Seguidores

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

EUROPOLITIQUE: Os estuques da “Casa do Souto”, ou, "Casa dos Bicos" e a sua garagem de coches.

 

 

Casa do Souto, ou, Casa dos Bicos  (séc. XIX) 

Em 1866, o jornal “Commercio do Porto” anunciava que «a estrada de Vianna a Valença por Caminha está aberta ao transito em toda a sua extensão». Presume-se que a antiga estrada nacional (E. N. n.º 13), cujo traçado diverge do percurso atual, nesta localidade, tenha chegado ao alto da Mota, por volta do ano de 1860. Em Gondarém, descendendo em direção ao lugar de São Sebastião, em plena curva da antiga estrada nacional, situa-se a “Casa do Souto”, ou, “Casa dos Bicos”.  A  construção deste edifício, remonta, em nossa opinião, ao ano de 1864, divergindo da data do “Diário do Minho” de 22.03.2015. É, com a chegada da estrada nacional a Gondarém, que se desenvolvem algumas novas construções, ao longo do seu percurso, das quais se desataca a “casa das janelas triangulares", ou, em "bico".


A “Casa dos Bicos”, ou do “Casa do Souto”, insere-se no movimento da arquitetura romântica, que atinge o seu esplendor entre os anos de 1825 a 1875, com portas e janelas altas (neste caso, triangulares), varandas com sacadas em ferro fundido, jardins e estatuetas, cujo edifício se resguarda através de muros com grades e portão de ferro forjado, em estilo “Arte Nova”. Fazia parte do património desta casa um edifício, ao lado, que perdeu a sua originalidade.

 

 O último bastião da recolha e “garage” de animais “de trote”, ou seja, de coches, liteiras, ou, carroças puxadas a cavalo foi adaptado a casas de habitação. Este espaço de terreno, com as suas cochias, tinha muros gradeados e um portão de ferro forjado, cujas instalações faziam parte da “Casa do Souto”. Esta edificação, presumivelmente, servia de apoio e lenitivo às comitivas de trens a cavalo e seus transeuntes, que viajassem na estrada nacional (E.N. n.º 13). Ao seu lado, no lugar de Agoeiros, dispunham de uma hospedaria, ou “tabernae” que pertenceu a D. Maria Joaquina dos Santos, aquando das obras do Caminho de Ferro. Infelizmente, a cocheira foi ocupada com casas de habitação, na sua parte superior, ainda que permanecesse intacta até aos anos oitenta, do Século XX.


Foram necessários mais trinta anos, para que o primeiro automóvel entrasse em Portugal. Em 11 de outubro de 1895, o conde Jorge D’Avillez compra o primeiro automóvel da marca francesa “Panhard & Levassor”, e com uma velocidade 15 km/ hora,  atropelou um burro na estrada, (com a devida indemnização). A antiga garagem, cocheira e cavalariça da “Casa do Souto” remonta, presumivelmente, aos anos de 1865, tendo sido um edifício emblemático nas redondezas, funcionando como reduto de uma era, que as máquinas e os automóveis iam desmoronar.


Os seus tetos de estuque revelam uma beleza e cuidadosa decoração, que se deve ao laborioso trabalho artístico de alguns artesãos, oriundos de Vilar de Mouros. Mestre Antonino é um símbolo destes artistas, que viveu e casou em Gondarém, no lugar de Agoeiros. Cal e gesso eram os ingredientes naturais, mas as cores com pó na massa (amarelo, azul, ou, óxido de ferro para o vermelho), revelam saberes no ofício do “estuque de ornato” e suas artes decorativas, cuja mestria se associa ao talento do Mestre Antonino.

Obs.

(1)  Reportagem do “Diário do Minho”, suplemento “Património”: “A Casa do Souto, ou dos Bicos”, de 22 de março de 2015.

(2) "Commercio do Porto”, 30 de setembro de 1866, cf. Arquivo Municipal “Sophia de Mello Breyner”, Câmara de V.N. de Gaia.

(3) Para consulta futura: “Dos caiadores aos estucadores e maquetistas vilarmourenses”, vários autores, Vilar de Mouros, Caminha, 2009.

(4) «A casa do Souto mandada fazer pelo dr. Teotónio e sua mulher D. Maria, ele o mais distinto médico de Lisboa dos fins do séc. XIX e princípios de XX, foi legada ao seu afilhado José Manuel que casou com uma longínqua prima minha Mimi Silva, irmã da escultora Amélia Carvalheira, os herdeiros filhos do José Manuel venderam-na nos finais dos anos 70 ao engenheiro Alberto Mesquita recentemente falecido». (Testemunho do Dr. Álvaro Guerreiro)

EUROPOLITIQUE: Recordando "Platero y Yo" ....Juan Ramón Jiménez

  Na minha tenra idade escutava os poemas de “ Platero y yo” , com uma avidez e candura própria da inocente e singela juventude, que era o ...