Seguidores

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Episódios da Raia.2

Por duas vezes atravessara o rio. Uma vez, remando a favor da maré com o velho amigo da faculdade, outra vez nadando até à ilha da Boega e da ilha até à margem galega.
A dois metros da água, jazia impávido e sereno o passaporte. enrolado em suave casaco branco e delicadamente vigiado por dois sapatos.
O amigo ("cujo doutoramento implicou a vinda de um mestre françês até ao velho Porto") zarpou com medo e receio das rebuscadas rondas dos "carabineiros", cujos chapéus elegantes e azuis conjuntamente com o roncar das suas motos assustavam a taciturna e tranquila margem do rio.
Deambulava, atónito com tão inusitado desencontro!... Umas calças pendiam desalinhadas, amigavelmente cedidas por um galego conhecido, que por ventura nos ajudavam a pedir boleia.
A noite caía desesperada, alegremente confortada por um sono no banco traseiro de uma velha viatura. Pela manhã, a porta abriu-se sob o impulso de uma mão generosa, que nos estendeu um copo de leite quente.
"Quando não se pode ir para o mar, fica-se em terra!..." - diz o ditado
Acossado na fronteira, o meu amigo foi esconjurado de altaneiro "passador" e intriguista.
O rio brilhava em tons cambiantes de sedutora cor, inebriado com a beleza de uma doce donzela que se refrescava em voos de rapidez estonteante. E, da amargura dos dias anteriores soltou-se uma linha de liberdade, que somente os carris pararam na suave planície francesa!...
Adeus Eiras, Adiós Goyan!...

Sem comentários:

Enviar um comentário

EUROPOLITIQUE: Recordando "Platero y Yo" ....Juan Ramón Jiménez

  Na minha tenra idade escutava os poemas de “ Platero y yo” , com uma avidez e candura própria da inocente e singela juventude, que era o ...