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domingo, 26 de abril de 2020
EUROPOLITIQUE: Amor e ódio à JAKOBSLAND
JAKOBSLAND – “terra mítica” para os
normandos escondia vários tesouros que despertavam a sua cobiça. A terra de
Santiago, não só despertava a avidez dos homens “adoradores de fogo” – “madjus”
- que vinham do Norte da Europa, ou
seja, os “normandos”, como também do Sul,
os “homens azuis” –blamenn- os árabes; estes, sim, os autênticos infiéis, contra os quais se erguia ousadamente, o Apóstolo “Matamouros”.
Estamos em plena Alta Idade Média, em que três
sociedades e três culturas, (bastante diferentes e opostas), se desafiavam
mutuamente nos seus costumes, nas suas tradições e nas suas religiões. Este
confronto e simbiose cultural vai durar até ao fim da “Era Viking”, por volta do
ano de 1066, quando já muitos normandos se tinham convertido ao cristianismo.
Em 1108, o rei da Noruega, Sigurd – “O
Cruzado” (1103-1130), torna-se no primeiro peregrino a visitar Santiago de Compostela.
O seu exemplo é seguido por outras personagens, que se tornaram santos, como: “Santo
André” de Slagelse da Dinamarca e “Santa Brígida” da Suécia. Estes romeiros e peregrinos
ao túmulo Apóstolo somente começaram a definhar com a Reforma Protestante do
século XVI.
Portanto, à fúria e à raiva desencadeada sobre
Compostela por vários ataques dos normandos, surgiu um movimento de
reconciliação e romagem, que se redimiu na reconstrução das torres da catedral
de Santiago, e se consubstanciou em vários casamentos. O rei da Galiza casa com
a princesa “Agatha” da Normandia, de onde partiram os “normandos”. Mas, os dois
amores do rei Valdemar II, em que ambas se tornaram rainhas na Dinamarca,
demonstram esta “camuflada aliança” entre vikings e portucalenses. Não só, o
rei da Dinamarca, Valdemar II – “O Vitorioso” (1202-1241), se casa com a jovem princesa
portuguesa Berengária, como também o seu filho, Valdemar III (1254-1257), desposa
Leonor de Portugal, filha de D. Sancho II. Assim, desde a conversão de Rolão da
Normandia, em 911, “A Concha de Santiago” entrou como símbolo da heráldica
escandinava.
europolitique: Esboço sobre a História da Quinta do Outeiral - VNC.
ENSAIO HISTÓRICO SOBRE A QUINTA DO OUTEIRAL
1 – O “COUTO DE MANGOEIRO”
Os contornos históricos desta propriedade, aliás, como da constituição da
própria freguesia, advêm das demarcações do seu espaço e território, objeto de
disputas entre terras da Galiza e o Condado de Portugal. Antes da criação da
fronteira política do século XII, com o nascimento de Portugal, até ao século
XIV, o Couto de Mangoeiro, ou seja, a atual Quinta do Outeiral, que mais tarde
vai dar origem a Gondarém, pagava os seus “impostos ou taxas” ao mosteiro de
Santa Maria de Oia. O exercício do poder e o sentido de propriedade era objeto
de disputa entre o poder régio e o poder eclesiástico, por vezes, sob tutela do
bispado de Tui. Ao longo da história, o poder civil, após o reinado de D.
Dinis, começa a emancipar-se da tutela religiosa, apesar de grandes dificuldades
e confrontos. No início do Condado Portucalense, esta união salutar com a
Igreja tinha vários objetivos políticos.
Os coutos eram áreas privilegiadas, “consentidas” pelo rei, a mosteiros ou
igrejas. Na esteira e independência da esfera civil, no reinado de D. Dinis
(1279-1325), aplica-se uma taxa de 75 libras à Igreja de S. Pedro de Mangoeiro,
que atinge os 70 mil reis, em 1546, com exclusão do seu "couto". A
terra dos Cerveiras, originários de Coimbra, que se tornou “Vila Nova” por
Carta Foral de Dinis, no ano de 1321, demonstra ter alguma pretensão ao
senhorio do Couto de Mangoeiro, mas esta propriedade continua dependente do
Mosteiro de Oia.
