«Todos tínhamos
passaporte válidos, alguns dos quais emitidos na véspera pelo Consulado de
Paris e assinados por um chanceler com um apelido particularmente simbólico: Portugal,
Fernando Raul Portugal» - relata António Caeiro.
Nessa época, Abril de 1974, os dois chanceleres do Consulado
Geral de Paris, um homem e uma mulher, não tinham, nem identicamente, nem
simbolicamente, qualquer ligação a esse
nome.
Claro que “telefonar para Portugal era caro e difícil; não
havia ligações diretas”. Por isso, a cotização do telegrama para Lisboa, feita
pelos empregados do Consulado, nunca teve resposta. A reunião plenária dos
empregados consulares por causa da emissão de passaportes ficou inconclusiva.
Desta forma, a exibição de tais passaportes deixa várias suspeitas na sua
obtenção, fazendo recordar o sectarismo da sala da Mutualité.
Este impasse, ou, falta de clarificação deve-se à falta de
demarcação entre o “poder político” e o “poder militar”. Aliás, foi por decreto
de Ramalho Eanes, que os refratários e desertores começaram a ter permissão de
entrada no País, e de regularizarem a sua situação militar, embora algumas
pessoas fossem detidas nas fronteiras aéreas. Os avisos de captura perduraram
apesar de legislação contrária, ou, seu desconhecimento.
“Houve momentos difíceis, mas nunca situações de
agressividade ou ameaças”, porque prevaleceu o bom senso, razão e clarividência
sobre problemas, que não sendo resolvidos foram tardiamente solucionados com o
empenho e colaboração dos funcionários do Consulado, mas não com as instâncias
superiores, pouco sensíveis aos direitos humanos e ao florescer da democracia.
É, por isso, que as superiores estruturas do Consulado e suas
instâncias, temendo o poder popular, ou, a sua insurreição se refugiaram e camuflaram
sobre ideais que nunca tiveram nas suas ideologias.
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