«É o Álvaro Cunhal, não é? Perguntei-lhe. O líder histórico do PCP estava sentado ao lado do condutor» - relata, na primeira pessoa, o jornalista António Caeiro, no seu artigo “Paris-Lisboa: o autocarro da liberdade”, na Revista Expresso de 13 de Abril de 2019.
No interior do Consulado e na figura de chanceler,
questionava-se diretamente a figura e personagem de Cunhal ao simples empregado
consular que lidava com o sector público. Longe de tais referências, somente se
prolongava um vácuo em tal interrogação, todavia informando que o dr. Cunhal reclamava
um passaporte para entrar em Portugal, após a Revolução dos Cravos, 25 de
Abril.
«O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP),
Álvaro Cunhal, também foi ao Consulado de Paris requisitar um passaporte. Não
pediu para se avistar com o cônsul, nem se misturar com os outros exilados.
Ficou a aguardar na rua, dentro de um automóvel estacionado a uma dezena de
metros da porta» - prossegue António Caeiro.
Efetivamente o dr. Álvaro Cunhal não entrou no Consulado, nem
tinha o cabelo preto como referência de uma certa pessoa, mas enviou três
correligionários na missão espinhosa de obter um passaporte, desviando-se de
uma sala de espera, pouco agradável no seu odor, e de se imiscuir com a floresta
ideológica de milhares de desertores, já que a sua fuga de Portugal custara 700
contos, naquela época, (Janeiro de 1960).
Álvaro Cunhal sempre gozou de uma “aura” própria de um líder
lendário, a cuja indagação sempre nos furtámos, embora, uma ou duas ocasiões,
se tornassem propícias a este questionamento.
Todavia, neste artigo a “corrida ao consulado” parece
defender um “discurso político”, digno de uma certa diplomacia, em que o
“arquivo diplomático” surge como “prova documental” de uma realidade que não
reflete a “real política”, que elevada ao seu extremo não é mais do que "puro
branqueamento".
A “corrida ao consulado” não se deve confundir com “assalto
ao consulado”, cuja planificação envolvia elementos internos e externos. A sua
execução estava dependente da reação da polícia francesa, e dos possíveis prejuízos económicos do seu
desfecho, ou seja, a violência pairava
como “machado de guerra”. Esta planificação era comandada por certos elementos
conotados com a LUAR.
A pressão sobre a emissão de passaportes foi exercida pelos
estudantes portugueses de Nanterre, cuja liberdade estava limitada à circulação
na Europa e em Portugal. A consciencialização deste problema junto dos
funcionários do consulado originou o envio de um telegrama para Lisboa, que na
época custou cem francos,e cuja resposta ficou nas "calendas gregas".
É normal que o “arquivo diplomático” exiba dois telegramas
para suster um discurso diplomático eivado de receio, medo, e, sobretudo de hipocrisia, já que a luta dos funcionários consulares originou a deserção de dois trabalhadores, face à inércia diplomática, à qual não fica imune o próprio ministro do MNE da época.
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