As terras, cuja administração era entregue aos clérigos, com a cancela de
couto, advêm da iniciativa de D. Teresa e D. Henrique, desde o ano de 1097,
senhores dos condados de Límia e Toronho, com o lema: «pela salvação da minha alma e pela redenção dos meus pecados». O
primeiro rei de Portugal continuou esta tarefa de registo de terras, ou,
forais. Os amores de D. Afonso Henrique com Châmoa Gomes do Condado de Toronho
e a sua ligação ao Mosteiro de Oia, onde perdeu dois barcos, permitem afirmar
que a “segunda carta de couto” possa ser referenciada a esta propriedade, já
que a primeira foi concedida à diocese de Braga. O seu romance terminou aos 39
anos de idade, mas as querelas sobre estas terras duraram até ao reinado de
Afonso IV.
Atualmente, a freguesia de Gondarém tem um lugar, chamado de Couto,
precisamente, ao lado da dita Quinta do Outeiral. Sem menção de infanções ou
conde, é possível que este lugar, onde existia uma antiga construção, cujos
muros são de grossas paredes, permanecesse isenta de qualquer imposição régia.
Os caminhos de Santiago desenvolvem-se um século após o luzeiro de 813, ou
seja, o gelo das Cruzadas despertou as
rotas do fervor ao Apóstolo. Alvitra-se que a dita Quinta do Outeiral detenha
uma função de "albergaria" ou "pousada de peregrinos", com
os seus privilégios inerentes, ou, seja terreno reservado a um couto, já que
Vilar de Mouros o detinha antes de D. Afonso Henriques. Por outro lado, a
dádiva do testamento de Álvaro Domingues, abade da paróquia de Mangoeiro,
autorizada por Afonso V, em 21 de Fevereiro de 1474, destina-se à renovação do
hospital de Vila Nova de Cerveira, no valor de 12.000 libras. (Cf. José
Marques, “Assistência aos peregrinos...” pg.21)
Na Idade Média era normal os senhores leigos, ou, as autoridades
eclesiásticas nomearem os seus vassalos, caseiros ou camponeses; aliás,
tradição que esta quinta conservou até ao século XX. Todavia, é, no século X,
com a introdução do moinho e novos cereais, que se dá o desenvolvimento das
quintas, e, o aumento das populações. As alfaias agrícolas, juntamente com o
celeiro, o forno, a adega, o estábulo, em que pontificava o paço e a capela,
tinham ao seu redor, os casais, que cultivavam as quintas. Um contingente de
servos ou pessoas desbravam a terra sob olhar atento de um senhor, abade,
ou, homem-bom. No ano de 1320 surge o arcediago de Vila Nova de Cerveira.
No início do ano de
1318, D. Dinis, com os seus 39 anos, ruma em peregrinação a Santiago de
Compostela, em cuja passagem se situava a albergaria. (Nos anos de 1315-1317,
as mudanças climáticas “para o frio” originaram grande fome). Ora, fazia parte
da intenção do seu médico Mestre Pedro construir uma capela em honra de Santa
Ana para seu eterno repouso; aliás, padroeira desta propriedade. (Em 1 de Março
de 1320 surge um grande conflito sobre a extensão das paróquia entre Lisboa e a
Ordem de Santiago). Após a sua morte constitui-se o Morgado de Mestre Pedro,
que mais tarde fica sob administração de D. Afonso Nogueira, por volta de 1453,
formando-se uma colegiada. Alvitra-se que alguns destes bens ou propriedades
projetaram estas famílias, ou seja, os viscondes de Vila Nova, cujo primeiro
título surge a 4 de Março de 1476. Os bens deste padroado incluíam
propriedades, rendas, foros, privilégios, bulas e alvarás dos morgados, segundo a sua relação. Esta extensão de
bens, quer por herança, quer por testamento, acumula-se nos viscondes de
Cerveira, aos quais se alia, também, a apropriação dos rendimentos pertencentes
ao Mosteiro de Oía, no qual estava incluído o “Couto de Mangoeiro”.
