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sexta-feira, 13 de março de 2020

(3) - Pelos caminhos do Hotel Boega - A "Quinta do Lima" no século XIX.

 O casamento de António Joaquim Fernandes Lima, por azar ou destino, durou pouco tempo, já que a sua consorte faleceu. Entretanto, já D. Rosa Joaquina Pereira Lima, de seu nome de casamento, tinha dado à luz Ana Maria Fernandes de Lima.       A futura herdeira daquela que se chama, presentemente, a “quinta do Outeiral”, era neta dos primeiros donos, cuja avó tinha, também, o mesmo prenome - Ana. Mas, a tradição oral ainda se recorda da "quinta do Lima", em pleno século XX, e, de quem carinhosamente tratava por "Aninhas".


Para calar as dores da sua angústia e sofrimento, o abastado brasileiro decidiu fazer obras de restauro e prolongamento das iniciadas pelo Cónego de Braga, construindo um autêntico promontório - as varandas do paço. Um novo edifício com um salão com nobres e altas arcadas enobrecem a casa do senhor ou dono do paço,  de onde se desvenda a paisagem que se espelha nas suaves águas do rio, emoldurado das suas verdes e viçosas margens, onde duas ilhas refulgem na sua serenidade. Tanto hoje como ontem, as rubras cores dos crepúsculos de Verão, anunciando os seus dias quentes, enfeitiçam aqueles que ousem penetrar na sua contemplação. Outrora, na sua balaustrada reluzia uma menina, uma jovem e inocente princesa que encantaria o novato advogado e político, oriundo da cidade dos arcebispos, cujo nome era Carlos Almeida Braga.


Em pleno século dezoito misturam-se proprietários com caseiros ou feitores de cujas castas e linhagens sobressaiem alguns notáveis. Assim aos vinte e três anos de idade surge nos Arquivos da Torre do Tombo (1779), João Manuel Guerreiro de Amorim Pereira, como bacharel de Coimbra, sendo depois Conselheiro e Ministro da Fazenda, desligando-se da “rica casa de lavoura”, que tinha em Gondarém. Alvitra-se que seus pais seriam João Amorim Pereira e D. Ana Maria Guerreiro. O nascimento deste filho dá-se pelo ano de 1756, ao qual também se juntaria Manuel Caetano Guerreiro de Amorim, chefe das milícias de Cerveira, além do famoso Cónego da Sé de Braga, João Crisóstomo, mas sem confirmação de tal irmandade. Aponta-se que a filiação deste agregado familiar teria três homens e duas mulheres. Por outro lado, as referências a D. João Amorim Pereira apontam para o ano de 1798. Estas datas não se coadunam com a reconstrução da dita Quinta do Outeiral que se presume que aconteça no século XVII.


A nível da tradição popular a "quinta do Cónego" passa a ser conhecida como a "quinta do Lima". Os novos senhores da família Lima investiram o suficiente para a requisição deste nome. Mas, a habilidade jurídica do antigo Cónego da Sé de Braga foi essencial no registo definitivo da propriedade, cuja data de óbito é de 5 de Outubro de 1855.


A antiga burguesia rural tinha, nas suas quintas, a fonte dos seus rendimentos. Nos séculos anteriores à industrialização, que acontece no século XIX, a riqueza agrícola provinha da exploração da natureza, e, também do trabalho dos seus servos. Nos tempos de António Joaquim Fernandes Lima, a actividade agrícola recaía sobre os seus proprietários, que estavam sempre presentes na quinta. Além disso, a sua posição social tinha sido reconhecida nas funções da direção da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Cerveira. Mas, por tradição laboral, desenvolviam-se duas castas ou linhagens de sucessão: os donos ou proprietários e  os caseiros ou feitores, que tratavam das quintas, que se tornavam tão importantes como os seus patrões. A quinta do Lima, essencialmente agrícola, em pleno século XX, virá a sofrer desta dualidade de exploração, por ausência dos seus senhores. A dita "quinta do Outeiral" conserva, através da sua padroeira, o seu nome de Ana, que se reflete na  família Lima.

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