«O segredo da viagem não é o visitar
É deixar-se ser visitado pelo lugar.
Deixar que aquele momento tome posse de nós»
(Mia Couto, O universo num grão de areia, pg.223-4, Edições Caminho, 2019).
Mais que o momento nos ocupe totalmente o pensamento, é no deixar-se visitar pelo lugar, que o instante nos proporciona um vazio, um vácuo, que somente se preenche a cada momento, quando se evoca esse acontecimento.
"Nunca fui ao Corcovado, ao Cristo Redentor", dizia o polémico treinador de futebol. Ganhou o campeonato e a taça dos Libertadores, mas ainda não se tinha libertado das "amarras do futebol" para se consubstanciar com o seu nome de Jesus, lá no alto, na "cidade maravilhosa". Nem a força de São Jorge elucidou o crente ou o ateu, que desde o alto, somos visitados por uma íngreme e abrupta subida que na sua justa perpendicular nos deixar a "fumegar e a tiritar" de encontro à neblina que se esconde e estende por Copacabana e arredores. Aliás, o estádio está no prolongamento da sua paisagem.
Ver o Rio, sem ver o Cristo Redentor, não é a mesma coisa que ir a Roma e não ver o Papa. É perder o ícone, o símbolo e a imagem que ilustra toda a cidade que se estende até ao Pão de Açúcar e sua baía. Se o pecado mora ao lado, aqui ele revela-se no seu centro de futuro prolongamento. Portanto...
No samba, Deus é brasileiroNa Igreja, o Papa argentino
No futebol, Jesus é Flamengo.
Por isso, te recomendo
para fintares teu destino
ao Redentor, um roteiro.