A QUINTA DA LOUREIRA
Introdução:
A quinta ou solar da Loureira revela várias fases ou gerações, tempos ou épocas, na sua lenta e profícua edificação. Desde o século XVI até ao século XIX, sofre várias metamorfoses, que se desenvolvem, inicialmente, a partir das ameias de uma estrutura militar, (com o seu improvisado castelo de defesa), até à consagrada transformação de uma casa nobre, barroca e palaciana.
O desenvolvimento desta casa senhorial culmina, já, no início do século XIX, em que várias gerações interferem na sua imagem final. Várias famílias ilustram este solar com as suas gerações, tais como: a família Faria e Sousa (carreira militar), a família Ferraz Novaes (classe fidalga e nobre), a família Cadaval (origem galega e militar), a família Queiróz Ribeiro (intelectual e política) e, finamente, a família Sousa Coutinho (industrial e burguesa).
É, sobretudo, no início do século XIX, que se consolida a “beleza esteticamente barroca” deste solar com o seu imponente portão e o seu brasão de armas. A casa do Seixo, ou, atual quinta do Mirante, foi, certamente, a antecâmara da construção deste belo edifício, que exibe na sua face exterior uma capela, em honra de Santa Maria Madalena. "Brasão de armas, portão e capela" juntam-se a um belo fontenário, cuja origem remete para o claustro do Convento de Sampaio, em Loivo, Vila Nova de Cerveira. Sobretudo, três gerações enobrecem os pergaminhos das famílias desta casa, solar ou quinta: os primeiros através no ingresso na carreira militar e civil, os segundos pelo acesso à filiação na classe da nobreza, e, os terceiros pelo trabalho e empenho na indústria e burguesia.
Portanto, durante três séculos, esta quinta agrícola teve, na produção de vinho e criação de gado, a sua principal fonte de riqueza. Devastadas as vinhas e perdido o grande armazém da quinta, erguem-se os campos na sua verde nudez, salpicados pelas brancas casas dos antigos servos e feitores. Presentemente, encontra-se aberta às atividades turísticas, nas quais se inserem as antigas casas de apoio à lavoura, nas zonas circundantes, das quais se recorda a casa do Pascoal, do Agostinho, do António (antigos caseiros), da Piscina, do Pote, das Batatas I, da Coelha, da Batatas II, e, finalmente da casa do "Mirante", antiga casa Seixo, que deu origem ao solar, ou, à quinta da Loureira.
HISTORIOGRAFIA:
Prólogo
Implantada em pleno centro da freguesia de Gondarém, a Quinta da Loureira é um expoente da arquitetura barroca, que engrandece, de forma eclética, o património arquitectónico desta localidade, ou, freguesia de Gondarém. O edifício granítico, de cal branca rebocado, em forma estrutural de “L”, constitui a casa residencial, que se prolonga, no muro do seu “portão e brasão de armas”, até à torre do seu altaneiro castelo, que domina a paisagem em direção à beira rio.
Quase ninguém fica insensível ao seu esplendor, quando obrigatoriamente, atravessa a curva da estrada local, que ladeia esta extensa propriedade, visivelmente exposta ao seu exterior, através do seu pequeno jardim, embelezado com um belo fontanário, cuja origem se deve ao Convento San Payo. Esconde-se, no seu interior, o recheio familiar, através de um pesado portal de ferro forjado, cuja abertura dá para o átrio de acesso à casa senhorial, onde se avista uma escadaria, em granito lavrado.
A propriedade, dividida em quatro grandes parcelas, é um símbolo do latifúndio, numa zona típica de minifúndio, em que se ergue um mirante numa extremidade, em forma circular, apesar de apresentar sinais de ruína, ou, abandono. (Ainda que este miradoiro se confunda com a vizinha "casa do Mirante", que era a "Casa do Seixo"). As sucessivas imagens de fornos, adegas, espigueiros, aviários, pocilgas, juntas de bois, liteiras, parelhas de machos e matilha de cães simbolizam as diversas épocas, que atravessaram esta propriedade e sua exploração agrícola. Todavia, apesar das diversas vicissitudes temporais, a conservação deste património material e arquitectónico é fruto do trabalho e da riqueza, que várias gerações lhe consagraram.
