Acordo com uma imagem que me persegue durante a
manhã inteira sem sequer conseguir desligar-me da sua infância.
Parece que ela despertou como sinal de qualquer
coisa indesejável, mas de forma presente e atuante; como um longo pecado oculto
de qualquer furtiva ação, desferida numa manhã inocente, envolta numa mancha de nódoa sobre uma toalha límpida
e reluzente.
Desativada do meu cérebro durante anos, senão é
sono é chama viva, cuja reminiscência aflora com novos dados e desconhecidos,
que escondem qualquer mensagem oculta, não decifrada no tempo da sua
existência.
E, toda esta situação díspar e absurda acontece com toda a sua doçura, em plena
alva da madrugada, em que o sol desperta na suave e límpida aurora. A tonalidade
da sua luz é de um branco alvo e reluzente, plastificado e brilhante, algo parado, que
no seu movimento reaparece e destoa da sua normalidade.
O quarto de um “doente institucional e
dependente” refresca a tonalidade da luz do raio da manhã dizendo que a vida se
abre perante o seu horizonte, como um vazio a preencher suavemente com a
candura da luz que dura e perdura na sua intermitência.
A luz do quarto do “doente institucional”, cuja
condenação emerge do trato e contrato com a vida, ilumina-se noutra esfera de
brancura, cuja alvura não é alva, mas é pura, de um destino que perdura,
enquanto a cor de um nada estético se confronta na sua simples e bela doçura.
A telúrica e vítrea imagem refulge na sua plasticidade, inocência crua e nua, em que o único matiz alvo da sua cor é a esperança na cura da dor,
que se move incolor.
Com efeito, o cérebro um viciado na criação de mapas o que o leva a mapear o seu próprio funcionamento –e, de certa forma, falar consigo próprio. António Damásio, "O Livro da Consciência", (pag. 236).