Por duas vezes atravessara o rio. Uma vez, remando a favor da maré com o velho amigo da faculdade, outra vez nadando até à ilha da Boega e da ilha até à margem galega.
A dois metros da água, jazia impávido e sereno o passaporte. enrolado em suave casaco branco e delicadamente vigiado por dois sapatos.
O amigo ("cujo doutoramento implicou a vinda de um mestre françês até ao velho Porto") zarpou com medo e receio das rebuscadas rondas dos "carabineiros", cujos chapéus elegantes e azuis conjuntamente com o roncar das suas motos assustavam a taciturna e tranquila margem do rio.
Deambulava, atónito com tão inusitado desencontro!... Umas calças pendiam desalinhadas, amigavelmente cedidas por um galego conhecido, que por ventura nos ajudavam a pedir boleia.
A noite caía desesperada, alegremente confortada por um sono no banco traseiro de uma velha viatura. Pela manhã, a porta abriu-se sob o impulso de uma mão generosa, que nos estendeu um copo de leite quente.
"Quando não se pode ir para o mar, fica-se em terra!..." - diz o ditado
Acossado na fronteira, o meu amigo foi esconjurado de altaneiro "passador" e intriguista.
O rio brilhava em tons cambiantes de sedutora cor, inebriado com a beleza de uma doce donzela que se refrescava em voos de rapidez estonteante. E, da amargura dos dias anteriores soltou-se uma linha de liberdade, que somente os carris pararam na suave planície francesa!...
Adeus Eiras, Adiós Goyan!...
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Episódio da Raia.1
De soslaio admirava Zeca Afonso, sentado no balcão do Café Marinel.
Rapidamente se improvisou na Praça Pública um palco para tão digno artista, que maviosamenete cantarolou as "canções de Abril".
Vagamente, recordava algumas árias que naquela madrugada ecoavam através da rádio, nos confins da fronteira de Valença.
O combóio estacionado na estação de Valença estava prestes a partir! Já tinha saboreado sofregamente uma refrescante "coca-cola", quando retornava ao meu lugar na carruagem. Alguém susssurrava ao meu ouvido dizendo que ecoou um nome, cujas sílabas referenciavam a minha identidade.
- "Nada a fazer" - cogitei pesarosamente.
Dirigi-me aos guardas de serviço, que ousadamenete me transportaram até ao posto fronteiriço.
- "Está aqui pendendente um aviso de captura dos serviços militares" - argumentou o oficial de serviço.
- Okay" - anui, em conformidade, continuando.
- "Mas já que estou detido, presumo que devo jantar, ainda que o repasto advenha do "hotel"
Apesar da ousadia, assim aconteceu.
Na manhã seguinte, após diligências informativas para o DRM do Porto, fui libertado, com a frase seguinte:
- "Você, não merece isto!..."
Adeus, Valença.
Rapidamente se improvisou na Praça Pública um palco para tão digno artista, que maviosamenete cantarolou as "canções de Abril".
Vagamente, recordava algumas árias que naquela madrugada ecoavam através da rádio, nos confins da fronteira de Valença.
O combóio estacionado na estação de Valença estava prestes a partir! Já tinha saboreado sofregamente uma refrescante "coca-cola", quando retornava ao meu lugar na carruagem. Alguém susssurrava ao meu ouvido dizendo que ecoou um nome, cujas sílabas referenciavam a minha identidade.
- "Nada a fazer" - cogitei pesarosamente.
Dirigi-me aos guardas de serviço, que ousadamenete me transportaram até ao posto fronteiriço.
- "Está aqui pendendente um aviso de captura dos serviços militares" - argumentou o oficial de serviço.
- Okay" - anui, em conformidade, continuando.
- "Mas já que estou detido, presumo que devo jantar, ainda que o repasto advenha do "hotel"
Apesar da ousadia, assim aconteceu.
Na manhã seguinte, após diligências informativas para o DRM do Porto, fui libertado, com a frase seguinte:
- "Você, não merece isto!..."
Adeus, Valença.
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