Se não era o Cícero, em primeira pessoa e na sua bela língua latina, com as suas declinações afinadas, era, porventura, o mais veemente tribuno peninsular, que de ousada chama acesa e ventricular, invectivava os sonolentos senadores romanos, para a mais elaborada sentença discursiva que se desprendia, por todos os tempos pelos vales do Rio Minho.
Noutros tempos, o chamado "rio das areias douradas", por onde se escoava o oiro e a prata, até à cidade eterna de Roma, reclamava que os "senadores romanos" não esquecessem o tributo que estas terras lhe concederam, como legítima parcela do seu império. Era digno e justo recordar que as antigas alianças permitiram aos romanos entesourar os seus cofres com as moedas que espalharam pelo seu império, ao mesmo tempo que estabeleceram as suas vias terestres e marítimas para chegar a estes confins da terra plana.
"Finis terra", era o último cabo marítimo do Noroeste Peninsular que se erguia na Galiza do Norte, que o "delfim orador" do «Senatori Romani...»reclamava como marca e fronteira do império romano. Mas nas suas costas, corria o rio das "areias douradas", de cuja memória evocavam as lições do seu mestre ou decano, que , através de um sistemático cumprimento pessoal, se debatia com a saudação de "patrício" - "olá, patrício"!...
Inicialmente, este cumprimento, quase soava a "moeda falsa", de cuja identidade se desconfiava da sua sinceridade. Mas, a «história de um pilar da democracia", por Lourenço Pereira Coutinho, alertou-nos para esta questão da "cidadania".
«Em Roma, os direitos de cidadania estavam reservados originalmente aos descendentes da cidade, os patrícios. A partir de finais do século V a.C., estenderam-se aos plebeus e depois, com o império, foram sucessivamente alargados aos povos conquistados. Finalmente, no século III d.C., o imperador Caracala assinou um édito que reconheceu a cidadania romana a todos os habitantes livres do império» (Revista Expresso de 27.11.2020).
«...a cidadania social ou, o reconhecimento do direito universal à saúde, à educação e à proteção contra a exclusão».
Por ironia do destino, o eco da voz de "Senatori Romani..." deambulou por terras gaulesas, deixando um rastro de solidão (por exclusão, desta sua reclamação e própria entoação de "Esta ditosa, Pátria amada"!...).