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domingo, 25 de janeiro de 2009

Episódios da Raia.10

Daquela janela em braço amplexo
Abraçavas as ilhas um tanto perplexo
de um país triste e complexo.

Daquela janela virada para o rio
era eu criança e tu já um tio
de direito, política - patavina
sabia eu, em rumos de sina.

Abraçavas tu a natureza
que fugia de ti em beleza
e nos meandros do teu pensamento
confluíam causas e testamento
“eu sei que morro por querer
a lusitana antiga liberdade”
longe estava eu da tua idade.
Luís – em letra gravada
Carlos de Almeida Braga.

Daquela janela era menino
sem escola nem ensino
hoje revejo-te na tua luta
por ideais ainda em disputa.

Os braços erguiam-se ao céu.
O povo tapado com véu
gemia em premente ignorância
pequeno e pobre na sua infância.

Daquela janela virada para rio
ainda jaz atento um olhar vazio
que a tua presença sempre acalenta
ideais que o tempo afugenta.

Episódios da Raia.9

Não há poema
que resista
à tua beleza, Ipanema.
Mas lá dos confins
se filtra em revista
a epopeia dos “pasquins”.
“Deus havia criado o sexo,
Freud criou a sacanagem”
O público ficava perplexo,
Atónito, partia para outra paragem.

Raramente, os jornais saíam dos comboios. Produto de luxo, o seu preço relembrava o salário de um trabalhador francês, quando eles foram lançados. Todavia a arte e engenho brotava em veia poética e sarcástica nos “Pasquins”.
Panfleto anónimo, sem hora nem dia, ribombava em eco sarcástico, que sedentos prelos sorviam e ouviam em sonoras gargalhadas, embalados em sôfrega audição, não fosse ele um ultraje à tradição.

Alcoviteiro, por excelência,
clamava por digno decoro.
O seu anúncio era urgência,
declamado em riso e coro.

Qualquer escândalo digno de um reconforto moral erguia-se em pluma incandescente, cujo objectivo era despertar a gente. As mais castas e doces donzelas, símbolo de cândida beleza, empalideciam com a esgrima e rima de ávidos e audazes faunos e poetas, que despertavam em poemas despidos de pérfidos cupidos .
Jornal anónimo, emproado em versos de força métrica resplandecia quando ecoava em qualquer voz sonora. Os ouvintes escutavam, gracejavam e uivavam aos secretos noticiários, gemendo os mais perdulários.
O seu conteúdo esvaziou-se no correr do tempo. As memórias longínquas situam-se muito antes dos anos 68, já que o “Pasquim” floriu no Brasil.
(“Pasquim – escrito que se afixa num lugar público e que contém expressões irónicas e curiosas sobre algum “affaire”, pessoa ou corporação”)

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