Século XVII
Reza em algumas publicações que «o Solar dos Cadavais, ou seja, a Casa da Loureira, esteve sempre nas mãos da mesma família que o construiu entre os finais do século XVI e início do século XVII até aos dias de hoje». (Cf. Jornal do "Diário do Minho", in Património, 22.02.2015). A atribuição desta data de construção e a filiação reclamada aos "Cadavais" não coincide com a historiografia, que nos apraz desenvolver, ainda que a sua antiguidade possa ser remetida para este século. (Aliás, o primeiro título de "cadaval", em terras portuguesas, foi conferido em 1648, na zona do Alentejo. A origem deste termo, em relação ao Solar da Loureira, advém da influência familiar dos ilustres galegos: cadavaes).
Século XVIII
O sargento-mor de Vila Nova de Cerveira aparece como senhor das "Casas do Seixo e da Loureira", sobretudo, a partir de 1740.
Em 1737, a quinta do Seixo pertencia à viúva Maria da Silva, que pretendia construir uma capela, em honra de São José, de cujo edifício resta a sua fachada. A capela inacabada, ainda hoje exibe o seu frontão e pórtico principal, como emblema de uma promessa não cumprida. Entre este pedido eclesiástico, (com o respetivo registo de papéis), e a aquisição da Casa do Seixo, pelo Sargento-Mor de Vila Nova de Cerveira, transcorre um quarto de século, ou seja, vinte e cinco anos. Durante o século XVIII, a freguesia de São Pedro de Gondarém dependia da Comarca de Valença, apesar disso, afigura-se que a estrutura militar do atual edifício da torre da Quinta da Loureira tivesse sido edificada entre os anos de 1740 a 1760, por influência deste sargento-mor.
Em 1762, José António de Faria e Sousa, Sargento -Mor de Vila Nova Cerveira, casou-se com D. Maria Teresa de Novaes Ferraz de Gouveia, na igreja de Remelhe, em Barcelos, exibindo o título de Senhor das Casas do Seixo e da Loureira, em Gondarém, Vila Nova de Cerveira. Certamente que a construção do pequeno castelo de estrutura militar que se ergue altaneiro em relação à Casa da Loureira, se deve a este Sargento que se tornou Capitão-Mor das milícias de Cerveira.
Em 1794, o filho do Senhor das “Casas do Seixo e da Loureira”, António de Sousa Ferraz de Novais de Almeida aparece como Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Vila Nova de Cerveira, sendo filho de José António de Faria Sousa, Capitão-Mor de Vila Nova de Cerveira e de D. Maria Teresa de Novaes Ferraz de Gouveia, natural de Barcelos. Na senda da carreira do seu pai, em 1821, António de Sousa de Novais Ferraz de Almeida, torna-se Major de Milícias dos Arcos, exercendo funções militares. Todavia, a carreira militar carecia de laços nobres e pergaminhos distintos para a história da família.
Século XIX
Em 1824, como Major das milícias dos Arcos, António de Sousa de Novais Ferraz de Almeida pede a “Carta de Filiação” à nobreza, concedida pelo Rei D. João VI, em 22 de março, segundo relata José Leal Diogo (cf. Inventário da Heráldica Concelhia, Ed. V.N. C., 1981,29). Com esta autorização, constrói-se o brasão de armas e o seu imponente portão. Símbolo de várias gerações, o brasão da Quinta da Loureira, com ornatos “rocaille”, engloba várias armas de famílias nobres, tais como: Ferraz de Novais, Silveira e Sousa.
Em 1825, António de Sousa Ferraz de Novais de Almeida contrai matrimónio com D. Maria Jozefa Cadaval Correa, filha de José Maria Cadaval Correa e de D. Maria do Carmo Correa, senhores da Casa de Goyan, que foi inspetor e marechal de campo no exército espanhol, onde ingressou em 1800. Aliás, na sua monografia sobre “Portugal Antigo e Moderno”, Pinho Leal descreve esta quinta como “solar dos Cadavaes”, por causa da sua ligação a ilustres famílias galegas.
