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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

EUROPOLITIQUE: "São Sebastião" e o seu "Notário Apostólico" - Gondarém - V.N.C.

Em 1603, Pero de Guimarães Pereira, exercendo o ofício de “notário apostólico”, decide contruir uma Capela em honra de S. Sebastião, na sua igreja, ou, abadia, melhor dizendo, “padroado” de São Pedro de Gondarém. Após designação episcopal, a sua função consistia em documentar os assuntos eclesiásticos, relativos ao património imóvel, tais como: terras ou casas, escrituras de arrendamento, foros de igrejas anexas, rendas, doações, prazos de vida, dízimos ou testamentos.

Já que, a terra era a principal fonte de riqueza na Idade Média, a Igreja afirmava-se como a instituição mais rica, quer na Europa, quer no Noroeste Peninsular, usufruindo de um conjunto de rendas dos seus domínios e terras, embora, por vezes, dependente da vontade dos “senhores leigos”, em que transitavam "títulos e benefícios", aos quais estava sujeito este padroado. Os padroados foram criados por intervenção de D. João III, a partir de 1532.

Em 1648, o “Padroado” da Igreja de São Pedro de Gondarém perde uma sentença a favor do fidalgo Francisco Pereira da Silva, (terceiro "morgado" da casa de Bertiandos), na Comarca de Valença, que se torna o seu padroeiro. (Por afinidades familiares, desde 1540, estabelecem-se ligações entre as terras da quinta da Boega e a casa de Bertiandos). O padroado consistia numa espécie de fundação familiar, que tinha o direito de apresentar o abade ou pároco ao bispo episcopal, cobrar dízimos e aplicar as rendas segundo a vontade do seu fundador (Cf. Arq. Distrital de Braga, 01.04.1648).

São Pedro de Gondarém permaneceu, com a designação de “igreja e abadia sem cura”, até ao século XIX, apesar dos seus padres, abades, ou, párocos; e, das várias escrituras de “foreiros”. Presume-se que a atual igreja de Gondarém derive da extensão, ou, prolongamento das terras dos antigos “senhores leigos” da Quinta do Lima, ou, da Boega.

Como “senhor eclesiástico”, eleito “notário apostólico", Pero Guimarães Pereira quis assinalar o seu “direito e múnus” apostólico, através da construção da Capela de São Sebastião. Seja, por simples reivindicação de autonomia eclesiástica, ou seja, por mero desejo de afirmação pessoal, eis que nasce a obra, ou, capela. Junto de uma nascente de água, e, face a um frondoso vale, ergue-se a dita capela, cuja construção de granito assinala o limite das águas do rio Minho, que antigamente atingem o seu sopé. No fundo do Monte de Góios, no encalço dos caminhos de Santiago, e, em frente da ilha dos Amores reaparece esta capela devido aos «papeis pertencentes a ermida da São Sebastião, sito na freguesia de São Pedro de Gondarém, a qual erigiu Pero de Guimarães Pereira, morador na dita freguesia», (Arq. Distrital de Braga, 24.02.1603).

Nesta ermida ou capela de granito e cal caiada, com a sua pequena torre sineira, e, o seu limitado adro, celebra-se a festa em honra de São Sebastião, no dia de 24 de maio, graças ao “notário apostólico”, Pero de Guimarães Pereira, morador desta freguesia de Gondarém, "senhor" da “respetiva provisão”. (Cf. Arq. Distrital de Braga, em 12.08.1603).

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