Resquícios de Maio
“1968 não foi o princípio mas o fim do socialismo (...). De certa maneira, 68 acaba em 1974, em Portugal” - Hitchens
A elite intelectual francesa demonstrava, por vezes, certas reticências ao socialismo russo. Habituados a receber alguns intelectuais soviéticos, permanentemente vigiados pela KGB, desconfiavam verdadeiramente do sistema russo, apesar de outros intelectuais morrerem de amor pela revolução bolchevista.
Aliás, era reconfortante assistir aos verdadeiros cenáculos de discussão idealista dos nossos parceiros sul-americanos, desde o México, Chile, Paraguai, Brasil e Argentina.
O declínio deste império acabou por acontecer, porventura, sem as ansiedades de Maio de 68.
A silenciosa revolução dos “filhos dos pequenos burgueses” desencadeou uma dinâmica social que contagiou o mundo nas suas mais variadas facetas.
Todavia a sua aversão ao capitalismo exerceu posteriormente uma verdadeira sedução pelas suas benesses, das quais alguns beneficiaram sobejamente. Aliás, um certo horror ao dinheiro criou descuidos na visão realista da vida, do qual Cuba surge como paradigma..
Alguns ideais concretizaram-se numa assaz democratização, incluindo aquilo que Hitchens declara que “acaba em 1974, em Portugal".
Todavia um certo cepticismo começar a invadir os sonhos e anelos que, por vezes, implicaram sacrifícios dos seus intervenientes.
A planificação económica nem sempre acompanhou este idealismo, nem a libertação do trabalho atingiu os desejos esboçados.
De certo modo todo este idealismo europeu recai sobre os ombros daqueles que se sacrificaram pela sua realização.
Sente-se que a factura é grande, e, que as garras do selvagem capitalismo aprisiona, de forma incontrolável, os ideais de Maio 68.
Um dos “slogans” do Maio de 68 era “a imaginação ao poder”.
Bem precisa esta Europa que o poder tenha imaginação, ideias novas, consistentes e suficientes para criar um “élan” mobilizador dos povos europeus nesta época sombria, dispersa, parcelar.
.N.B. Dedicado a Hitchens (célebre jornalista americano)
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