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terça-feira, 11 de agosto de 2020

"Certificado de virgindade" por palavra clerical


A fama não o precedia, nem pela expulsão de demónios, nem pela fama de esconjurar espíritos maus. No campo desta espiritualidade gozava de um certo ceticismo pela divina transcendência, que tais ofícios merecem, e, por isso, se destinam aos ascéticos intervenientes. Ao contrário das coisas transcendentes, conduziam-no as coisas imanentes, mais nas profundezas da natureza humana, exatamente, no seio oculto da virgindade. 

Portanto, nada de deslumbramentos, de escapulários ou águas bentas, que o demo ou outro ente similar, por vezes, enfeitiça os espíritos mais fracos, com as suas satânicas artimanhas. 

O abade não tinha cara de frade, nem de sacristão. Era um leigo tornado cristão, do fundo do coração. 

Conduzia-o, sim, a certeza mais hábil e subtil em certos tufos escondidos de sedosos cabelos, que acoitam segredos, com respeito pela sua natureza. Aliás, se por baixo do monte de Vénus se oculta algum tesouro que a natureza ignora, o seu desvendamento atinge legítimos prémios de gozo e felicidade; e, o seu capital atesta a segurança e conforto marital, dando as garantias de primícia de qualquer fruto virginal.

O atestado desta pureza original sendo um dote, uma prenda, era um recurso frequente de virgens penitentes, que demandavam por um certificado de virgindade. Por arte e ofício clerical, o padre exibia os seus dotes no mais consagrado "selo de virgindade" - garantia que qualquer noivo ansiava. Esta peritagem de virgindade merecia inconformadas dúvidas naturais, já que de coisas imanentes se trava, mas subtilmente e de forma celestial tornavam-se transcendentes por obra de um padre, com dotes sobrenaturais. E, palavra dita, era bendita, não só por função, mas também por unção. Por isso, o "selo de virgindade" exibia-se com a sua autenticidade.

Destes factos e destas crenças, não pactuava o exímio bailador, fugaz dançarino, cujo nome era Domingos. Na igreja, por sete vezes, anunciou casamento, e ao sétimo, casou. Se, Deus ao sétimo dia descansou, Domingos casou ao sétimo anúncio clerical. Não se divorciou, foi fiel e assim morreu. Não pediu nenhum certificado de virgindade, nem da castidade se lembrou, somente aos céus agradeceu.

Mas, infelizmente, a filha de Domingos, quase uma Madalena arrependida, com a cara escondida, dizia: «sinto-me uma mulher perdida».



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