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quinta-feira, 7 de maio de 2020

EUROPOLITIQUE: - ULF - O Galego" e os senhores da Galiza do Sul

Se a terceira incursão viking, comandada por Gunderedo ao Noroeste Peninsular, foi a mais longa e terrível a que a Galiza assistiu em 968, já que este chefe ou “rei dos mares” dominou completamente Santiago de Compostela e arredores; o quarto ataque normando da história da Galiza, a mando de Olaf, não ficou sem deixar sangrentos rastos ou vestígios da sua destruição, aos quais não escapou a diocese de Tui.



 Na senda destas aventuras de rapina e de saque, seguiu-se a chegada de “ULF – O Galego”, por volta do ano de 1028. Este epíteto deriva mais da longevidade da sua estadia, do que da sua bravura. A sua permanência nas costas da Galiza é de tal forma constante que a sua estadia que se tornava incómoda e intolerável. Apesar dos esforços na construção naval, a Galiza não possuía barcos capazes de enfrentar estes náuticos inimigos, que até os árabes temiam.


A este bando de proscritos, não lhes chegando as zonas costeiras, onde tinham os seus barcos ancorados, nada os impedia de se afoitarem até aos íngremes penhascos para se aliarem a qualquer senhor leigo, carente de algum auxílio. Porventura é demasiado situá-los nas pedras do que hoje é o santuário da Penha, para exibição dos seus dotes de guerreiros e aventureiros. Todavia, consta-se, que já pelos anos de 1032, à semelhança de outras alianças árabes desta época, prestam um precioso auxílio ao conde galego Rodrigo Ramoriz na sua luta contra “uns mercenários bascos” que se tinham instalado nos penhascos de uma “Penna”. Esta aliança deu os seus frutos e manteve-se noutros ataques, junto da região de Lugo, mas continuando a controlar as zonas marítimas galegas, em frente à ria de Vigo.

 

Todavia, o primeiro desaire de Ulf em relação à cidade de Compostela, tornou-o num espécie de aventureiro, num “salteador de terra e mar”, num “mercenário de rios e costas” que desafiavam as pacatas gentes da Galiza, habituadas ao trabalho dos campos e ao pastoreio. Aliás, o lema dos monges agrícolas era “reza e trabalha” – “ora et labora”. Por isso, as alianças com certos senhores leigos corriam-lhe de feição, já que também beneficiavam do apoio de “alguns patrícios” espalhados pelas costas e areais da Galiza do Sul. Disso é testemunha, o célebre grupo de pescadores da Póvoa desta época, peritos na arte da pesca, cuja origem é normanda, e cuja lancha “poveira” mantém a sua marca simbólica.



Este “bando de mercenários ou proscritos” não se coaduna com a tradição dos usos e costumes que começam a imperar nos peregrinos e “caminhos de Santiago”. Nos meados do século X, Santiago de Compostela já goza de algumas peregrinações que se dirigem ao seu santuário. Uma das primeiras peregrinações é justamente do bispo francês Gotescaldo, da região de Puy de Dome, pelos anos de 950 ou 951. Ou seja, desde o ataque de Gunderedo a Compostela, em 968, que os caminhos estão abertos até esta cidade, mas somente no século XII atingem o seu auge. Os seus devotos e romeiros rumavam junto ao túmulo do Apóstolo, que suscitava a conversão ao cristianismo de muitos normandos.



As costas e a ria de Vigo, com as suas redondezas, eram o “espaço marítimo” de eleição de Ulf- “O Galego”, durante os seus 15 anos de estadia, nesta região. Todavia, pelos anos de 1047 ou 1048, as cavalgadas de Ulf vão encontrar um adversário temível. Crescónio era bispo de Iria Flavia e amigo da diocese de Compostela, cujas muralhas lhe devem o seu reforço. Como chefe espiritual e comandante militar, Crescónio já tinha mandado refortificar as famosas “Torres de Oeste” (Castellum Honestium), na baía de Arousa. Frente a este ousado adversário armou um exército organizado e apetrechado que afastou das suas costas e limites, este chefe viking e seu grupo.

 



As cavalgadas de “Ulf- O Galego” pelo Condado de Toronho, que duraram 15 anos, deixaram vestígios de grande razia e favoreceram os senhores portucalenses. Cada vez mais, as planícies de Braga, Famalicão e Guimarães se fortalecem nas suas gentes e nas suas atividades agrícolas, criando as condições para uma maior riqueza, independência e autonomia. A “Era Viking” caminhava lentamente para o seu declínio, que acontece por volta do ano de 1066, quando acontece a morte de Crescónio, junto às Torres de Oeste. Se o ano de 966 marca a chegada de Gunderedo, o ano de 1066 assinala o fim da “Era Viking”, e, o ano de 1166 culmina com a conquista de Évora, por Geraldes "Sem Pavor" e Afonso Henriques. Os encontros belicosos e conflituosos entre escandinavos e galegos transformaram-se em relações amistosas e cooperativas. Por ironia do destino, anos mais tarde, serão chamados arquitetos normandos para a reconstrução da catedral de Santiago de Compostela. 


Obs: "Mas em 1049, o Papa Leão IX (1048-1054) temendo um cisma excomungou o Bispo Crescôncio por pretensão de querer equiparar Santiago de Compostela a Roma".   (Peregrinos e Peregrinação na Idade Média, vários autores, Ed. Vozes - São Paulo, 2018).

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