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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

EUROPOLITIQUE: O Chafariz de "Santiago" na Quinta do Outeiral - Boega Hotel V.N.C.

 

Chafariz de "Santiago" na Quinta do Outeiral - Boega Hotel

Por volta dos anos de 1955, subia-se diretamente do "lugar da Sobrosa" para o "lugar do Couto", quando foi encravada no seu dorso, uma "piscina de pedra", por  obra e iniciativa da família Almeida Braga, para gáudio e deleite de antigos presidentes do Brasil, que visitaram esta quinta. O chafariz do séc. XVI, que embeleza esta propriedade, enquadra-se nos tempos dos "Caminhos de Santiago", sinalizando através das suas marcas, a autêntica via do seu percurso, até aos confins de Finisterra. A nível arquitetónico, o seu pedestal, em forma de irregular lago, apresenta uma "concha lateral", como símbolo da confirmação do percurso para os peregrinos de Santiago. Vários autores referem que nesta localidade existiu um albergue, ou, uma  "hospedaria", até mesmo, um hospital,  para as comitivas senhoriais, ou, simplesmente peregrinos ou romeiros que demandavam Santiago de Compostela.


Se o antigo "caminho da Igreja", n.º 1 da paróquia, assinalado em antigos "anais", se deixou ocupar por uma "piscina de pedra", para bel prazer de turistas, presume-se que o belo exemplar deste "chafariz medieval" continua a ser abastecido por idêntico aqueduto em arco, embora em local diferente. O abastecimento de água implicou o emprazamento de terras a montante, desde a nascente  até ao aqueduto de águas, erguido sobre o antigo caminho de Santiago. A obra deve-se a mestres canteiros, com habilidade para trabalhar o granito, dos quais urge salientar a família "Lopes", que durante os séculos XVI e XVII,  introduziram estas obras de arte, pelo Noroeste Peninsular; quer em Portugal, quer na Galiza.


Enquadra-se, portanto, esta "obra de arte", em pleno século XVI, como antigo  testemunho do abastecimento de água aos peregrinos, em direção a Santiago de Compostela. Este exemplar de chafariz, sob o cinzel do grande "mestre de cantaria"  João Lopes-o-Velho (1480-1556), certamente que  precedeu o "Chafariz de Caminha", obra com a qual atingiu o seu expoente de mestria em cantaria, já que "outros tinham sido erguidos", segundo rezam as crónicas da época. Ainda que , o "Chafariz da Praça de Viana", seja da sua autoria,  o seu acabamento deve-se ao seu filho, João Lopes-o-Novo.


O chafariz apresenta uma taça circular com coruchéu, onde se destacam conchas na sua base inferior, e, assenta sobre uma elevada coluna de granito lavrado. A base ou tanque, em forma de jarro ornamentado, também exibe  uma concha. A  queda de água  deu origem ao desgaste  da taça com coruchéu, formando uma bica, por causa da erosão. Estes elementos arquitetónicos remetem, naturalmente, para os símbolos dos peregrinos de Santiago. A “Concha de Santiago” era o símbolo do peregrino, elemento identificador  do seu caminho, e, prova fiel da devoção ao Apóstolo; cujos relevos exteriores da própria concha convergem para o único ponto de encontro - Santiago. Tal como,  “todos os caminhos levam a Roma”, toda a nova sinalética aponta e conduz a único ponto - Santiago. Além disso, o simples elemento da laje de granito na sua base, em forma de concha, simboliza a fecundidade e fertilidade que está associada à água; e, ao seu renascimento. 

Os albergues dos Caminhos de Santiago serviam como casa de acolhimento das comitivas senhoriais, ou, simplesmente de apoio aos peregrinos, onde encontravam alívio e descanso para as longas e penosas caminhadas; quer a pé, quer a cavalo. Os chafarizes saciavam a sede, refrescavam o corpo, e, consolavam o espírito da devoção e peregrinação. «Para o investigador Carlos A. Brochado de Almeida, esta casa poderá ter sido originalmente o antigo albergue para os peregrinos do Caminho de Santiago, que se atribui ao Paço do Outeiral» (Cf. Diário do Minho, Supl. Património, 15 de fev. 2015). Na reportagem anterior, o "Diário do Minho" de 02 fev.2015, evoca os Caminhos de Santiago, tal como surgem referências de outros autores, dos quais se destaca o jornalista Alfredo Castro Guerreiro - "Monografias do Concelho de Vila Nova de Cerveira - Freguesia de Gondarém", Edição da Câmara de V.N.C. 

Todavia, em nossa opinião, quer pelas marcas de conchas, quer por referências alusivas aos caminhos do Apóstolo, a principal evidência radica-se no "Chafariz de Santiago". Além disso, com a elegância deste chafariz das conchas de Santiago, convém salientar na década de sessenta do séc. XX, a construção dos três portais de granito, que embelezam a Quinta da Boega ou Outeiral, cuja autoria se deve ao grande "mestre de cantaria", José Abreu de San Petri Gondarém.

A Concha de Santiago  
N.B.
Como relata este documento, outros chafarizes precederam a construção deste grandioso fontanário em Viana do Castelo: «12 de julho de 1553, em ata de reunião da Câmara, [os vereadores] acordaram chamar o pedreiro João Lopes, 'por ser o melhor oficial que agora há nesta terra e experimentado por ter feito outros muitos chafarizes e por saber trazer as águas de onde é necessário'; acordaram que fizesse um chafariz novo como fez o de Caminha, 'e melhor se melhor se puder fazer', tirasse todos os canos rotos e quebrados até à 'arca' existente no Campo de Valverde »


 




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