Se a linguagem é a expressão da nossa mente
pela qual expressamos as nossas crenças, o sujeito cognitivo revela-se através
das suas expressões. (Aliás, existem muitas espécies de mente).
Todavia a linguagem é uma roupagem sobre a
qual se escondem muito dos nosso trapos, dos nosso hábitos e dos nossos
valores.
Aquilo em que acreditamos, seja numa
identidade psicológica consciente ou inconsciente, seja numa identidade de
conteúdo que expressa a nossa crença revela uma atitude proposicional (pensamento) e
representa a nossa mente nas suas várias facetas.
É típico da mentalidade portuguesa esconder-se
por trás da linguagem já que dificilmente expressa a realidade, quer nos
factos, quer na veracidade das coisas. O duplo sentido da linguagem, traduz
esta semântica de “país dos poetas”, que não ousa dirigir-se afitadamente ao
crivo da razão. “Ou seja, quando falamos em intencionalidade, fazemos uma
distinção entre coisas intrinsecamente intencionais (representações) e coisas
intrinsecamente não-intencionais (objectos) que, de algum modo, mantêm relações
entre si”. Por isso, ao nível da intencionalidade, e, ao nível da
representação, erigi-se um fosso que não traduz, quer aquilo que se pretende
dizer, quer aquilo que representa o conceito, como expressão da coisa. Se “o
discurso é sempre traição do próprio discurso”, certa habilidade lusa traduz-se na
“língua portuguesa é muito traiçoeira”.
Não que a língua seja traiçoeira, mas a sua
expressão, a sua linguagem. E, como a linguagem é a expressão da nossa mente, ou se quiser, dos seus fenómenos mentais, para não generalizar, quer dizer que nós próprios somos os seus próprios traidores. “A língua é a
minha pátria...”, diz Fernando Pessoa. É o meu objecto, onde me inscrevo como
sujeito, mas não é a minha linguagem. A minha linguagem perpassa por várias
identidades, por vários heterónimos, onde me procuro encontrar.
Ó mar salgado
Quanto do teu sal.....
A dor, o sofrimento, a angústia que me corrói como sujeito, como objecto
desta pátria, expande-se na minha linguagem, fruto da minha mente ou dos meus fenómenos mentais. A minha
mente doente ou sã, é a expressão da minha linguagem que se alimenta pela veia
poética, aquilo que “quero dizer e não dizer”, já que pela palavra me inscrevo
nesta língua, não como sujeito, mas como objecto de linguagem.