O meu avô, que nunca ia para os "tachos", apesar de ter tido
um restaurante em New Jersey, ao lado da metropolitana New York, plantava-se
fardado junto à lousa dos filhoses, para receber os “desconhecidos intrusos”
que celebravam o Carnaval.
Esta tradição popular
- provocadora, alegre e risonha
- desapareceu do Norte do País, para os modernos carnavais à brasileira,
à beira mar plantados.
Mas, este bando de forasteiros que desafiavam os lavradores
“abastados”, com a sua transgressão do “jornada agrícola” encaixa-se perfeitamente
nos acompanhantes do deus grego Dionisios, cujas bacantes aspiravam aos eflúvios das adegas e dos filhoses.
Um dia fui fazer um pequeno exame com a “Origem da Tragédia”
de Frederico Nietzsche na mão, e, sobre a “transmutação de valores” no mundo da
língua portuguesa, aludiu-se ao impacto do Carnaval no Brasil.
“A Pluma Caprichosa” de Clara Ferreira Alves, “inimiga
declarada dos blogues”, afirma que: ”na tradição da alegria obrigatória só
contribui para a melancolia pecuniária, e não, o Carnaval não é um direito dos
trabalhadores”.
A antiga tradição portuguesa, que por força do cristianismo
camuflava a sua mundaneidade, recorria ao bando de forasteiros que com as suas
bacantes transgrediam a “jornada agrícola” dos camponeses, forçando-os ao descanso.
Redesenhar o Brasil em “filosofia moral e política” entronca
também numa transmutação que o Carnaval brasileiro traduz como símbolo da festa
e da celebração, embora modernamente sujeito ao marketing.
Mas os “faunos gregos” da antiga tradição grega encaixam-se no "bando de forasteiros" que à portuguesa se desnudam com as suas bacantes numa alusão à transgressão, ao convívio, à celebração, à alegria, e, ao apelo de um dia de
descanso.