Nem sempre se ouve falar filosoficamente sobre Moçambique, a não ser pelo grande filósofo Peter Singer.
No balancear das suas reflexões,
elas caminham de um patamar inferior para um patamar superior. Se, por um lado
lamenta a extrema pobreza de Moçambique, por outro lado, exalta os progressos
que se vão fazendo.
Ora vejámos:
“Moçambique é um dos países mais
pobres do mundo, e as mulheres correm especialmente o risco de viver na pobreza
extrema”. (pg.127)
Mais tarde conclui:
"Moçambique, que sofreu uma guerra interna durante décadas, é um exemplo de eficácia de ajuda" (pg. 151).
Ainda que o Orçamento Geral do
Estado moçambicana seja financiado a 50% pela ajuda externa, o país reúne
potencialidades extraordinárias. A sua bacia hidrográfica revela-se uma
manancial de energia. Graças aos 300 milhões de dólares americanos, em breve o
Malawi terá alguma energia eléctrica, cujo consumo não ultrapassa os 7%. Além
disso, os corredores de alta tensão dentro do país trarão benefícios extraordinários.
Ladeado pela ávida África do Sul em energia, o seu futuro parece ser promissor.
Na indústria do gaz, Moçambique
necessita de 30 mil milhões de dólares para levar a bom porto a sua exploração,
claro que com a iniciativa privada.
Na indústria do carvão as suas
potencialidades já começam a dar os seus frutos.
Em terrenos propícios para a
agricultura estendem milhões de hectares para serem aproveitados. Mas atenção
que a terra é do Estado, e, as noções de propriedade privada ainda são bastante
ténues.
Peter Singer, na sua luta contra
a pobreza relata o seguinte:
“Na década de 1990, as mulheres
moçambicanas organizaram uma coligação para pôr fim a estas injustiças. (...) A
campanha granjeou apoio em muitos sectores da sociedade e do Governo. Em 2003,
o parlamento nacional aprovou uma nova lei de família, aumentando para os 18
anos a idade legal para casar, permitindo às mulheres chefiar famílias (antes
só um homem podia ser chefe de família) e concedendo às mulheres direitos sobre
a propriedade do casal depois de um ano de vida conjunta num casamento
tradicional”. (pg. 127/8).
A conjugação das “novas formas do
direito” com o “conservadorismo das tradições” (usos e costumes) é um problema
comum a Angola e Moçambique.
A modernização das comunidades implica roturas que nem sempre são bem
assimiladas. Os resquícios destes modo de viver, conjuntamente com a feitiçaria
e o animalismo são, por vezes, um obstáculo ao desenvolvimento humano. O
combate à pobreza não passa somente pela ajuda externa, mas também por “saber
olhar para o outro”, encarar outros valores que não residem unicamente no
aspecto material. A identificação não se faz pela imagem do “branco” como rico,
mas na força e vontade das comunidades humanas. Num mundo louco pela especulação económica-financeira, estende-se um manancial de potencialidades por um lucro justo e de libertação humana!...
Peter Singer, "A Vida que podemos Salvar", Edições Gradiva, 2011.
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