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terça-feira, 15 de setembro de 2020

EUROPOLITIQUE: Nos meandros da "Rua do Crime" e da "Rua Direita" na Comarca e Vila Nova de Cerveira

 


Em 1768, a Comarca de Vila Nova albergava 212 fogos, dentro das suas muralhas, que se distinguiam das "construções intramuros". No núcleo da fortaleza ou castelo erguiam-se várias construções entre as quais salientámos a Casa do Governador, o Pelourinho e a Cadeia; e. do seu lado esquerdo, além da cisterna, estavam os quartéis, paióis, ou seja, a "força de armas" e sua segurança.

Se, a Rua Direita se ergue como símbolo dos bons costumes, na “rua do crime”, da qual não resta memória, escondiam-se em segredo os ajustes de contas, as quezílias, as desforras e a pancadaria - “in extremis” - a perda de vida. 

Entre os vários crimes de "honra e de sangue", surgiam os pequenos furtos de mercadorias saídas do cais, como aqueles  níveos "grãozinhos de sal" - granum salis - que brilhavam como “ouro branco”, e, que se desfaziam das suas sacas, pela arte de impenitentes navalhistas. Para os crimes graves, o pelourinho luzia como símbolo da espada de justiça; mas, para os pequenos furtos, nas celas da cadeia penitenciavam-se os seus pecados. Por isso, mais tarde, das janelas da cadeia, através das grades exteriores,  desciam pequenas cestinhas para aqueles que, passando na Rua Direita, se lembrassem, que a desgraça nem sempre é alheia.

Por ironia do destino, alguém tracejou uma "Rua Direita", que vindo do exterior do seu castelo atravessava, estoicamente, a fortaleza e caminhava sobre as águas do rio, até se refugiar em Espanha, graças a uma “ponte de barcas”, que outrora se ergueu sobre as águas do rio Minho, na zona do Castelinho. Infelizmente, por ela não passou o Visconde de Cerveira, que em 1758, foi acusado de "conspiração e atentado" contra o Marquês de Pombal e veio a falecer no Castelo de S. João da Foz.

Mas a Cadeia e o Pelourinho, que da antiga Justiça fazem memória, assinalam que se houve uma "Rua Direita" na Comarca de Vila Nova, que dos feitos nobres e carácter se reclama, não se pode livrar dos "dias negros" que a sinistra “rua do crime” cometeu.

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