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domingo, 7 de março de 2021

EUROPOLITIQUE: À procura de um retângulo perdido em alto mar - (Opinião/Jornal Expresso / 05.03.2021)


A seguir ao verde Hexágono da França, surge aquilo a que os gregos chamaram de Ibéria, em cujo Noroeste Peninsular se instalou Tude, que originou Tui; e, posteriormente, vieram os Romanos, que na totalidade geográfica deste retângulo, lhe atribuíram o nome de Hispânia. O mais assimilado do Império Romano recebeu o nome de “Galaico”, por ter conquistado a Galiza. A Galiza do Norte e a Galiza do Sul são muito distintas, embora estranhamente parecidas. A identidade da primeira surge graças ao poder eclesial de Bracara Augusta; e, o declínio da segunda acontece por causa do “luzeiro” de Santiago. 

Mas, entre as duas margens da Galiza, surge um novo impulso, vindo do mar, uma espécie de "concha normanda" que trouxe consigo as saudades do bacalhau e os laivos de anúncio de uma independência. Os conservadores de Santiago foram resistindo, mas perderam o seu fulgor, quando outros se tornaram em “Matamouros”.  Mas, os árabes continuaram como “homens azuis” neste grande retângulo ibérico, enquanto que no seu menor, se escondiam os vikings, como "magos ou feiticeiros dos mares". Por isso, as técnicas dos seus navios originaram escolas, e inovaram as lusas embarcações: as naus dos Descobrimentos.

A  criação de outro retângulo, numa geografia similar à da Ibéria, desprendeu-se como um “bloco de gelo” do seu iceberg”, ou da sua jangada. E, o destino de um boco de gelo é nadar e andar pelo mar. Assim fizeram aqueles que se lançaram ao mar, ao "caminho das Índias", e do Brasil. E, se somos tão geométricos, não devemos à nossa propensão escolar para a matemática, mas às várias tentativas de construção de geringonças que nos permitiram descobrir o mundo, sem esquecer os traços retilíneos dos campos vikings. O retângulo assemelha-se ao feitio de um barco, no qual fomos enjeitados e projetados, ou, melhor dito, ao navio, em que navegamos. Por vezes, à deriva, "sem rumo nem aprumo", de quem “não sabe, nem se deixa governar”, e, tudo isto, por causa das ondas deste atlântico mar.   Com fronteiras retangulares gastamos grandes receitas na nossa defesa geográfica, mantendo a nossa verticalidade e defendendo a nossa esquadria; e, daqui para o mar. Uma frota naval que era muito cobiçada, quer pela nação vizinha, quer pelos negociantes europeus, sobretudo, holandeses e ingleses. Estes estavam sempre ávidos de controlar os nossos caminhos, o seu comércio e suas riquezas.

Claro que, o nosso pequeno território sempre desafiou a unidade geográfica espanhola, basta dizer que o rio “Lethes”, o rio do esquecimento, o rio de alguns lusitanos, atraiçoou-lhes a memória na distinção entre Galiza do Norte e Galiza do Sul, já que são tão idênticas e divergentes. E, são tão divergentes que somente a sua autonomia, virada para o mar, se inscreve nesta identidade futura, que deixou para trás, a outra parte. E, de fama da descoberta, tão nobre, e, por vezes, tão obscura, que Magalhães aparece à frente do Gama, em feitos de marinheiros, na língua de estrangeiros. O mar dos Açores não é de condores, mas reluz com nossas cores. As aves de rapina estiveram sempre nas costas dos portugueses, porque para tanta riqueza não faltavam fregueses. O retângulo esticava-se e fugia de Espanha. Já não era “jangada de pedra”, tornara-se “jangada da Madeira”. E, para fugir às garras da Coroa Espanhola teve de fazer alianças com a Inglaterra, que lhe implantou no seu dorso, os contrabandistas de Gibraltar.

«Por isso, inúmeros historiadores do país vizinho, sobretudo a partir do nacionalismo moderno, dedicaram-se a teorizar que Portugal era uma construção política contranatura, artificialmente mantida pela Inglaterra, como um Gibraltar imenso, cuja existência privou a Espanha da grandeza que lhe era devida no palco do mundo, uma grandeza muito empalidecida desde há 200 anos». (Pinto, Sérgio Sousa, Jornal Expresso, 05.03.2021)

Claro que, esta “cartografia de rebeldes” procurava desvincular-se da sua fraternal etnia, mas vieram logo em nosso encalço os Colombos, levando o tabaco de Cuba e da Virgínia, e suas especiarias. No reino de Castelo ergue-se “D. Quixote e Sancho”, como símbolo universal do idealismo e do materialismo que, como um todo, representa a humanidade inteira. No reino de Portugal de “d’aqui e d’além mar”, em sentido particular e rudimentar, através dos Lusíadas, procura-se aquilo que nos faz sonhar!...

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