Nesta pequena placa giratória em que nos encontramos, (geograficamente grande, a nível marítimo), somos vistos de várias perspectivas.
Os europeus, numa pura visão económica, olham para esta “petite économie” com desdém, impaciência e desconforto. “Pouco desenvolvidos e atrasados”, é um estigma, colado à superfície da pele, que se arrasta à de dezenas de anos. É um estigma que marca o corpo, como ferida visível e que causa dor no seu portador e à visão do seu observador. Sem grandes empresas, sem grandes marcas, sem grande valor técnico e tecnológico. Mas olhar um povo somente na perspectiva económica, melhor dito, somente na ânsia do lucro é remetê-lo para uma linha que roça certa criminalidade. Destituí-lo dos seus valores, do seu pequeno conhecimento e da sua cultura é anular a sua identidade, a sua autonomia, a sua existência. A classe dominante europeia transmite os seus valores económicos, as suas crenças no capital, as suas teorias financeiras e as sua práticas sociais. Exercita a sua liderança política, económica e intelectual, modelando e submetendo a hegemonia do seu discurso a uma “práxis” que se desenvolve no dominado. Frente a esta discriminação só resta a resistência, a luta pela emancipação, a revolta e a luta por uma identidade que se pretende subtrair. Uma transformação antropológica e identitária que não seja a reprodução dos mecanismos que nos pretendem impor. Não só, na linha do senso comum, “mais vale comer uma sopa em paz, do que um bife em guerra”, mas descobrir que prato podemos comer.
Os africanos, apesar dos nosso estigmas europeus, olham-nos com certa avidez naquilo que os europeus desdenham. Anseiam pela nosso pequeno conhecimento , pela nossa limitada tecnologia, admiram alguns dos nossos valores e estimam a nossa cultura, com desdém, por vezes, por esses europeus; embora, algumas vezes, certas perspectivas não nos sejam favoráveis. E, do pouco desta “petite économie”, ainda usufruem de alguma consolação, de alguma dignidade que se pretende transmitir. E, onde o capital internacional não arrisca, por medo e segurança, o laborioso trabalho português constrói caminhos de desenvolvimento, progresso e emancipação.