No
princípio do seu livro “Mistérios de Lisboa – I”, Camilo Castelo Branco, que
nunca saiu do País, deixa um “olhar do outro”, ou, uma perspetiva daqueles que
nos veem de fora, que, após duas gerações continuará como sendo uma marca ou
estigma de uma geração de portugueses. É, já, nos anos sessenta, com a emigração
portuguesa, a rebentar pelas costuras, que a cidade de Paris atingirá um milhão
de descendentes lusos.
“Para
lá dos Pirenéus, aquilo é África” – slogan repetido por várias classes
gaulesas, evocando-se, por vezes, a tese de Max Weber, entre a capacidade de criação
riqueza pelos protestantes e pelos católicos.
Estes
preconceitos de atraso material e cultural estendiam-se até às terras
germânicas, em que predominava a visão de Portugal, como país atrasado, digamos, do “terceiro
mundo”, na época dos anos de setenta.
Esta imagem de inferioridade cultural é
rebatida por Camilo, quando, escreve, precisamente, sobre a sua capital.
«Enganei-me. É que não conhecia Lisboa, ou não era capaz de calcular
a potência da imaginação de um homem. Cuidei que os horizontes do mundo
fantástico se fechavam nos Pirenéus e que não podia ser-se peninsular e romancista,
que não podia ser-se romancista sem ter nascido Cooper ou Sue. Nunca me contristei
desta persuasão».
As
bidonvilles de Paris não são as quintas de Camilo. Nem a “a potência da
imaginação” bafejou muitos homens. Mas, Camilo antecipa-se nesta perceção
social, apesar da sua recusa sistemática nas ideias gaulesas e da influência de certo galicismo.
N.B. Camilo Castelo Branco morreu um ano após a inauguração da célebre Torre de Paris, na Exposição Universal de 1889, construída por Gustave Eiffel.
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