Um certa tristeza e impotência
desprendia-se do seu rosto quando normalmente estendia o seu olhar sobre a
relva da “Cité Universitaire”. O tapete verde que circulava ao redor das casas
de estudantes esmorecia taciturno quando se avistava “La Maison d’Espagne”. Vedada
ao convívio estudantil, permanecia fechada como um “bunker”, que o regime
franquista teimava em manter como símbolo da cultura hispânica. Por isso, quando a
temática política ressurgia nos seus pensamentos, uma vaga de inconformismo e
revolta mergulhavam-na numa certa onda de melancolia e terror. A “Casa de Espanha”, imprimia-lhe um novo e fundo poço de tristeza, que invadia aquela latino-americana, que nada
devendo ao antigo processo de colonização, se relembrava da sua longínqua terra,
cujas praias, afortunadamente, eram bafejadas pelo Pacífico. E, apesar da distância e da saudade, ecoava
dentro do seu coração, aquela canção de Violeta Parra, do seu Santiago do Chile,
já do ano de 1966: «Gracias a la vida que
me há dado tanto…».
Por cima de
todos os infortúnios, tristezas e alegrias, o sentimento de vida desabrochava
florido como uma primavera. Os debates políticos, por vezes, eram bastante disputados
e acalorados nas salas de tertúlia e nas mesas dos cafés que os chilenos
ocupavam na margem esquerda do Sena; cantando, por vezes: «gratias a la vida que me há dado tanto...».
O “Quartier Latin” rebentava pelas costuras de
refugiados políticos, anarquistas, idealistas de todas as fações. Mas, no meio
desta turbulência de ideais, surgia uma certa e profunda tristeza, que se
aproximava deste personagem: “recorda-se de que uma vez, durante o exílio em Paris,
lera um romance de Ramón Diaz Eterovic, intitulado “La ciudad está triste”, e, encostado
ao balcão de la Petite Périgourdine, o bar de Saint-Michel onde, sem motivo
aparente, iam sempre parar os latino-americanos, tinha chorado com a descrição
magistral da tristeza santiaguina feita pelo autor. (Sepúlveda, Luís - “A
sombra do que fomos”, pg.17, 1.ª Ed., Porto Editora, Lisboa, 2009).
Por ironia do
destino e aproximação geográfica, ao cântico chileno de “Gratias a la vida que ma ha dado tanto...”
juntava-se a melodia do “Funeral de um Lavrador”, que do Brasil ecoava pela voz de Chico Buarco, dois
anos mais tarde, em 1968.