“Temos o sentimento de que a democracia é fraca em comparação com o mercado. Há como uma impotência política por oposição à hiperpotência económica. Há uma ferida democrática que se concretiza numa decepção democrática. As pessoas não votam. Há uma grande desconfiança em relação aos políticos, até porque a esquerda e a direita fazem o mesmo” – Gilles Lipovetsky.
“As pessoas não votam”.
Os ideais das pessoas, ou, a sua filosofia de valores submete-se à lei do consumo.
Pouco se compreendem os mercados neste mundo da globalização, embora «o consumo não “esteja” concebido para nos dar felicidade».
Cria-nos a ilusão da felicidade, ancorada na perspectiva do outro, na ânsia da emoção, no gozo do efémero.
Nesta ilusão da felicidade de consumo procura-se, avidamente, a segurança e a estabilidade.
A incerteza, o medo e o pânico sobrevoam esta ilusão de felicidade que a impotência da política não consegue satisfazer.
Por isso, a conciliação entre a “liberdade dos indivíduos”, cada vez, mais ansiosos de felicidade, de consumo, de novidade, de emoção e satisfação contrasta com a “liberdade dos povos” (estado) nas suas funções de modelo de organização económica, social, política e militar .
“O poder do mercado, o liberalismo económico reduziu o outro liberalismo, que é o liberalismo político. O ideal da democracia. O poder do mercado estrangula a liberdade da governação. No mundo de hoje, há uma hipertrofia do mundo capitalista, do mercado, que faz a democracia perder o poder que tinha no que chamo a primeira modernidade. A primeira modernidade foi uma idade revolucionária em que e a política mandava. Hoje não.” – Gilles Lipovetsky
Hoje, os estados tem de entrar numa lógica de rentabilidade, eficácia e lucro. Mas esta não é a função do estado, portanto serão um conjunto de empresas que garantirão ao estado a manutenção do seu aparelho, através do imposto das acções. Sem um conjunto de empresas de “marca” no mercado da globalização, a tarefa de qualquer estado mantém-se inglória. Todavia, este conjunto de empresas tem de se ancorar na força da “sociedade civil”, na capitalização do chamado “capitalismo popular”, como âncora da sua identidade endógena.
Apesar da tendência mundial para o hiper consumo que rodopia na lógica individualista da ânsia da novidade, da emoção, da fugaz felicidade, do efémero consumo, uma certa “liberdade dos povos” passa pela sua capacidade de diferenciação, da sua cultura genuína, do seu potencial turístico, da sua arte culinária, quando a técnica se esvanece do seu astral.
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