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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

EUROPOLITIQUE: Revisitando PESSOA

Se a linguagem é a expressão da nossa mente pela qual expressamos as nossas crenças, o sujeito cognitivo revela-se através das suas expressões. (Aliás, existem muitas espécies de mente).
Todavia a linguagem é uma roupagem sobre a qual se escondem muito dos nosso trapos, dos nosso hábitos e dos nossos valores.
Aquilo em que acreditamos, seja numa identidade psicológica consciente ou inconsciente, seja numa identidade de conteúdo que expressa a nossa crença revela uma atitude proposicional (pensamento) e representa a nossa mente nas suas várias facetas.
É típico da mentalidade portuguesa esconder-se por trás da linguagem já que dificilmente expressa a realidade, quer nos factos, quer na veracidade das coisas. O duplo sentido da linguagem, traduz esta semântica de “país dos poetas”, que não ousa dirigir-se afitadamente ao crivo da razão. “Ou seja, quando falamos em intencionalidade, fazemos uma distinção entre coisas intrinsecamente intencionais (representações) e coisas intrinsecamente não-intencionais (objectos) que, de algum modo, mantêm relações entre si”. Por isso, ao nível da intencionalidade, e, ao nível da representação, erigi-se um fosso que não traduz, quer aquilo que se pretende dizer, quer aquilo que representa o conceito, como expressão da coisa. Se “o discurso é sempre traição do próprio discurso”, certa habilidade lusa traduz-se na “língua portuguesa é muito traiçoeira”.
Não que a língua seja traiçoeira, mas a sua expressão, a sua linguagem. E, como a linguagem é a expressão da nossa mente, ou se quiser, dos seus fenómenos mentais, para não generalizar, quer dizer que nós próprios somos os seus próprios traidores. “A língua é a minha pátria...”, diz Fernando Pessoa. É o meu objecto, onde me inscrevo como sujeito, mas não é a minha linguagem. A minha linguagem perpassa por várias identidades, por vários heterónimos, onde me procuro encontrar.
 Ó mar salgado
 Quanto do teu sal.....
A dor, o sofrimento, a angústia que me corrói como sujeito, como objecto desta pátria, expande-se na minha linguagem, fruto da minha mente ou dos meus fenómenos mentais. A minha mente doente ou sã, é a expressão da minha linguagem que se alimenta pela veia poética, aquilo que “quero dizer e não dizer”, já que pela palavra me inscrevo nesta língua, não como sujeito, mas como objecto de linguagem.

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