Se, por um lado, já em
1296, se referencia que Mestre Pedro fundava na colegiada de São Lourenço uma
capela dedicada a Santa Ana; por outro lado, na história administrativa,
relata-se que “o morgado de Santa Ana ou de São Lourenço foi instituído por
Mestre Pedro Nogueira. Entrou na casa dos Viscondes de Vila Nova de Cerveira pelo
casamento de D. Inês de Lima, filha do 5.º Visconde...». (Torre do Tombo, Viscondes de VNC). Ainda
que se fosse criada uma colegiada, alguns bens de Mestre Pedro entram na posse
dos senhores de Vila Nova, mantendo-se a tradição da dedicação a Santa Ana-
orago e padroeira desta propriedade. Nos anos de 1347-1348 dá-se a “Peste
Negra” dizimando um em cada três homens.
A partir do
reinado D. Dinis, “os bens de Mestre Pedro”, ou, o dito “Couto de Mangoeiro”,
associam-se ao senhorio da família dos Pereira. Na sua peregrinação a Santiago,
na Primavera de 1385, apesar do alcaide de Vila Nova de Cerveira ser a favor de
Castela, o Condestável Nuno Álvares Pereira encetou negociações com este
senhor, através de “homens-bons” do Baixo Minho, obtendo a sua submissão e
demais terras e castelos ao rei D. João I (1385-1433). A crise de 1383 a
1385 marca uma lenta passagem do Couto de Mangoeiro dos senhores eclesiásticos
para os senhores leigos, através da família Pereira.
Fazendo fé na inscrição de "caza dobrigação para passageiros e mendigos que
nela quiser dormir", que se
inscreve nas famosas albergarias dos Caminhos de Santiago, com referência ao
ano de 1592, segundo Carlos A. Brochado de Almeida; no entanto, as suas ameias
remetem para algum castelo desmoronado, que ao longo do tempo foi recurso para
novas construções. Quis o destino, ou, a tradição oral que o seu vizinho
território mantenha o nome de lugar do "couto", na toponímia da
freguesia. Tal como consta, no século XIX, que D. Afonso Henriques
"coutou" um povoado de origem normanda, junto a um estuário de um
rio.
2 – A QUINTA DO CÓNEGO
Em 1580, São Pedro de Mangoeiro
encontrava-se “partido em duas partes, a sem cura hé do arcebispo e a com
cura de padroeiros leiguos” Embora, o texto não seja bem explícito, a
divisão do território paroquial põe em evidência a isenção do “couto de
Mangoeiro”, que alberga a “quinta do Outeiral”, e a sua igreja, já esta “parte”
pertence ao cuidado dos seus padroeiros. A capela de "Santi Petri Manghoeiro"
existe, pelo menos, desde o ano de 1258, zona de pastoreio e criação de gado,
mas tem a concorrência de outra capela ou igreja.
A propriedade torna-se objeto de disputa
entre o poder religioso e o poder civil, ou seja, entre o Mosteiro de Oia e
Vila Nova. Assim, já desde 1350, o fidalgo Ruy Lopes de Cerveira aparece como
«senhor do “Couto de Mangoeiro” (« hoje chamado de Gondarém»)
e padrinho de S. Pedro Gundarem», (Arquivo do Tombo, 21 de Abril de 1944). Este
fidalgo torna-se “padrinho” da Igreja e senhor do couto. Pai do alcaide-mor de
Vila Nova, Lopo Rodrigues Cerveira, e casado com Maria Pereira (Cerveira) dá
origem às ligações familiares com Fernão Pereira (1540), senhor da quinta de
Bertiandos.
Entre 1444 e 1546 (segundo o censo da
diocese de Braga), apesar da expansão dos casais, a quinta ainda não está sob
custódia deste arcebispo. Longe estão as disputas entre as dioceses de Braga,
Santiago e Toledo. Todavia, o Mosteiro de Oía, continua com as suas
prerrogativas, embora, no século XIV, as suas propriedades em Portugal fossem
arrebatadas por D. Dinis. Neste interregno de uso e posse da propriedade, a
família Pereira, como sócio civil, insere-se na sua titularidade. Eclesiasticamente,
a margem esquerda do rio Minho permaneceu dependente de Tuy, até ao século XV,
ou seja, da sua capital do Baixo Minho -"civitas tudensis".
