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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
ANGOLA: "A Passagem de Testemunho".
Circulam informações escritas e orais que a passagem de testemunho de José Eduardo dos Santos, carinhosamente tratado por “Zézu”, para Manuel Vicente, actual vice-presidente teria lugar nos mais recentes tempos.
A noção de poder em África tem contornos bem diferenciados do contexto europeu em que a alternância democrática obedece aos desígnios do poder popular e às ambições legítimas dos partidos, baluartes da democracia, sempre ávidos do poder. A legitimação africana funciona em redor de estratagemas de desígnio de afirmação nacional, conduzindo à liderança de uma chefia eficaz, ao controlo da economia centralizada na noção de estado, à manutenção das fronteiras, à vigilância dos impactos externos (incluindo a emigração), à “estatização” da terra, ao respeito de poderes tradicionais, ao controlo e domínio da informação, à satisfação de interesses de grupos com poderes efectivos ou camuflados. Em torno de uma elite inscrita no poder rodopiam contrapontos reconhecidos ou aceitáveis, sem peso na decisão política, ou, uma maioria totalmente destituída de qualquer impacto social.
A falta de uma “sociedade civil”, alicerçada na inexistência das noções fundamentais do direito, dão origem a uma elite extremamente rica com uma maioria dependente de uma “lei pessoal” que materialmente se expande nos privilégios inscritos da exibição do seu poder. É evidente que a visão ocidental desconhece alguns dos mecanismos do funcionamento do poder em África, que legitimamente tem o direito da sua efectiva manifestação, e se justificam numa lógica de crescimento.
Por mais controversos que sejam as manifestações desse poder, o relacionamento diplomático e político exigem uma condução de diálogo nas suas diferenças e especificidades; e, nisso o poder natural de adaptação dos portugueses continua a ser apanágio da sua convivência.
Luandino Vieira, monge e eremita, em terras do monte Cervo, justifica, creio eu, o comando de um tipo de poder adaptado às exigências angolanas.
A passagem de testemunho do primeiro para o segundo titular do poder angolano emerge em contornos que ultimamente tem denegrido a sua imagem e perfil. Não só, o contexto externo não justifica tal passagem de testemunho; como também, internamente a nível partidário e militar, não parece reunir o consenso suficiente e necessário. Deste modo, a iminência anunciada e propalada reveste-se de insondáveis desígnios, inerentes aos actuais poderes presidenciais.
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