Imbuído de acutilante voz
de altaneira fraga ribombava:
“Senatores romani”...romani...
Atónito quedava-se qualquer viandante
por sibilina oratória cantante.
Se Demóstenes na praia treinava,
a urze, o seixo e o pinho adorava
os gorjeios de tal orador iniciante.
O estro poético, em mítica figura,
alastrava-se em utópico devaneio
e a passagem da raia em permeio
deu prisão ao ousado trovador
com um baú de livros ao redor.
A triste sina de ser desertor
esconjurava maldição e dor.
Os ferros gemeram com tal ardor
num mês se abriram ao libertador.
A pátria gemia de saudades
e a língua de Camões sem idade
-“Esta ditosa Pátria amada”-
transitou por outra nacionalidade
a quatro lustros condenada.
“Por aqui não passou Cristo”
tão atrasado estava tudo isto!...
mas o poeta e orador perdura
e gravou sina em sepultura
pois a saudade é cultura
de sonho, amor e tortura.
(Emigrante, cavaleiro andante
de peito guerreiro,
não és o último, nem primeiro.)
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
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