Em pleno século XVII, o fidalgo
Francisco Pereira da Siva, casado com Joana de Noronha, senhor da casa de
Bertiandos, torna-se padroeiro da Igreja de São Pedro de Gondarém, segundo
referência do Arquivo Distrital de Braga (01-04-1648). O padroado abrange um
conjunto de privilégios, entre os quais cobrar dízimos (poder económico) e
interferir na nomeação do abade (poder eclesiástico), que exerce o citado
fidalgo ou deão da quinta de Bertiandos e dos Biscainhos (Braga). Ora, São
Pedro de Gondarém era igreja e abadia, e, como tal tinha um “padroeiro leigo”,
responsável pela sua administração. Ainda, nesta família, no século XVI, aparece
o monge Francisco Pereira, pai de uma filha e senhor do Morgado de Bertiandos.
Também, entre 1704 e 1715, o bispo de Faro era António Pereira da Silva, filho
de Francisco Perira da Silva, senhor de Bertiandos. Em 1723, a paróquia de
Gondarém continua como igreja e abadia, conforme Arq. de Braga (10-12-1738).
Somente em 1802 surge uma carta de encomendação da Diocese de Braga, a favor de
um serviço de quatro meses pelo pároco vizinho, Costa Pereira (Arq. Distrital
de Braga, em 08-11-1802).
Os padroados são criados, sobretudo, a
partir do ano de 1532, por intervenção D. João III. Apesar dos seus terrenos e
rendimentos, com o seu passal, o padroado da Igreja de Gondarém associa-se a
“senhores leigos” que o protegem, e estão conotados com a Quinta do Outeiral.
Os senhores (donos das terras) tinham vassalos e camponeses ou servos. Na Idade
Média, a instituição mais rica da Europa era a Igreja, detentora de 2/3
das terras.
É, sobretudo, a partir de 1385, com o conflito entre a diocese de Tui e a
Colegiada de Valença, que as freguesias são incorporadas na diocese de Braga,
e, retificadas em 1512. Todavia, por sentença, o Padroado de São Pedro de
Gondarém queda-se em favor do fidalgo Francisco Pereira da Silva, em
01.04.1648, como já foi referido. Em 1758, esta abadia está ligada,
secularmente, a Damião Pereira, senhor da casa de Bertiandos, segundo
"Memórias Paroquiais". Por outro lado, é, a partir do século XVII,
que na comarca de Valença, começam a surgir os primeiros “registos prediais”
das terras destes habitantes com o pagamento das respetivas taxas, e, se
prolongam pelo século XVIII.
Portanto, desde o século XVI até 1834, que a estrutura da
"arquidiocese de Braga" abrangia a "comarca
de Valença" (aliás, nessa época, eram cinco comarcas), o "arcediago
de Vila Nova de Cerveira" e o "Padroado/Abadia de São Pedro de
Gondarém". «No século XIX,
aparecem os primeiros indícios de pagamento de impostos, a nível geral da sua
população. A freguesia de Gondarém, em termos administrativos, aparece na
comarca de Monção em 1839 e, posteriormente, na comarca de Valença, em
1852. Por decreto de 12 de Julho de 1895, a freguesia foi anexada ao
concelho de Caminha, regressando ao de Vila Nova de Cerveira, depois da sua
restauração, feita por decreto de 13 de Janeiro de 1898».
Os tempos conturbados prolongam-se sobre
a posse e uso da quinta, até à história de "um papagaio e duas
cotovias", em cuja narrativa surge um cónego de Braga, como dono e
senhor desta propriedade, no século XIX.. Parece que, posteriormente, em pleno
século XX, esta saga causará inspiração ao poeta Pedro Homem de Melo, após dois
séculos:
“por mor de aprender o
vira
Fui traído...
“
(Mas por fim sei hoje
que é mentira) - diz o poeta.
"Por mor de casar
um sobrinha..."
"Fui enganado..."- saga do Cónego da Sé de Braga.
Por mor de bem casar a
sobrinha, o cónego da Sé de Braga, João
Crisóstomo Guerreiro de Amorim Pereira, engenhou comprar uma quinta, como dote.
