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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Episódios angolanos.4. "Ícaro em prisão"



Reluziam os Mercedes prateados conjuntamente com os fatos acetinados de encontro ao edifício envidraçado em plena rua curvilínea, já que tão nobre “embaixada” se vangloriava na sua fachada.

A “task force” policial exibia no colar branco da negritude dos pescoços as elegantes gravatas italianas de recentes quadros, avidamente encaixados na sua arte e ofício.

“Affair” que é “affair” requer tempo e emoção, estudo e caução, quando o “money” é da nação. (Parece, "maning nice".)

A estadia prolongou-se pelo mês em frente, tal era a exaustão e profundidade da problemática envolvente, não fosse a eficácia reduzir a uma semana este imbróglio, cujo novelos entreteciam a sua urdidura.

Ocasionalmente, os desvios tornavam-se uma certa constante, dada a profusão monetária do jorro de petróleo que inundava e ensopava em terra africana.

Existiam algumas somas que dadas a sua exorbitância planeavam pelas folhas dos jornais esfumando-se como nuvens de tabaco, ou, recaíam na alçada de uma esmerada justiça, todavia, este pequeno “affair” tornara-se um verdadeiro “case study”.

Toda a aquisição de aprendizagem nos meandros da sua engrenagem despertava o interesse desta “task force” policial, deslocada propositadamente de uma capital africana para outra capital europeia.

Por isso, o prolongamento da sua estadia não se devia tanto à vil soma monetária, mas tanto à argúcia do seu mentor. Como foi possível que um simples amanuense tivesse a ousadia de disparar, em catadupa, alguns milhões de dólares das contas do erário público?!...

A conta hoteleira dependia da habilidade do sistema de ratoeira. Deste modo, a vileza de tal acto devia-se superar pela nobreza dos fatos acetinados, condizentes com os Mercedes prateados.

Quando a soma é pequena torna-se um roubo; e casa roubada implica trancas na porta, quando a soma é grande torna-se desvio, sumiço ou feitiço.

Várias vezes, Demóstenes consultou o curandeiro, célebre pelas suas “macunbas” no bairro “Roque Santeiro”, na periferia de Luanda. Aspergiu os documentos com uma cândida benzedura para que o seu voo até Lisboa levasse um verdadeiro sumiço e feitiço. Mas como a mercadoria era demasiado pesada, este incauto Ícaro não previu o sol reluzente destes agentes, e, tornou-se num osso e um quebra-cabeças para a “task force” policial que transformou uma semana num mês de aturada e criteriosa investigação.
Mas quem rouba a ladrão, tem sempre cem anos de perdão!...

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