Encontro-me no segundo andar, onde José Rodrigues dos
Santos assomava à janela do rés-do-chão. Não com qualquer manuscrito na mão,
mas com um aceno de saudação, já que o múnus de escritor ainda, presumo, não
tinha despontado. E, desta pequeno alto, com o verde nos pinheiros no horizonte, deleito-me com a leitura do seu livro
“A Chave de Salomão”, que ainda não terminei na sua leitura. Confesso, que a
nível literário não me seduz muito, o estilo e a narrativa, sobretudo o ínicio da obra. Todavia, a parte final do capítulo XXXI,
página 249, em que “o real cria a consciência e a consciência cria o real”
remete-me para o filósofo Hegel que quase dizia o seguinte: “todo o real é
racional e todo o racional é real”.
Claro que não quero imiscuir-me
nestas lutas filosóficas entre Kierkegaard e Hegel que me arrastariam para as tais
“propriedades emergentes”, tão do gosto e agrado de José Rodrigues dos Santos. Porque,
se Hegel é extremamente racionalista, já Kierkegaard é extremamente
subjectivista; por isso, relego, para as calendas gregas, qualquer tipo de objectivismo ou sujectivismo estético: "a beleza está nas coisas, ou, a beleza está nos olhos de quem a vê".
“É a nossa consciência que cria
parcialmente a realidade...” (pg.248), tal como quando vemos televisão e o próprio
Rodrigues dos Santos; compomos e recompomos (criámos) a sua imagem como
observadores televisivos. A matéria/energia enviada pelos feixes hertzianos,
somente é possível quando o olho humano se predispõe à sua observação. Por isso,
como jornalista de televisão, esperamos ter qualquer uma obra dentro desta temática.
Oxalá o “pinceau electronique” de José Rodrigues dos Santos se deixe
conduzir pela vias do audiovisual, pelas suas interacções, e sobretudo, pelo seu
público de origem portuguesa.