O cónego de Braga tinha conhecimento de que um rico “brasileiro” de São Mamede
de Ferreira, Paredes de Coura, carecia de uma esposa prendada. Assim, unindo a
sabedoria à astúcia, acalentou a melhor forma de constituir um “sacrossanto
casamento”, prendado e ornamentado, que de mundano pouco tinha de consagrado.
Movia-o, evidentemente, o comum interesse dos mortais, que nos últimos da sua
vida, alguém cuida-se de si.
Posto isto, deitou mãos à obra e inicia
a reconstrução e remodelação da atual chamada “Casa do Presidente”, onde
outrora se erguia um albergue que aos peregrinos do Caminho de Santiago dava
guarida. Os alicerces de granito e grossas paredes apresentam uma estrutura
pesada e fortificada. Para maior solidez de compromisso, uma doação em vida
seria a chave de entrada de um dote anunciado.
Quis o destino que o infortúnio ou azar,
caísse sobre o caridoso cónego de Braga, sendo relegado dos seus bens e
propriedade, por conflitos com o feliz venturoso António Joaquim Fernandes
Lima. Os motivos de tal discórdia estão longe de ser esclarecidos. Mas, a morte
prematura de sua consorte ditaram este desfecho infeliz, rapidamente colmatado
por outro casamento.
O retorno do Cónego da Sé de Braga,
homem da Igreja e do poder eclesiástico, às suas terras não se resumiu a
uma "reforma dourada", como tinha habilmente planeado, mas a um
exílio penoso. Um "triste papagaio, preso na sua gaiola", ou, melhor
dito, vítima da sua ambição. Sem a sua rica propriedade e seus recursos, foi
amigavelmente acolhido pelas suas duas irmãs, que por caridade e compaixão, lhe
deram guarida, na vizinha freguesia de Loivo.
A narrativa de um "papagaio e
duas cotovias" desenrola-se no papel das alegres viúvas, suas irmãs,
que desafiavam a actividade canora do antigo célebre orador, caído em
desgraça. Entretanto, o novo senhor da quinta, António Joaquim Fernandes Lima,
reconfortava-se na voz popular, esconjurando as pragas e lamúrias que o Cónego
de Braga lhe sentenciava em silencioso sofrimento. Para gáudio pessoal e
popular avançava com novas obras na quinta. O paço ou a "casa
do senhor" será o melhor dote que sua filha devia ter, como homenagem da
capela e da sua padroeira - D. Ana.
3 – A QUINTA DO LIMA
O casamento de António Joaquim
Fernandes Lima, por azar ou destino, durou pouco tempo, já que a sua consorte
faleceu. Entretanto, já D. Rosa Joaquina Pereira Lima, de seu nome de
casamento, tinha dado à luz Ana Maria Fernandes de Lima. A
futura herdeira daquela que se chama, presentemente, a “quinta do Outeiral”,
era neta dos primeiros donos, cuja avó tinha, também, o mesmo prenome - Ana.
Mas, a tradição oral ainda se recorda da "quinta do Lima", em pleno
século XX, e, de quem carinhosamente tratava por "Aninhas".
Para calar as dores da sua
angústia e sofrimento, o abastado brasileiro decidiu fazerobras de restauro e
prolongamento das iniciadas pelo Cónego de Braga, construindo um autêntico
promontório - as varandas do paço. Um novo edifício com um salão com nobres e
altas arcadas enobrecem a casa do senhor ou dono do paço, de onde se
desvenda a paisagem que se espelha nas suaves águas do rio, emoldurado das suas
verdes e viçosas margens, onde duas ilhas refulgem na sua serenidade. Tanto
hoje como ontem, as rubras cores dos crepúsculos de Verão, anunciando os seus
dias quentes, enfeitiçam aqueles que ousem penetrar na sua contemplação.
Outrora, na sua balaustrada reluzia uma menina, uma jovem e inocente princesa
que encantaria o novato advogado e político, oriundo da cidade dos arcebispos,
cujo nome era Carlos Almeida Braga.
