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segunda-feira, 6 de julho de 2020

EUROPOLITIQUE: "Por terras de lobos e abadessas" - Do convento de São Paio às abadessas de Santa Marinha na freguesia de Loivo - V.N.C



"Terra de lobos e abadessas", a freguesia de Loivo, com os seus dois conventos de São Paio e de Santa Marinha exerceu, com devoção e prestígio, um papel assinalável na religiosidade da Idade Média. De igual modo, Santa Marinha e Santo Ovídio são dois lugares interligados em Vila Nova de Gaia, com esta dedicação. Muito ligada à sua tradição, faz parte desta freguesia de Loivo a devoção Santa Marinha. Aliás, como acontece com a nova cidade ligada ao Porto, na sua toponímia. A devoção a Santa Marinha não é caso único no Norte, e, no resto do País, já que na Galiza, nada menos de 108 paróquias, reclamam a sua proteção. Padroeira, ou, orago desta freguesia de Loivo, somente a sinalética ferroviária assinalava o apeadeiro de Santa Marinha, como ponto de referência da sua existência, longe da medieval "terra de lobos e abadessas". Esta paragem ferroviária contrasta, no tempo, com o movimento e a devoção, que esta santa suscitou na fundação de um convento, em sua memória.

Todavia persiste um dilema acerca da devoção a Santa Marinha. Se, era a santa que “rapou os cabelos e se vestiu de homem” para entrar num convento, cujo nome sonante era Marinho, (era mulher e morreu homem); ou, se era aquela Marinha que pertencendo aos "deuses romanos se tornou santa". A primeira, oriunda do Líbano, viveu no século V, sendo chamada de Santa Marina ou Santa Marina de Bitínia. A segunda, nasceu em Baiona, na Galiza, no ano de 119, filha de um governador romano, de nome Lucio Castelio Severo. A história atribulada desta jovem começa desde o berço até à sua idade adulta. Ameaçada de ser lançada no rio Minho foi salva pela mão protetora da sua aia, que encontrou uma família para seu acolhimento. Batizada por Santo Ovídio, bispo de Braga, abraçou o cristianismo de tal forma que nunca voltou para o paganismo, apesar das ameaças de seu pai. Foi mártir, mas em pleno século II, quando a Galiza procurava resistir ao império romano, o qual já tinha conquistado a Lusitânia, com a celebração da Pax Julia, no ano de 48 A.C.

Longe estávamos de qualquer “Jardim de Delícias”, ou “hortus deliciarum” que uma freira escrevera como apanágio de sabedoria temporal e espiritual, por volta do século XII. E, longe estamos da influência e prestígio das abadessas do convento de Santa Marinha. Se determinada tradição oral aponta para o sítio de Pedroso, onde teria existido uma pequena torre, sem qualquer vestígio evidente, somente nos resta aguardar por desconhecida pedra encaixada, em alguma casa edificada. Augura-se que a fundação de um convento de freiras é bastante anterior ao século XV. Possivelmente, remonta ao século XII, ainda que a única referência da sua existência, surja somente em 1477. Se, do convento de freiras não temos vestígios da sua arqueologia, acerca da sua importância, prestígio e poder, existem vários testemunhos escritos.

O convento de Santa Marinha de Loivo, ou, simplesmente, a “casa de religiosas" beneditinas foi anexado ao mosteiro de Santa Ana de Viana do Castelo, em 2 de outubro de 1529, após a renúncia da sua abadessa D. Francisca da Nóvoa, com o beneplácito do Papa Clemente VII, e, confirmação do rei D. João III, em 1530. Outra referência, datada de 1546, relata a sua anexação de modo definitivo ao convento de Santa Ana de Viana Castelo: («in perpetuum» – ou seja, “para sempre”). O facto mais relevante da sua importância acontece anteriormente. Em 7 de outubro de 1477, no Mosteiro de Santa Maria de Loivo, foi lavrada a escritura da doação feita pelo Abade de Mangoeiro a Cerveira, tendo sido autorizada, por D. Afonso V, em 21 de Fevereiro de 1474. Deste modo, Álvaro Dias doou uma quantia razoável para o carenciado hospital de Cerveira, que prestava cuidados aos peregrinos de Santiago. Augura-se, que a sua abadessa fosse Inês Barbosa, que governou este convento, desde 1444.
Deste modo, o convento de Santa Marinha de Loivo faz jus ao poder de certas abadessas. «Algumas abadessas eram autenticos senhores feudais, cujo poder era respeitado de modo igual ao dos outros senhores; algumas usavam báculo, como o bispo; administravam muitas vezes territórios com aldeias, paróquias...» 
(Pernoud, Régine, "O Mito da Idade Média", 2.ª Ed. pág. 95, Pub. Europa América, 1989).





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