Dedicado a Frei Bento |
Quando um familiar de Soren
Kierkegaard partia para o Brasil, para a imensidade da selva amazónica,
indagando por essa riqueza natural (riqueza que permite dizer aos seus
habitantes que “Deus é brasileiro” ), lançando-se nas “leis da natureza e nos
seus conceitos”, o filósofo dinamarquês dizia que a sua investigação e os
seus “conceitos eram outros”.
Ou seja, esta diferenciação e
dicotomia da “natureza física”, tinha como objectivo, a indagação da sua
essência existencial, daquilo que o movia, aliás, comandada pela implementação
do “instante”, título do “panfleto” que suas mãos carregavam na hora da
sua morte.
Se, “o existencialismo é um
humanismo”, na temática de Sartre, na filosofia de Kierkegaard, o
"existencialismo é sobretudo transcendente".
Por isso, este filósofo dinamarquês poderia dizer que a
minha investigação, a minha indagação filosófica, a minha procura é outra: não é de “natureza física” é de
“natureza espiritual”.
Contrariamente ao
idealismo de Hegel, e, ao seu “Espírito Absoluto”, segundo Kierkegaard o “espírito” reside em mim,
e, está incrustado nesta pequena realidade individual.
Por isso, o filósofo dinamarquês
tem de encontrar "outro sentido de vida, de existência", cujo sopro é o “seu
instante”, como janela voltada para a sua realidade
espiritual.
Porventura será "este momento socrático",
pelo qual tanto gostava de “falar contigo", ò Sócrates? - dizia o filósofo.
Porventura, encontrar uma “verdade”, ou “ir
ao encontro dela”?
- Desejo roubar aos “deuses”,
aquilo que pertence aos “deuses” - um certo sentido de imortalidade - e, por isso sofrerei o seu castigo?
- Procuro
“eternizar-me” pela linguagem, através da minha "escrita diária"?
- Será que cada instante desta "janela da eternidade" me
obrigará a morrer com o “instante” na mão?
Mas, se há duas coisas que
aproximam Kierkegaard de Portugal, elas são, sem dúvida a questão dos heterónimos
em Pessoa, e, esta lembrança brasileira.