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sábado, 6 de março de 2010

Os deuses africanos calaram-se para escutar Alá.

Caminhava-se, em sentido inverso ao nostálgico Portugal, pisando a rua de Lisboa, face à ponte do rio que serpenteia a cidade de Berna. De súbito, concentra-se o olhar numa metálica grua que desfigurava a cidade, que, em catadulpa onírica, içava um conjunto de minaretes, cujos alvos reacendiam misséis bélicos em direcção ao azul celeste. A pulsão onírica desvinculou-se, vertiginosamente, em direcção à placidez africana.

A brisa do vento roçava, suavemente, as palmeiras e coqueiros, associando-se ao chilrear dos pássaros, que em amenos voos anunciavam o novo dia. Uma certa quietude africana emergia pacífica e quente no pulsar da natueza. O cheiro da terra envolvia o pó da natureza humana, criando uma simbiose harmónica e idílica. Era uma simples manhã africana, e, como a natureza tem outras manhãs, outras auroras e horas acontecerão.

O privilégio do lugar mantinha-se incólume e sereno, face à mudança de outras naturezas. Mas aquela manhã, era outra, e afastava-se da manhã africana.A placidez silenciosa deu origem ao estridente canto árabe, que através dos seus minaretes, ferozmente anunciava a hora de oração ao seu Deus. A poluição sonora, legítima e religiosa, associava-se ao impacto estético de obeliscos imponentes. A manhã africana era diferente. O pacato subúrbio foi contaminado e invadido pela demarcação do espaço religioso.

Calvino pregava outro tipo de salvação ao Príncipe, mas os deuses africanos calaram-se para escutar Alá.

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