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domingo, 27 de setembro de 2020

EUROPOLITIQUE: Vila Nova de Cerveira: «Terra de encantos e encontros com Hollywood».

Em 1815, o “La Brea Ranch” (O “Rancho La Brea”) começa a ganhar contornos de grande latifúndio, graças à obra de um jovem agricultor, cujo nome é António José da Rocha. Deste modo, torna-se num dos três grandes latifundiários de Porciúncula, que J. J. Warner trata como o seu amigo  - “el portuguese”. Nascido, a 18 de janeiro de 1790, filho de Félix Carlos Rocha e Maria José Lima, natural da freguesia de Santiago de Sopo, concelho de Vila Nova de Cerveira, emigrou para os USA, onde a casa, construída no seu “rancho”, perdura habitável, apesar dos seus 150 anos. (Por coincidência homónima e local, existe um médico militar, nato em 13 de julho de 1861, cujos pais tem nomes diferentes do filho). Na antiga Porciúncula, melhor dito, em Hollyhood, existe uma placa de bronze, no canto de uma parede, que assinala a pertença aos “Da Rocha”, cujo restauro foi efetuado por um dos seus descendentes, em 1979. A casa, considerada património da cidade (1958), afirma-se como de interesse cultural e histórico (1963), e, também, como um “ex libris” da indústria cinematográfica.

 Longe estavam de imaginar, aquelas duas jovens da terra do tio Sam, que o solo de Santiago de Sopo, apesar dos seus pés de dança, tinha sido a origem de um pioneiro de Hollywood. Por acaso, foi por terras de New Jersey, (de onde elas tinham origem), e, por New York, que foram dados os primeiros passos na arte do cinema. Mas, nada se compara ao esplendor de Hollywood, terra mítica do cinema, que naquele tempo, nem nome tinha, reduzida simplesmente, ao pequeno povoado de “Pueblo de Nuestra Señora Reina de Los Angeles do Rio de Porciúncula.

E, longe se estava de imaginar que na “historiografia do cinema português” figurassem as “primeiras divas” e o promissor “galã” do “cinema mudo” dos anos trinta do século XX, com origem lusa, tais como: Luísa Fazenda, Teresa do Carmo, D. Antónia Lozano Guedes Infante, com o nome artístico de Hélène D’Algy, e, seu irmão António Lozano Guedes Infante, conhecido como Tony D’Algy.

Mas, longe estamos, todos nós, que uma simples cabana de uma quinta decadente desse origem ao início do mais esplendoroso cinema, que o mundo conheceu, mais de cem anos passados, após o nascimento de António José da Rocha. Pelo ano de 1909, as modestas instalações agrícolas, alugadas por 75 dólares, deram origem à montagem dos primeiros estúdios de “cinema mudo”, nos seus antigos terrenos.sé Jorge e Conceição. Natural da freguesia de Sampaio de Sopo, concelho de Vila Nova de Cerveira, nasceu a 18 de Janeiro de 1790, sendo  filho de Félix Carlos Rocha e Maria José Lima. Homem dos sete ofícios, muito elogiado na sua comunidade, bom carácter, o seu maior negócio foi a ferraria, (A sua casa, primeira estrutura local de habitação, foi considerada património da cidade em 1958, e, de interesse cultural e histórico em 1963). Nesta altura, o seu proprietário, hábil negociador com índios e vizinhos, já não estava vivo, e, morreu em 24 de janeiro de 1867, com 77 com anos de idade (cf. "Los Angeles Times"). Mas, desde o ano de 1865, que o título de propriedade, com cem hectares tinha sido pedido por José António Rocha II, tendo transitado definitivamente em 11 de novembro de 1872. Após a chegada dos primeiros cineastas, a propriedade foi dividida e vendida em parcelas, várias vezes, e, anexada à cidade pelos anos de 1915.

Longe de imaginar estaria António José da Rocha que teria de conferenciar com os “homens de pele vermelha”, os índios das tribos cherikees e cahuenga. Certamente que, apesar de jovem e como hábil agricultor, o néctar de Baco favoreceu esta concórdia em amigáveis “cachimbos de paz”. Desde o porto de Vigo até às costas do Pacífico, foi nesta região que construiu a sua casa de madeira e adobe, cuja memória se ergue como um dos símbolos de Hollyhood. Todavia, em 1821, a Califórnia estava anexada ao México. O "Rancho La Brea" foi concedido pelo governo mexicano, em 1828, segundo reza um documento do alcaide Jose Antonio Camillo. Entretanto surge a guerra entre os USA e o México, em que este país perde 40% do seu território. Com os acordos de 1853, o governo mexicano intercede em favor da propriedade de António José da Rocha, com a idade de 63 anos. É, a partir de 1870, já, em tempos de Rocha II, que esta zona agrícola se torna florescente, ainda que no “La Brea Ranch” houvesse um lago negro, que brotava da terra, com sinais de petróleo. Em 1886, é graças à resposta de um chinês, “transportador de madeira” - “holly/hood” – que H.J. Whitley batiza este local, tornando-se o “Pai de Hollyhood”. «Esta cidade tem o nome que merece. Vive-se uma vida azul, uma vida suspensa, uma vida clara e pura. O céu fica próximo da terra. Hollyhood é o entroncamento das mil e uma noites»(Cf. António Ferro, "Hollywoodd, Capital das Imagens", Ed. Portugal/Brasil, Lisboa, 1931).

