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domingo, 8 de março de 2020

(1) - Pelos caminhos do Hotel BOEGA - O "Couto de Mangoeiro" ou a Quinta do Outeiral

Os contornos históricos desta propriedade, aliás, como da constituição da própria freguesia, advêm das demarcações do seu espaço e território, objeto de disputas entre terras da Galiza e o Condado de Portugal. Antes da criação da fronteira política do século XII, com o nascimento de Portugal, até ao século XIV, o Couto de Mangoeiro, ou seja, a atual Quinta do Outeiral, que mais tarde vai dar origem a Gondarém, pagava os seus “impostos ou taxas” ao mosteiro de Santa Maria de Oia. O exercício do poder e o sentido de propriedade era objeto de disputa entre o poder régio e o poder eclesiástico, por vezes, sob tutela do bispado de Tui. Ao longo da história, o poder civil, após o reinado de D. Dinis, começa a emancipar-se da tutela religiosa, apesar de grandes dificuldades e confrontos. No início do Condado Portucalense, esta união salutar com a Igreja tinha vários objetivos políticos.


Os coutos eram áreas privilegiadas, “consentidas” pelo rei, a mosteiros ou igrejas. Na esteira e independência da esfera civil, no reinado de D. Dinis (1279-1325), aplica-se uma taxa de 75 libras à Igreja de S. Pedro de Mangoeiro, que atinge os 70 mil reis, em 1546, com exclusão do seu "couto". A terra dos Cerveiras, originários de Coimbra, que se tornou “Vila Nova” por Carta Foral de Dinis, no ano de 1321, demonstra ter alguma pretensão ao senhorio do Couto de Mangoeiro, mas esta propriedade continua dependente do Mosteiro de Oia.


As terras, cuja administração era entregue aos clérigos, com a cancela de couto, advêm da iniciativa de D. Teresa e D. Henrique, desde o ano de 1097. O primeiro rei de Portugal continuou esta tarefa de registo de terras, ou, forais. Os amores de D. Afonso Henrique com Châmoa Gomes do Condado de Toronho e a sua ligação ao Mosteiro de Oia, onde perdeu dois barcos, permitem afirmar que a “segunda carta de couto” possa ser referenciada a esta propriedade, já que a primeira foi concedida à diocese de Braga. O seu romance terminou aos 39 anos de idade, mas as querelas sobre estas terras duraram até ao reinado de Afonso IV. 


Atualmente, a freguesia de Gondarém tem um lugar, chamado de Couto, precisamente, ao lado da dita Quinta do Outeiral. Sem menção de infanções ou conde, é possível que este lugar, onde existia uma antiga construção, cujos muros são de grossas paredes, permanecesse isenta de qualquer imposição régia. Os caminhos de Santiago desenvolvem-se um século após o luzeiro de 813. Alvitra-se que a dita Quinta do Outeiral detenha uma função de "albergaria" ou "pousada de peregrinos", com os seus privilégios inerentes, ou, seja terreno reservado a um couto. A dádiva (no valor de 12.000 libras), do abade da paróquia de Mangoeiro para a renovação do "hospital de peregrinos" em Cerveira, nos finais do ano de 1473, deixa algumas lacunas.


Na Idade Média era normal os senhores leigos, ou,  as autoridades eclesiásticas nomearem os seus vassalos, caseiros ou camponeses; aliás, tradição que esta quinta conservou até ao século XX. Todavia, é, no século X, com a introdução do moinho e novos cereais, que se dá o desenvolvimento das quintas, e, o aumento das populações. As alfaias agrícolas, juntamente com o celeiro, o forno, a adega, o estábulo, em que pontificava o paço e a capela, tinham ao seu redor, os casais, que cultivavam as quintas. Um contingente de servos ou pessoas  desbravam a terra sob olhar atento de um senhor, abade, ou, homem-bom. No ano de 1320 surge o arcediago de Vila Nova de Cerveira.


No início do ano de 1318, D. Dinis, com os seus 39 anos, ruma em peregrinação a Santiago de Compostela, em cuja passagem se situava a albergaria. Ora, fazia parte da intenção do seu médico Mestre Pedro construir uma capela em honra de Santa Ana para seu eterno repouso. (Em 1 de Março de 1320 surge um grande conflito sobre a extensão das paróquia entre Lisboa e a Ordem de Santiago). Após a sua morte constitui-se o morgado de Mestre Pedro, que mais tarde fica sob administração de D. Afonso Nogueira, por volta de 1453, cujos bens projetaram estes famílias, ou, os viscondes de Vila Nova, cujo primeiro título surge a 4 de Março de 1476. Os bens deste padroado incluíam propriedades, rendas, foros, privilégios, bulas e alvarás dos morgados, segundo a sua relação. Ora, seja por herança ou testamento de alguns bens de Mestre Pedro, ora, seja pela apropriação dos bens pertencentes ao Mosteiro de Santa Maria de Oia; esta exibição de riqueza de familiares junto dos viscondes de Cerveira revela alguns indícios de acumulação incerta.

Se, por um lado, já em 1296, se referencia que Mestre Pedro fundava na colegiada de São Lourenço uma capela dedicada a Santa Ana; por outro lado,  na história administrativa, relata-se que “o morgado de Santa Ana ou de São Lourenço foi instituído por Mestre Pedro Nogueira. Entrou na casa dos Viscondes de Vila Nova de Cerveira pelo casamento de D. Inês de Lima, filha do 5.º Visconde...» (Torre do Tombo, Viscondes de VNC). Ainda que se fosse criada uma colegiada, alguns bens de Mestre Pedro entram na posse dos senhores de Vila Nova, mantendo-se a dedicação a Santa Ana- orago desta propriedade.


A partir do reinado D. Dinis, “os bens de Mestre Pedro”, ou, o dito “Couto de Mangoeiro”, associam-se ao senhorio da família dos Pereira. Na sua peregrinação a Santiago, na Primavera de 1385, apesar do alcaide de Vila Nova de Cerveira ser a favor de Castela, o Condestável Nuno Álvares Pereira encetou negociações com este senhor, através de “homens-bons” do Baixo Minho , obtendo a sua submissão e demais terras e castelos ao rei D. João I (1385-1433).  A crise de 1383 a 1385 marca uma lenta passagem do Couto de Mangoeiro dos senhores eclesiásticos para os senhores leigos, através da família Pereira.


Fazendo fé na inscrição de "caza dobrigação para passageiros e mendigos que nela quiser dormir", que se inscreve nas famosas albergarias dos Caminhos de Santiago, com referência ao ano de 1592, segundo Carlos A. Brochado de Almeida; no entanto, as suas ameias remetem para algum castelo desmoronado, que ao longo do tempo foi recurso para novas construções. Quis o destino, ou, a tradição oral que o seu vizinho território mantenha o nome de lugar do "couto", na toponímia da freguesia Tal como consta, no século XIX, que D.Afonso Henriques "coutou" um povoado de origem normanda, junto a um estuário de um rio.


 


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