No final do século XIX, a maioria dos países europeus tinha alfabetizado os seus habitantes, enquanto que existiam 78,6% de analfabetos em Portugal. Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, gerou-se um certo vazio geral na educação do Reino, apesar da criação de centenas de escolas por “Carta de Lei de 06.11.1772”. As invasões francesas e as suas tropas, que passaram pelas terras minhotas, afugentaram a Família Real para o Brasil (1807-1811), dando origem à luta pelo poder político, em Portugal, que tão bem transcreve Camilo Castelo Branco nas suas “Novelas do Minho”. Apesar de um certo anticlericalismo literário, as vocações religiosas floresceram nestas terras do rio Minho, e, de Braga, em que se quedam registadas 35.000 inquirições de "genere vita et moribus", nas quais se inscrevem os pedidos de "São Pedro de Gondarém".
São Pedro de Gondarém tornou-se uma coutada de vocações religiosas, ávidas do ensino, e, norteadas pelos ideais religiosos. Alvitra-se que existiu uma "escola de latim" na abastada "Casa Gouvim" da família Guerreiro, apoiando este movimento de vocações para o clero secular - paróquias, ou, para o clero regular - ordens religiosas. É, após o concílio de Trento (1547-1563), que se dá uma autêntica rutura entre a “igreja medieval” e a “igreja dos tempos do Renascimento”, já bem perto do século XVII, de renovada literacia na Igreja. Em 1571, Frei Bartolomeu dos Mártires criou o seminário de Braga. Os registos de genere" (candidatos ao sacerdócio) do "Arquivo Distrital de Braga" surgem desde o ano de 1616 até ao ano de 1911 (ano da criação do Registo Civil pela República, com os seus 75% de analfabetos). Neste tempo, no lugar do Calvário de Gondarém funcionava uma escola pública, (aliás, estas são fruto da Revolução Francesa).
“Dinheiro e recibos” faziam parte destes pedidos dirigidos ao Bispo, ou, à Mitra, cujo "processo de habilitação" era condição da prerrogativa de “prima tonsura”, além de outas concedidas pelo poder régio (isenção do serviço militar). Como marco desta geração de candidatos, que se enraízam nas terras de São Pedro de Gondarém, de onde são naturais, elaborou-se esta cronologia.
O processo de habilitação iniciava-se com a petição do habilitando dirigida ao Bispo da diocese de Braga, onde constava a filiação, a naturalidade dos pais, os nomes e naturalidade dos avós paternos e maternos, cuja lista deve a sua origem a São Pedro de Gondarém (1635 - 1911), segundo esta cronologia do “Arquivo Distrital de Braga”.
Século XVII
1653 – Francisco de Sá Ferraz (02.12.1653) – padre
1690 - Luís
Sousa Silva (20.04.1690).
Século XVIII
1703 –
Francisco Afonso (05.01.1703)
1708 – João
da Silva Vale (27.01.1708)
1713 –
Domingos Domingues Levado (20.10.1713)
1725 – João
Alves (22.08.1725)
1730 –
Domingos Mota (11.02.1730)
1732 - João
Domingues da Mota (11.02.1732)
1732 - João
Domingues Carneiro (18.07.1732
1732 – João
Marcos (28.11.1732)
1733 – João
Costa Rubio (22.04.1733)
1734 - João
Lourenço (19.04.1734)
1735 –
Manuel Barbosa Coelho (22.04.1735) – padre
1744 - António Quaresma (01.01.1744) - padre e desembargador (Peniche).
1748 - João Francisco (26.03.1748)
1754 –
Domingos Lourenço Feital (22.07.1754)
1755 – João
António Lagos (03.03.1755).
1755 - João
Manuel (15.02.1755)
1760 – João
Lourenço Lobato (05.05.1760)
1762 – João
Pereira (29.07.1762) – padre
1774 – João
Alves (14.10.1774) - padre
1778 –
António João (15.04.1774) – presbítero secular
1778 – Sebastião Luís Feital (19.06.1778) - padre
1778 – Pedro
António da Cunha (25.08.1778)
1783 –
Manuel João Lourenço Guerreiro (20.02.1783)
1783 – João Rodrigues Pereira (22.09.1783) – padre
1785 – João
Alvares Moledo (12.09.1785)
1786 – Bernardo
Fialho de Mendonça e Andrade (13.03.1786) - padre
1786 - João Lourenço Feital (Minas Gerais) - Cónego da Sé Mariana -Br.
1786 - Sebastião Luís Feital
1787 – João
Manuel Guerreiro (30.05.1787)
1790 –
António João Outeiral (29.05.1790) – padre
1792 – João
Manuel Araújo (22.08.1792)
Século XIX
1804 –
Basílio António Ramalhosa (06.03.1804)
1809 –
Bernardo José Guerreiro (22.02.1809)
1812 - João Manuel de Sousa Guerreiro (06.03.1812)
1817 – José
Benedito Barbosa Andrade (23.07.1817)
1819 – João
Crisóstomo Guerreiro Amorim Pereira (23.11.1819) (+05.10.1855).
1821 –
Manuel Gonçalves Barroso (12.03.1821)
1822 – João
Manuel Outeiro (01.06.1822)
1829 – João
Pereira (22.01.1829)
1832 –
Francisco Alves Linhares (23.03.1832)
1843 – José
Martins Araújo (19.10.1843)
1877 - Manuel Franco Pedra (10.01.1877) - Pároco em San Petri Gondarém (V.C.)
1899 - João Caetano Afonso Ribas (o1.01.1899)- Pároco em San Petri Gondarém
1889 –
Alfredo José Marins Guerreiro (15.01.1889)
1889 –
Inocêncio Carmo Martins Guerreiro (28.02.1889)
1889 – Luís
Maria Gonzaga Barbosa (11.03.1889)
1908 - José Teixeira de Andrade (01.04.1908) - Pároco em San Petri de Gondarém.
N.B.
«Processos necessários para a ordenação de párocos. Consistem na inquisição de testemunhas para comprovar a filiação, reputação, bom nome ou “limpeza de sangue” do requerente. Incluem os seguintes documentos: requerimento inicial, carta de comissão, inquirições de genere a testemunhas e declarações dos párocos. Estão incluídos nesta série processos de Justificação de Fraternidade que são requeridos quando há, na família, alguém ordenado e com inquirição de genere elaborada e concluída». (Arq. Distrital de Braga, 1616).
P.S.
Atualmente, a arquidiocese de Braga abrange 551 paróquias,
com cerca de 850.000 habitantes; a diocese de Viana do Castelo possui 291
paróquias, com cerca de 250.000 habitantes. (Ou seja, a zona da ribeira Lima/ Minho, que da Galiza do Norte se afastou, tem 1/10 dos seus habitantes, ou seja, dos 2 698.718 galegos).