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domingo, 23 de outubro de 2011
EURO POLITIQUE 105 . Portas e as contas da Caixa
Por mais que se escondam as relações Portugal /Líbia, elas revelar-se-ão com o tempo.
Desde a distribuição dos famosos “Alcorões” doirados pela zona do Porto, à venda de metros cúbicos de seda verde, às incipientes relações diplomáticas, que um véu de nebulosidade se esconde, até ao processo de abertura de uma embaixada em Trípoli, nos novelos desta saga, apesar dos recônditos “negócios políticos” do MNE, certamente serão desvendados à realidade informativa portuguesa.
Torna-se por mais evidente que os ditos “negócios políticos” escapam ao comum dos mortais, sobretudo quando se relacionam com “assuntos africanos”.
Tudo isto vem a propósito dos fundos líbios em Portugal. Não se sabe perfeitamente que são “fundos familiares”, como afirma a dita informação da televisão portuguesa, ou que são “fundos soberanos”, como pretendem “os homens de negócios da Líbia”. Pedir lógica e coerência à diplomacia é entrar num paradoxo por mais evidente.
Além disso, à boa maneira portuguesa em contradição com a internacional, o “timing” da sua revelação acontece somente na finalização secreta de membros da dita “família”.
Que certas negociatas existiam, e, somente agora algumas foram reveladas, não escaparam à nossa função crítica. Por isso, o nosso contumaz comentário não foge às suas directrizes:
Em 19 de Junho escrevia-se o seguinte:
“Se a «habilidade diplomática» de Paulo Portas se expuser ao terrível dilema da Líbia com serenidade e ousadia teremos um perspicaz ministro do MNE”.
A estratégia diplomática deixa muitas dúvidas nas opções tomadas. A inovação seria o primeiro passo de um novo relacionamento, sem atritos de passados tumultuosos. Aliás, é assaz tradicional que em “equipa que não perde, não se mexe”, mas não é o caso.
Certos portugueses somente olharam para os cifrões da Caixa!...
A realidade caótica alastra-se a dezenas de pequenas cidades que estão completamente destruídas e abandonadas na Líbia.
Conjuntamente com a desertificação física surge a desorientação humana e social.
Vagueiam pelos caminhos do deserto à procura de um sentido de orientação.
Os ódios e medos revelam-se e escondem-se na desconfiança social que somente o tempo se encarregará de ultrapassar.
Além reconstrução física reaparece uma reconstrução social e política que somente os seus ideais podem refazer.
Os cifrões da Caixa não chegam para o pagamento dos gastos da guerra.
Não chegam 450 milhões de euros para a França
Não chegam 343 milhões de euros para a Inglaterra
Não chegam 700 milhões de euros para os USA.
Portugal não tem gastos de guerra com a Líbia. Tem um défice monstruoso que se arrasta ao longo de anos. Nunca consegui impor as suas empresas em território líbio. As duas primeiras foram expulsas. Certos cidadãos pagaram a factura deste “desaire”.
Mas a liberdade não tem preço face à tirania, os cifrões da Caixa esgotam-se nestas guerras de armamento por pagar.
Todos estes países têm dinheiro hipotecado nos seus cofres face aos gastos despendidos.
A contabilidade de guerra pouco nos interessa. Portanto, a partir de 31 de Outubro começa a nova fase de um processo de paz e reconstrução que é mais importante que o processo de destruição.
As relações Portugal/Líbia têm de ter uma clareza e distinção no processo democrático sem meandros esconsos da diplomacia.
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