Em 1768, a Comarca de Vila Nova albergava 212 fogos, dentro das suas muralhas, que se distinguiam das "construções intramuros". No núcleo da fortaleza ou castelo erguiam-se várias construções entre as quais salientámos a Casa do Governador, o Pelourinho e a Cadeia; e. do seu lado esquerdo, além da cisterna, estavam os quartéis, paióis, ou seja, a "força de armas" e sua segurança.
Se, a Rua Direita se ergue como símbolo dos bons costumes, na “rua do crime”, da qual não resta memória, escondiam-se em segredo os ajustes de contas, as quezílias, as desforras e a pancadaria - “in extremis” - a perda de vida.
Entre os vários crimes de "honra e de sangue", surgiam os pequenos furtos de mercadorias saídas do cais, como aqueles níveos "grãozinhos de sal" - granum salis - que
brilhavam como “ouro branco”, e, que se desfaziam das suas sacas, pela arte de
impenitentes navalhistas. Para os crimes graves, o pelourinho luzia como símbolo da espada de justiça; mas, para os pequenos
furtos, nas celas da cadeia penitenciavam-se os seus pecados. Por isso, mais tarde, das janelas da cadeia, através das grades exteriores, desciam pequenas cestinhas
para aqueles que, passando na Rua Direita, se lembrassem, que a desgraça nem
sempre é alheia.
Por ironia do destino, alguém tracejou uma "Rua Direita", que
vindo do exterior do seu castelo atravessava, estoicamente, a fortaleza e
caminhava sobre as águas do rio, até se refugiar em Espanha, graças a uma “ponte
de barcas”, que outrora se ergueu sobre as águas do rio Minho, na zona do
Castelinho. Infelizmente, por ela não passou o Visconde de Cerveira, que em 1758, foi acusado
de "conspiração e atentado" contra o Marquês de Pombal e veio a falecer no
Castelo de S. João da Foz.
Mas a Cadeia e o Pelourinho, que da antiga Justiça fazem memória,
assinalam que se houve uma "Rua Direita" na Comarca de Vila Nova, que dos feitos
nobres e carácter se reclama, não se pode livrar dos "dias negros" que a sinistra “rua do crime” cometeu.