N.B. Os nossos agradecimentos ao jornalista Mário Augusto pelo artigo, que serviu de documento-base deste texto, publicado. na "Revista Expresso", n.º 2.500, de 26 setembro de 2020". 

Obs.(1): «Ele era um homem piedoso, muito querido da comunidade, um homem muito diligente e um dos cidadãos mais respeitáveis e estimados no povoado de Los Angeles, boa pessoa desde o meu primeiro contato com ele em 1831, até ao momento de sua morte» J.J. Warner, in "Livro de Memórias" e continua: «Da Rocha era um empresário que sabia como cultivar amizades, um indivíduo gentil, disponível para ajudar».

Obs (2) «A casa seria posteriormente cedida para acolher a primeira Câmara Municipal de Los Angeles, servindo também como primeira esquadra da polícia». (Cf. Mário Augusto, Revista do Jornal Expresso, Lisboa 2020). 

Obs.(3) O rancho La Brea foi concedido pelo Gov. Echeandia, em 1828, António José da Rocha, um português, que chegou à costa no navio britânico Columbia, em 1815. (J.M. GUINN , “History of the Cahuenga Valley and the Rancho La Brea, pg. 80, California).

Obs (4) (...). Baseou o seu pedido numa concessão feita por Carillo, presidente do ajuntamento, ou, da câmara municipal de Los Angeles, de8 de abril de 1828, de acordo com uma petição feita, por si, em janeiro de 1828. A concessão era de uma "liga quadrada", ou, 4444,4 acres, e, o título foi emitido para que (…)..(SEAMAN, Josephine Florence “A Brief History of Rancho La Brea” in Uniiversity California, 1914).

Obs.(5) A guerra pela independência do México acontece entre  16.09.1810 e 27.0.1821. O seu reconhecimento formal e oficial somente acontece, em 1836, pela Espanha.

Obs.(6)  Em 2016, estimava-se que residiam 1.375.288 cidadãos portugueses e luso-descendentes, nos USA. A imigração portuguesa iniciou-se no século XIX. «O primeiro emigrante documentado é, contudo, António José Rocha. Tripulante de uma escuna inglesa que navega para o Norte, desertou, em 1815, no porto de Monterey…». (Pinho, Helder, “Portugueses na Califórnia", pg.24, Editorial Notícias, Lisboa, 1978)

Obs.(7) Referência ao Da rocha por Amy Wilentz , "La Woman", Los Angeles Times, 20.08.2006.

Obs.(8) "El Portuguese": Don Antonio  Rocha California's first portuguese sailor by David E. Bertão and Eduardo M.Dias, California History, Vol.66 , n.º 3 (sept.1987)  - University of California Press.

Obs.(9) "The Azores to California - The Azorean Portuguese of California", by Robert L.Santos.   

Obs. (10) Tony D'Algy, nome artístico de António Eduardo Lozano Guedes.,nasceu em Luanda. em 1897, e, morreu aos 80 anos, em Lisboa. Surge "comediante e vizinho rico" de António Silva, no “O Leão da Estrela” de Arthur Duarte (1947). Antes, Tony D'Algy esteve em Hollywood, como artista e galâ de cinema. Sua irmã, D. Antónia Lozano Guedes Infante, era famosa e mais conhecida, com Hélène D'Algy, tendo participado em 12 filmes, contracenando com Valentino. A sua última entrevista foi concedida em 1991, em Espanha. O primeiro filme registado deste ator foi um "drama mudo", em Hollyhood  (1924), “ The Rejected Woman”, que tinha Bela Lugosi, como protagonista. E no mesmo ano, D'Algy, num papel secundário, contracenou com Rodolfo Valentino em “Monsieur Beaucaire”. Interpretando personagens secundárias, tipo galã ou “amante latino”, Tony D'Algy foi dirigido por realizadores como William Wellman e John Stahl. O percurso do ator continuou depois pelo cinema francês, italiano e espanhol.


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