Em pleno século dezoito
misturam-se proprietários com caseiros ou feitores de cujas castas e linhagens
sobressaiem alguns notáveis. Assim aos vinte e três anos de idade surge
nos Arquivos da Torre do Tombo (1779), João Manuel Guerreiro de Amorim Pereira,
como bacharel de Coimbra, sendo depois Conselheiro e Ministro da Fazenda,
desligando-se da “rica casa de lavoura”, que tinha em Gondarém. Alvitra-se que
seus pais seriam João Amorim Pereira e D. Ana Maria Guerreiro. O nascimento
deste filho dá-se pelo ano de 1756, ao qual também se juntaria Manuel Caetano
Guerreiro de Amorim, chefe das milícias de Cerveira, além do famoso Cónego da
Sé de Braga, João Crisóstomo, mas sem confirmação de tal irmandade. Aponta-se
que a filiação deste agregado familiar teria três homens e duas mulheres. Por
outro lado, as referências a D. João Amorim Pereira apontam para o ano de 1798.
Estas datas não se coadunam com a reconstrução da dita Quinta do Outeiral que
se presume que aconteça no século XVII.
A nível da tradição popular a
"quinta do Cónego" passa a ser conhecida como a "quinta do
Lima". Os novos senhores da família Lima investiram o suficiente para a
requisição deste nome. Mas, a habilidade jurídica do antigo Cónego da Sé de
Braga foi essencial no registo definitivo da propriedade, cuja data de óbito é
de 5 de Outubro de 1855.
A antiga burguesia rural tinha,
nas suas quintas, a fonte dos seus rendimentos. Nos séculos anteriores à
industrialização, que acontece no século XIX, a riqueza agrícola provinha da
exploração da natureza, e, também do trabalho dos seus servos. Nos tempos de
António Joaquim Fernandes Lima, a atividade agrícola recaía sobre os seus
proprietários, que estavam sempre presentes na quinta. Além disso, a sua
posição social tinha sido reconhecida nas funções da direção da Santa Casa da
Misericórdia de Vila Nova de Cerveira. Mas, por tradição laboral,
desenvolviam-se duas castas ou linhagens de sucessão: os donos ou proprietários
e os caseiros ou feitores, que tratavam das quintas, que se tornavam tão
importantes como os seus patrões. A quinta do Lima, essencialmente agrícola, em
pleno século XX, virá a sofrer desta dualidade de exploração, por ausência dos
seus senhores. A dita "quinta do Outeiral" conserva, através da sua
padroeira, o seu nome de Ana, que se reflete na família Lima.
4 – A QUINTA ALMEIDA BRAGA
Nos anos de 50 a
60 do século XX, a modernização da quinta dos "Almeida Braga" sofre
obras de enorme beneficiação. Dois novos portões são erguidos, a casa dos
caseiros é aumentada e modernizada com novas instalações em pedra, um espaço
novo de jardim é desenhado e comprado. Nos seus trilhos, a quinta reluz
fisicamente com a nova maquinaria de exploração agrícola. Os tratores e as
modernas alfaias agrícolas regurgitam de um modernismo que se opõe ao atraso
dos pequenos agricultores, com os seus carros de bois, cujo maior expoente é a
exploração agrícola da ilha da Boega.
Num cenário
idílico, um pavão com o seu leque florido, juntamente com dois cisnes brancos e
um preto, debicam no verde e recente jardim, que ultimamente tinha sido
adjudicado, para maior espaço da quinta. No lado nascente, um novo portão de
alvo granito, construído por mãos do mestre em cantaria José Abreu, surgia como
fechamento e aterro do antigo “caminho número um” da rua da Igreja, que ligava
a EN 13 à paróquia, construído em calçada portuguesa, por volta dos anos trinta
do século XX. Deste modo, quatro portões, como outros quatro pontos cardeais,
fechavam o espaço da quinta, e no seu lado poente, um destes funcionava como
entrada, na sequência dos Caminhos de Santiago. Em frente, à casa do Paço
emergia um espaçoso jardim francês, com a sua típica piscina dos anos 30, em
que floriam vistosas camélias de aroma primaveril. Na janela, frente ao jardim,
o dr. Luís de Almeida Braga advogado e político, deliciava-se com o panorama da
paisagem.
