Em pleno
século XVI, é «atribuído o título de Igreja de “São Pedro de Mangoeiro” (Gondarém)»,
conforme (Arq. Distrital de Braga, 08.01.1549). A referência mais correta, em
nossa opinião, recai sobre a atual paróquia de Gondarém, neste caso, São Pedro
de Gondarém. A consagração deste “título” encerra a obrigação de constituir um arquivo,
ou, um “tombo”, ou seja, um “livro de registos” acerca dos acontecimentos mais
solenes da paróquia, incluindo: batismos, casamentos, óbitos e
testamentos.
(Portanto, desde o século XVI, que os registos
de identificação dos cidadãos pertenciam à Igreja, até ao funcionamento do
Registo Civil, a partir de 19 de fevereiro de 1911). Outra referência, reafirma que «em 1546, São Pedro
de Mangoeiro, a atual Gondarém, encontrava-se inserida na Terra de Vila Nova de
Cerveira e Comarca Eclesiástica de Valença, rendendo 70 mil réis» (Arq.
Distrital de Viana do Castelo). Nesta época, a freguesia encontrava-se dividida
entre duas igrejas e dois intervenientes: os “senhores eclesiásticos”, aos
quais pertencia a capela de Mangoeiro, e, a outra “sem cura”, abadia/padroado, que
dependia de um patrono ou “padroeiro" e dos seus “senhores leigos”, ou seja, São
Pedro de Gondarém.
A
antiguidade da igreja paroquial, como também da capela de Mangoeiro, remonta a
épocas anteriores, em nossa opinião, ao século X. Os manuscritos referem que «em
1258, (com) o nome Mangoeiro é citada na lista das Igrejas de Entre Lima e
Minho, que pertenciam ao bispado de Tui». Alvitra-se, portanto, que a
constituição, desta ermida de Mangoeiro, remonte a séculos anteriores, com
pertença assumida à diocese de Tui, e, posteriormente à Colegiada, ou, Cabido
de Valença, sem menosprezar a influência do Convento de Oía, na Galiza.
Duas
nascentes de água delimitam esta colina, em cujo centro surge a atual capela de
São Tomé, em lugar altaneiro. A quinta da “Fonte Fria”, antiga casa de lavoura,
afirma-se como um casal - “casal de Mangoeiro” - que pagava “honras”, ou
“dízimos” ao Cabido de Valença, ainda, em pleno século XVIII, segundo esta. «sentença
de emprazamento de três vidas do casal de Mangoeiro, sito na freguesia de
Gondarém e foreiro ao Cabido de Valença a favor de João Domingues e sua mulher
e mais consortes» (Arq. Distrital de Braga, 16.11.1768). Ainda que a noção
de “casal”, em plena Idade Média, rondasse cerca de trinta pessoas, neste
século significava um aglomerado de pessoas, às quais estava circunscrito o direito
do foro e pagamento de taxas à Igreja. Diz-se que a freguesia de Gondarém surge "lá do alto" de Mangoeiro, desde os tempos dos “rebanhos e criação de gado”, escondendo-se
dos romanos e dos bárbaros, após a época castreja. Ou seja, os primitivos habitantes transitam da pequena colina do "antigo castro" para um lugar mais altaneiro, o lugar de Mangoeiro.
Alvitra-se que a desaparecida "antiga igreja", «ecclesia Mangoeiro», tivesse sido construída em madeira, já que, através dela se revela a existência manuscrita de um abade, e, de rendimentos associados, da qual não perduram vestígios arqueológicos.. «A Idade Média foi o mundo da madeira, que era nesse tempo o material universal de construção». (1)
Em pleno século XV, faz-se referência ao que «diz respeito à existência de um
hospital, já que em 21 de Fevereiro desse ano (1474), a pedido do concelho e
homens da vila, D. Afonso V, autorizou por Provisão que o dito hospital “por
ser muito pobre e falecido das coisas necessárias” pudesse aceitar uma doação
que lhe desejava fazer o Abade de Mangoeiro (lugar da freguesia de Gondarém) Álvaro
Dias». Três anos depois, «a escritura de tal aceitação foi lavrada
então a 7 de outubro de 1477, no Mosteiro de Santa Maria de Loivo». (Cf. História
da Misericórdia de V.N.C, fev. 2017).
A
figura do benemérito Abade Mangoeiro, Álvaro Dias, torna-se uma personagem medieval desta localidade, quer pelo seu espírito de generosidade, quer pelo seu poder
de influência junto das instâncias reais, cuja benevolência lhe advém de qualquer cargo apostólico, ou, de linhagens familiares. Todavia, o "orago e padroeiro" desta localidade que tem no apóstolo São Tomé a sua inscrição e vinculação, apesar de não surgir em nenhum manuscrito. A "devoção popular" impôs-se através deste santo, São Tomé, que lhe consagra o dia da sua
festividade, em 15 de agosto.
N.B.
Na Galiza existe o seu hormônio
galego “San Tomé de Mangoeiro”, com a sua igreja, no concelho de Toque,
Província da Corunha.