A dita “sociedade civil” talvez esteja mais bem informada que a “classe política”, em certos aspectos sobre a realidade angolana.
E as reacções da “sociedade civil” são, por vezes, bastante díspares.
Neste universo podemos encontrar os “velhos saudosistas” que inundam a Internet com a eterna saudade, os “traumatizados com a guerra do ultramar e os “traumatizados” pelo abandono sofrido, os aventureiros que deambularam por muitas razões, os trabalhadores que são simplesmente emigrantes, aqueles que deixaram tudo por um sonho africano, aqueles que anseiam por uma “nova vida” em terras africanas, aqueles que lutaram e simplesmente se juntam em convívios, aqueles que estudaram em terras lusas, os escritores angolanos que dialogam com o público português, os artistas que sobrevoam as questões políticas, as organizações não-governamentais que desenvolvem projectos de formação e ajuda humanitária, os jornalistas nas suas múltiplas perspectivas, os meios de informação com as suas mundividências e obstáculos, aqueles que fazem viagens esporádicas, aqueles que fazem cooperação, aqueles que fazem intercâmbio cultural, aqueles que anseiam por um país mais justo e humanitário, aqueles que nunca estiveram em África e reagem de múltiplas formas, os residentes angolanos em terras lusas com as suas comunidades, ou seja, toda uma panóplia de relações humanas, para além das “questões políticas e diplomáticas”.
Basta dizer que quase 14.000 portugueses, por mês, deambulam entre Portugal e Angola, num universo calculado de mais 140.000 portugueses, constituindo-se Luanda como o primeiro porto de relacionamento com Portugal. Nenhum país africano ultrapassa o tráfego dos portugueses.
Claro que se desenvolve uma consciência da “política externa” entre a dita “sociedade civil”, para além do relacionamento institucional e oficial.
Mas, também, por causa deste relacionamento, desenvolveu-se uma estruturação oficial, em devido tempo, nas suas orgânicas, desde os tempos de Ramalho Eanes e Jaime Gama.
A reconstrução de um país não culmina logicamente e rapidamente num modelo económico, social e democrático de tipo europeu!... Além disso, seria puro etnocentrismo!...
A realidade africana debate-se com situações de desenvolvimento que implicam um amadurecimento das suas instituições.
Por tudo isto parece que existe um vínculo de fraternidade que ultrapassa as concepções daqueles que nunca estiveram ligados às terras africanas.
Analisar, sociologicamente, sob um único ponto de vista é infringir as regras da sociologia.
Em vez do “anátema de Lutero” preferimos a “benção da paz” da lusofonia, porque falámos a mesma língua, sem citar Pessoa.
E dizia o “inteligente” francês (faz lembrar a “Tourada”): “não temos nada a ver com Angola!...”