O jardim é uma extensão da
casa pela natureza, inserindo-se como elemento natural de decoração na
arquitetura da construção da quinta, através das suas escadarias e arcadas, que
se enfeitam com as cores e as flores, seja dos cedros e ciprestes, seja das
japoneiras e roseiras. Os pequenos lagos ou pias graníticas encaixam-se na
geometria dos jardins de formas redondas ou retangulares devolvendo a frescura
natural ao seu espaço decorativo.
Ao Portugal
“cinzento e triste ”, refulgia nas suas vestes brancas da nova burguesia
canarinha, a quinta do “glamour” luso-brasileiro, que “alegremente” se
deleitava nos seus verdes jardins e graníticas escadarias. Ao seu brilho e
festividades não faltaram “presidentes” das terras do Brasil, e, várias figuras
distintas.
A quinta dos
“Almeida Braga”, símbolo de riqueza e ostentação, resulta do casamento de
Carlos de Almeida Braga (1858-1918) e Ana Fernandes Lima, sua legítima
proprietária. A quinta, separada fisicamente
pelo antigo Caminho de Santiago, encontra-se dividida na parte nobre e na parte
agrícola. Deste modo, três edifícios compõem o seu conjunto: o solar do paço do
senhor ou proprietário com as suas varandas panorâmicas, a casa do vassalo ou
feitor com a sua adega e moinho, e, finalmente, do outro lado da via, a casa do
caseiro ou agricultor com a pocilga e vacaria, e, demais alfaias agrícolas.
A ilustre
família dos “Almeida Braga” enalteceu esta localidade, não só, economicamente
(quer em Portugal, quer no Brasil), mas também, de uma forma intelectual. A sua
estirpe e grandeza intelectual camuflavam-se neste recôndito reduto, para
desferir os seus ataques intelectuais ao regime vigente.
A riqueza
económica despontará, sobretudo, em terras brasileiras através do seu expoente
máximo, o famoso “Braguinha” – António Carlos de Almeida Braga, banqueiro,
nascido em São Paulo, em 02 de Julho de 1926, filho de Lucon Quirino Pereira
Bueno e de António de Lima de Almeida Braga, irmão do famoso “advogado de
Braga”.
Luís Carlos de
Almeida Braga é o expoente máximo da família, a nível intelectual, sendo um
insigne advogado, escritor, jornalista e político, com várias obras publicadas;
das quais, não carecem análises, teses e dissertações. Mais conhecido por Luís
Almeida Braga, nasceu a 20 de Novembro de 1886, na freguesia de São João do
Souto, em Braga, e, faleceu em 2 de Março de 1970, em Lisboa.
Após os anos 70,
a quinta dos “Almeida Braga” perde o seu fulgor que brilhou, durante um século,
no Baixo Minho ou no Noroeste Peninsular, já que o Brasil se tornou na sua
continuidade, apesar do seu reduto em Sintra, pelo ano de 1977.
P.S. Obras de Luís de Alameida Braga
·
A Questão Ibérica - A lição dos Factos, 1916
·
O Culto da Tradição, 1916.
·
Mar Tenebroso, 1918.
·
O significado nacional da obra de Camilo, 1923.
·
Paixão e Graça da Terra, 1932.
·
Sob o Pendão Real, 1942.
·
Posição de António Sardinha, 1943.
·
A Revolta da Inteligência, 1944.
·
Nuvens sobre o Deserto, 1954.
·
Espada ao Sol, 1969.
N.B. Polémica com Camilo Castelo Branco - " O Primeiro Acto" de João Joaquim de Ameida Braga, 1865. (Citação. - "Mistérios de Lisboa"- de C.C.B.)
Ilustres Bracarenses: Carlos Almeida Braga - O Julgado de Guerra (pág.154)
João Joaquim de Almeida Braga - O Bondoso Prosador (pág.127)
N.B. Polémica com Camilo Castelo Branco - " O Primeiro Acto" de João Joaquim de Ameida Braga, 1865. (Citação. - "Mistérios de Lisboa"- de C.C.B.)
Ilustres Bracarenses: Carlos Almeida Braga - O Julgado de Guerra (pág.154)
João Joaquim de Almeida Braga - O Bondoso Prosador (pág.127)
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