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domingo, 21 de junho de 2020

EUROPOLITIQUE: "Para lá dos Pirenéus, aquilo é África" - Mistérios de Lisboa-l (Camilo Castelo Branco)






No princípio do seu livro “Mistérios de Lisboa – I”, Camilo Castelo Branco, que nunca saiu do País, deixa um “olhar do outro”, ou, uma perspetiva daqueles que nos veem de fora, que, após duas gerações continuará como sendo uma marca ou estigma de uma geração de portugueses. É, já, nos anos sessenta, com a emigração portuguesa, a rebentar pelas costuras, que a cidade de Paris atingirá um milhão de descendentes lusos.

“Para lá dos Pirenéus, aquilo é África” – slogan repetido por várias classes gaulesas, evocando-se, por vezes, a tese de Max Weber, entre a capacidade de criação riqueza pelos protestantes e pelos católicos.

Estes preconceitos de atraso material e cultural estendiam-se até às terras germânicas, em que predominava a visão de Portugal, como país atrasado, digamos, do “terceiro mundo”, na época dos anos de setenta.
Esta imagem de inferioridade cultural é rebatida por Camilo, quando, escreve, precisamente, sobre a sua capital.

«Enganei-me. É que não conhecia Lisboa, ou não era capaz de calcular a potência da imaginação de um homem. Cuidei que os horizontes do mundo fantástico se fechavam nos Pirenéus e que não podia ser-se peninsular e romancista, que não podia ser-se romancista sem ter nascido Cooper ou Sue. Nunca me contristei desta persuasão».

As bidonvilles de Paris não são as quintas de Camilo. Nem a “a potência da imaginação” bafejou muitos homens. Mas, Camilo antecipa-se nesta perceção social, apesar da sua  recusa sistemática nas ideias gaulesas e da influência de certo galicismo.

N.B.  Camilo Castelo Branco morreu um ano após a inauguração da célebre Torre de Paris, na Exposição Universal de 1889, construída por Gustave Eiffel.

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