,
ou, ponte de ataque não existia que não fosse uma ilha que se confundia com um
castelo, segundo Al Idrisi.
Embora os vestígios arqueológicos sejam, por agora, inexistentes, Gunderedo tinha todas as condições ideais para permanecer neste local, e, construir um “castelo meda”, que deu origem à palavra “mota”. Ao contrário dos “castelos condais”, que utilizam a pedra, o “castelo meda” aproveitava-se de um morro existente, ou, qualquer colina escarpada. Por isso, a sua construção era meramente defensiva, de rápida construção, temporária, de fácil degradação, exposta ao fogo devido ao uso da madeira, já que o “barco” era uma mulher para o normando.
Após o acordo de paz com o rei Lotário (Reino dos Francos), entre junho ou julho do ano de 965, acerca da autoridade de Ricardo I, como duque da Normandia; e, após o conflito com a estadia das forças de Gunderedo, na Primavera seguinte deu-se a partida deste contingente. Gunderedo, além de chefe militar, era um hábil negociador em conflitos. A sua diplomacia, certamente, foi determinante para a sua permanência neste local, já que não consta qualquer ataque à cidade de Tui. Num território extremamente disputado entre os vários senhores galegos e portucalenses, a sua habilidade política prolongou-se no domínio de Santiago de Compostela, pelo menos, durante dois anos.