Em 1830, António de Sousa de Novais Ferraz de Almeida é eleito Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Vila Nova de Cerveira.
Em 1860, nasce Gaspar de Queiróz Ribeiro de Almeida Vasconcelos, natural da Guarda, foragido em Espanha, que contraiu matrimónio com Maria Josefa de Sousa Cadaval Novais Ferraz Ribeiro de Faria. Insigne poeta e ilustre deputado, faleceu em 1928.
Em 1874, fazendo jus à sua descendência e aos "fidalgos oriundos da Galiza" surge como proprietário da Quinta da Loureira, Francisco de Sousa Cadaval, segundo atesta a descrição de Pinho Leal, que na sua monografia sobre Gondarém, a menciona como "Solar dos Cadavaes". (Cf. Leal, Pinho, "Portugal Antigo e Moderno" Cap.III, pg. 302, 1874).
Século XX
Em 1900, nasce D. Emília Carolina Cadaval Queiroz Ribeiro (de Sousa Coutinho), filha do poeta e deputado Queiróz Ribeiro, que mais tarde se casa com Delfim de Sousa Pinto Machado Coutinho. Desta união resultam vários filhos que compõem esta ilustre geração, modernamente, formada e emancipada, cuja alegria e jovialidade contagia a mocidade local. Por causa do seu falecimento, e, por causa da existência de filhos menores, em 1949, entra um "processo de inventário" no Tribunal Judicial de Caminha, segundo registos do Arquivo Distrital de Viana do Castelo. Quinta agrícola, com boa produção de milho, batatas e suas "40 pipas de vinho", salientava-se em boas colheitas, numa zona de minifúndio. Em Gondarém, da rua de Pepim até ao ancodouro do Cais de Ligo, estende-se, em direção à beira rio, como testemunho e memória, a Avenida Engenheiro Delfim de Sousa Coutinho.
Século XXI
Os atuais proprietários da Quinta da Loureira são Emília Carolina Martins Cadaval de Sousa Coutinho, na figura paterna do Dr. Joaquim Cadaval Queiroz Ribeiro de Sousa Coutinho, casado com D. Áurea Pereira Martins de Sousa Coutinho, que zelam, carinhosamente, pelo património arquitectónico deste "solar". Presentemente, as casas adicionais à Quinta da Loureira, abrem as suas portas ao turismo, nas suas zonas circundantes. (Vide, "Casas da Loureira").
Apêndice
Em 13.12.1869, nasce na freguesia de Santa Eulália, concelho de Seia, na cidade” fria, farta e forte” da Guarda, Gaspar de Queiroz Ribeiro de Almeida Vasconcelos - célebre poeta, talentoso tribuno, deputado e escritor. Deambulou por terras de Espanha por causa do Movimento Monárquico do Norte, sendo deputado da Assembleia Constituinte. Por causa das suas andanças por terras galegas, descobriu em terras de Gondarém, D. Maria Josefa de Sousa Cadaval Novais Ferraz Ribeiro Faria, com quem contraiu matrimónio, inserindo-se na quinta da Loureira, de quem deixou uma filha. Segundo outras fontes passou a sua infância em Ponte de Lima, morou na quinta da Boavista e morreu em Marco de Canavezes, em 17.02.1928.A ele se deve, a restauração do Concelho de Vila Nova de Cerveira em 12 de julho de 1895, apesar de algumas peripécias, que se concretizou definitivamente três anos após, ou seja, em 1898. Destaca-se a grande defesa pela introdução da “Cartilha Maternal” de João de Deus como método do ensino da língua portuguesa nas escolas primárias.
Principais obras publicadas:
Tardes de Primavera - 1889
Cinzas - 1896
Pedras Falsas - 1903
Caminho do Céu - 1906
Folhas Mortas - 1916
Imitação de Cristo - 1925
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