Escrevia Camilo Castelo Branco, em “As Pessoas Melancólicas” (Edições Aletheia) sobre estes sinais que parecem manifestar-se, hoje:
«Horas e dias terríveis passam por nós como períodos negros da existência». (pág.144)
Sem antes relembrar em “Coração, Cabeça e
Estômago”, (pág. 144) o seguinte: «se acontece uma febre que devora centenares de pessoas,
os conselhos de saúde…» e, seguem-se alguns alertas adequados ao seu tempo.
Mas, o alvo mais certeiro de Camilo
elucida-se nestas sentenças. «Cai-nos a fronte para o seio, onde o coração nos
dói premido por mão de ferro. Não há lembrança feliz que possa estrelar-nos o
caos da imaginação; não há raio de sol que faça abrir flor de esperança em
nossa alma arada pelo desconforto».
«Cai-nos a fronte para o seio...». Realmente, parece que andamos cabisbaixos, sem o olhar alegre do outro, sem a palavra amiga que nos consola, sem o gesto que nos liberta.
Até os raios da praia que nos espera são de desconforto para o espírito e para o corpo.
E, no céu ou nas
estrelas não reluz qualquer sonho que alimente a nossa imaginação. Estamos
cercados e confinados, não por mão de ferro, mas por luva de alpaca, que parece que nos
tira a nossa liberdade e que nos mata!...
Mas, no seu optimismo Camilo Castelo Branco, no seu artigo "as pessoas melancólicas", quer dar-nos um "antídoto contra a melancolia" porque que é "a coisa que mais brutaliza a alma."
Cf.Camilo Castelo Branco, "Coração, Cabeça e Estômago", Edições Expresso, Lisboa 2017.